Home Futebol Seleção Brasileira joga mal contra a Colômbia, mas está bem longe de ser a terra arrasada que tanto falam

Seleção Brasileira joga mal contra a Colômbia, mas está bem longe de ser a terra arrasada que tanto falam

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite e a atuação do escrete canarinho contra a equipe de Reinaldo Rueda

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Estava mais do que claro (pelo menos para este que escreve) que a escalação inicial da Seleção Brasileira indicava uma clara insatisfação de Tite com o desempenho da sua equipe na partida contra a Venezuela. É verdade que o empate sem gols contra a Colômbia no Estádio Metropolitano de Barranquilla frustrou todos aqueles que esperavam uma boa atuação do escrete canarinho ou pelo menos algo que justificasse a ótima campanha nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Mas daí a falar em “terra arrasada” e em outros termos impublicáveis soa, no mínimo, leviano e oportunista diante de tudo o que esse time já mostrou nas últimas partidas e de todo o contexto da partida deste domingo (10). Embora a equipe comandada por Tite não tenha sido brilhante, foi possível perceber que o treinador da Seleção Brasileira vem buscando alternativas diferentes para a sequência da competição e caminhos que possam fazer o escrete canarinho evoluir ainda mais.

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As entradas de Fred e Alex Sandro nos lugares de Gerson e Guilherme Arana evidenciavam as preocupações de Tite com relação ao sistema defensivo da Seleção Brasileira. Ainda mais quando já se sabia que a Colômbia contava com nomes de qualidade no ataque como Juan Quintero, Falcao García e Luís Díaz. Ao mesmo tempo, também estava claro que o treinador do escrete canarinho resgatava a formação do início das Eliminatórias da Copa do Mundo para fazer com que sua equipe controlasse as ações no forte calor de Barranquilla e tentasse compensar (pelo menos um pouco) o desgaste físico das viagens. O desenho tático escolhido foi o 4-2-3-1 com Neymar vindo mais por dentro, Fabinho e Fred formando a dupla de volantes, Gabigol no comando de ataque e Gabriel Jesus e Lucas Paquetá pelos lados do campo. O primeiro era quase um ponta pela direita e o segundo buscava mais o jogo por dentro e abria o corredor para os avanços de Lucas Paquetá.

Tite retomou o 4-4-2/4-2-3-1 na Seleção Brasileira com Neymar vindo por dentro, Lucas Paquetá e Gabriel Jesus pelos lados e Gabigol no comando de ataque. Danilo permanecia mais preso na defesa e Alex Sandro tinha liberdade para aparecer no corredor aberto pela esquerda. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A Seleção Brasileira tinha a posse da bola, concedia bem menos espaços do que no jogo contra a Venezuela, mas finalizava muito pouco. E mal. Por mais que Neymar e Lucas Paquetá funcionassem bem juntos no meio-campo, ainda faltava agressividade nos movimentos da equipe no terço final. Também é preciso lembrar que a Colômbia tem muito mais qualidade individual e coletiva do que a Venezuela. E a equipe de Reinaldo Rueda mostrou isso no segundo tempo, quando adiantou as linhas do seu 4-2-3-1 e pressionou a saída de bola da Seleção Brasileira. Tite agiu rápido e mandou Raphinha para o jogo no lugar de Gabigol (deslocando Gabriel Jesus para o comando de ataque). Por mais que o escrete canarinho tenha ganhado força pelo lado direito, a equipe ainda mostrava uma certa hesitação para sair de trás com a bola dominada. Difícil não perceber que os primeiros vinte minutos da segunda etapa foram marcados pelo domínio da Colômbia de Reinaldo Rueda.

Tite mandou Raphinha para o jogo no lugar de Gabigol, manteve seu 4-2-3-1 inicial e viu a Seleção Brasileira ganhar força pelo lado direito. Mesmo assim, os primeiros vinte minutos da segunda etapa foram marcados pelo domínio de uma Colômbia muito mais ligada e concentrada em campo. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Com Antony no lugar de Gabriel Jesus, Tite reorganizou a Seleção Brasileira no 4-2-4 tendo em Neymar e Lucas Paquetá as referências móveis no comando de ataque e a entrada de dois jogadores velozes em diagonal às costas da dupla de zaga colombiana. Nessa formação, Raphinha ganhou mais liberdade para aparecer no ataque saindo da direita para o meio e armando as jogadas em alta velocidade. Difícil não notar que o escrete canarinho mudou completamente de ânimo e de postura com a entrada dos dois jovens atletas. Mesmo assim, o gol não saiu. Seja por intervenções precisas do ótimo goleiro Ospina (foram pelo menos duas defesas de cinema no final da segunda etapa), por excesso de preciosismo no último passe ou pela tarde/noite ruim de Neymar, Lucas Paquetá e companhia. Principalmente do camisa 10, que parecia estar numa rotação completamente diferente dos demais e foi muito pouco produtivo na equipe embora ainda imponha respeito nos adversários.

Com Raphinha e Antony em campo, Tite reorganizou a Seleção Brasileira num 4-2-4/4-4-2 com Neymar e Lucas Paquetá jogando como referências móveis no comando de ataque. O escrete canarinho criou pelo menos duas boas chances, mas esbarrou no goleiro Ospina e nos próprios erros técnicos. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O resultado final e a atuação contra a Colômbia são sim frustrantes. Mas este colunista vai na direção contrária do discurso que prega a “terra arrasada” e lembra que é plenamente possível analisar e criticar o desempenho do escrete canarinho sem raiva ou colocar tudo numa perspectiva ruim. Ficou claro que Tite encontrou um caminho interessante para fazer com que a Seleção Brasileira evolua e alie desempenho e resultado. O 4-2-3-1/4-4-2 com Neymar vindo por dentro, Danilo jogando como lateral-armador junto da dupla de zaga e Alex Sandro mais solto (na costumeira inversão para o 3-2-5) funcionou enquanto a equipe foi veloz na troca de passes e ocupou bem os espaços. Faltou finalizar mais a gol e não colocar tanto preciosismo no terço final. Ao mesmo tempo, as entradas de Antony e Raphinha (e a mudança para o 4-2-4) se tornou opção interessante em situações onde seja necessário abrir mais o campo e dar mais profundidade às jogadas de ataque.

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Mas ficou claro que a Seleção Brasileira precisa de ajustes. Por mais que o 4-2-3-1 inicial tenha se mostrado eficiente para ocupar espaços no primeiro tempo, é preciso ter certeza se Gabigol tem as características que Tite deseja para ser a referência do ataque da sua equipe. Ou se Lucas Paquetá não poderia render mais numa função diferente da que exerceu contra a Colômbia. Ou se Fred realmente é o volante que pisa na área que o treinador do escrete canarinho tanto procura. Ou se realmente chegou o momento de se apostar em Raphinha e Antony e preservar Gabriel Jesus e outros nomes da Seleção Brasileira. Fora isso, a falta que Casemiro faz no meio-campo brasileiro é muito grande. São pontos que merecem reflexão por parte da comissão técnica mas que precisam ser analisados levando-se em conta todo o contexto da partida deste domingo (10). Está claro que Tite encontrou alternativas. Falta é melhorar o desempenho coletivo da equipe.

O discurso de “terra arrasada” e as comparações esdrúxulas ainda vão tomar conta das mesas de debate pelo menos até a partida contra o Uruguai, marcada para a próxima quinta-feira (14), na Arena da Amazônia. Até lá, a tendência é que tudo gire em torno de críticas mais baseadas no gosto pessoal do que em tudo o que realmente aconteceu na partida contra a Colômbia. É plenamente possível criticar a Seleção Brasileira e as escolhas de Tite sem cair nessa armadilha.

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