Home Futebol Precisamos reconhecer que Lionel Scaloni transformou a Argentina numa equipe consistente e muito competitiva

Precisamos reconhecer que Lionel Scaloni transformou a Argentina numa equipe consistente e muito competitiva

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da Albiceleste contra o Chile no jogo disputado nesta quinta-feira (27), em Calama

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que a Argentina é daquelas seleções que sempre fazem parte do grupo dos favoritos ao título da Copa do Mundo. Principalmente depois que Lionel Messi despontou para o futebol e se transformou no principal jogador da Albiceleste. No entanto, a equipe comandada por Lionel Scaloni não se resume ao seu grande craque há bastante tempo e vem mostrando muita consistência e um alto nível de competitividade. A vitória sobre o Chile nesta quinta-feira (27), em Calama, comprova essa tese. Mesmo com vários desfalques por conta da COVID-19, a Argentina conseguiu segurar o ímpeto de “La Roja” e atingiu a marca de 28 partidas de invencibilidade. Esses números ficam ainda mais expressivos quando voltamos aos primeiros dias após a eliminação na Copa de 2018 com a demissão de Jorge Sampaoli e a crise na AFA. Hoje, a Albiceleste tem tudo para fazer um grande Mundial no final do ano.

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A Argentina é hoje a única equipe do continente sul-americano que consegue bater de frente com a Seleção Brasileira por dois motivos. O primeiro deles é a qualidade dos seus jogadores. Ter Messi, Di María, Papu Gómez, De Paul, Paredes, Tagliafico, Lautaro Martínez, Lo Celso e vários ótimos jogadores à disposição é realmente um deleite para que aprecia um futebol de alto nível. E o segundo (e talvez mais importante) é o trabalho desenvolvido por Lionel Scaloni. A Albiceleste pode não fazer partidas brilhantes e de encher os olhos. Mas compete e compete demais. O técnico argentino conseguiu implementar seus conceitos e o grupo parece ter comprado a sua ideia. Prova disso são os últimos resultados.

Para o jogo contra o Chile, Lionel Scaloni apostou num 4-3-3 que trazia Di María e Nicolás González pelos lados, Papu Gómez um pouco mais recuado (mas com liberdade para avançar) e alinhado a De Paul e Paredes protegendo defesa. Já com a vaga garantida na Copa do Mundo do Catar, a Albiceleste recuou um pouco as suas linhas de modo que a equipe pudesse aproveitar os espaços que apareceriam mais à frente. Isso porque o time de Martín Lasarte entrou em campo praticamente num 4-2-4 com Marcelino Núñez bem próximo de Brereton Díaz e com Alexis Sánches e Vargas procurando o jogo mais por dentro a todo momento. Essa postura do escrete chileno acabou facilitando um pouco a vida da Argentina na partida.

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Chile vs Argentina - Football tactics and formations

Formação inicial das duas equipes em Calama. A Argentina apostou num 4-3-3 e em linhas mais baixas e enquanto o Chile tentou ocupar o campo de ataque mais por dentro.

É interessante notar que a Argentina adotava uma postura mais pragmática, mas não baixava tanto as suas linhas assim. Apenas o fazia de modo a permitir que Di María, Lautaro Martínez e Nicolás González tivessem espaço para atacar assim que a posse da bola fosse retomada. Nesse ponto, vemos que Lionel Scaloni adapta sua equipe às características dos jogadores que têm à sua disposição. Com Messi em campo, por exemplo, muito provavelmente veríamos o mesmo 4-3-3, mas com Di María fechando um dos lados para deixar seu camisa 10 com liberdade para distribuir passes ou avançar na direção do gol. O contexto do jogo contra o Chile era bem diferente e o técnico da Albiceleste apostou em pequenas adaptações. Jogando um pouco mais recuado, Papu Gómez foi importantíssimo no balanço defensivo. De Paul também chegava e os laterais Molina e Tagliafico atacaram menos do que o normal.

Lionel Scaloni apostou numa Argentina um pouco mais cautelosa, mas altamente agressiva nas suas transições. Papu Gómez foi importantíssimo nessa estratégia do treinador portenho e Di María se transformou no grande criador de jogadas da equipe com a ausência de Messi. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Os gols marcados por Di María (em belo chute da entrada da área logo aos oito minutos de jogo) e Lautaro Martínez (que aproveitou rebote de Claudio Bravo) são bons exemplos desse volume de jogo que Lionel Scaloni conseguiu tirar da Argentina. Vale destacar aqui também a maneira como o time se espalha no campo quando parte na direção do ataque. A ideia aqui é sempre atacar o espaço às costas da última linha para ganhar profundidade e abrir o campo para explorar os buracos nas defesas adversárias. Não é nenhum exagero afirmar que a Albiceleste é a seleção que possui um dos contra-ataques mais eficazes do futebol mundial talvez apenas abaixo da França e da Itália. Imaginem com Messi em campo.

E tudo isso começa a partir do sistema defensivo. Por mais que ainda existam pequenas perseguições na intermediária com Otamendi, Paredes e De Paul saltando bastante para pressionar o adversário, é comum vermos a Argentina marcando em bloco e compactando bastante as suas linhas. Contra o Chile, foi possível notar que Brereton tinha que recuar a todo momento para que Alexis Sánchis, Marcelino e Vargas pudessem se lançar ao ataque. O problema é que o time chileno usava pouco os lados do campo. Por mais que Aranguiz aparecesse na frente e que Paulo Díaz e Vegas apoiassem bastante, o jogo do escrete de Martín Lasarte ficava mais concentrado no meio. E isso facilitava demais a vida da Argentina.

A equipe do Chile encontrava diversas dificuldades para furar o bloqueio defensivo da Argentina. O jogo ficava mais concentrado por dentro e os lados do campo eram pouco utilizados pela “La Roja”. Isso facilitava demais a vida do escrete comandado por Lionel Scaloni. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

No entanto, é preciso lembrar que não existe equipe ou esquema tático perfeito no futebol. A Argentina, mesmo tendo atingido um alto nível de competitividade, ainda apresenta algumas falhas de marcação e na execução dos movimentos defensivos. O gol marcado por Breteton Díaz, aos 19 minutos do primeiro tempo, nasceu justamente de um cruzamento às costas do lateral Molina vindo do lado direito do ataque do Chile. Assim que Martín Lasarte acertou sua equipe, “La Roja” conseguiu levar ainda mais perigo para a Argentina. Principalmente no segundo tempo, quando D’Ávila explorou bem o espaço às costas de Tagliafico e quando Isla entrou no lugar de Paulo Díaz para dar mais consistência ao setor. Ao mesmo tempo, Brereton tinha espaço para atacar as costas do lateral Molina e criar algumas das principais chances do Chile na partida disputada nesta quinta-feira (27).

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Martín Lasarte deu mais consistência ao Chile no segundo tempo com as entradas de D’Ávila, Isla e Montecinos. O Chile ganhou mais força pelos lados e expôs um dos grandes problemas da Argentina: a marcação às costas dos laterais. Principalmente no lado direito de defesa. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

O placar não mudou mais até o apito final e a Argentina comprovou sua força mais uma vez. Por mais que o escrete comandado por Lionel Scaloni ainda apresente problemas na marcação, precisamos reconhecer que estamos falando de uma seleção de muita tradição e que conseguiu se reinventar após a eliminação na Copa do Mundo da Rússia e a crise na AFA. Por mais que ainda tenha muita coisa para acontecer até o Mundial do Catar, o futebol apresentado pela Albiceleste hoje pode não colocá-la como favorita ao título, mas deixa a certeza de que ela pode causar muitos problemas para as melhores seleções do mundo. A história mostra que não é muito prudente duvidar da Argentina. Ainda mais quando a equipe já ganhou uma consistência considerável e quando já tirou um peso imenso das costas com o título da Copa América em julho de 2021. O time está claramente mais leve e jogando melhor.

A vitória sobre o Chile nos mostra uma Argentina que conseguiu se virar sem Messi e que mostrou boas alternativas táticas. Principalmente no primeiro tempo. Falta ainda o passo seguinte, a subida de patamar final antes do início da Copa do Mundo do Catar. No entanto, este que escreve não se atreve a duvidar da capacidade e qualidade da Albiceleste. Ainda mais diante de todo o trabalho realizado por Lionel Scaloni até aqui. A equipe vem forte para o Mundial. Só não vê quem não quer.

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