Está cada vez mais difícil entender as decisões da diretoria do Grêmio. Não faz sentido nenhum em apostar num treinador que teve uma temporada muito ruim (que terminou com o rebaixamento do clube para a Série B) e demiti-lo depois de míseros quatro jogos. A “desculpa” da vez foram as vaias dirigidas a Vagner Mancini após o empate com o Juventude neste domingo (13) e toda a pressão do “ambiente externo”, de acordo com as palavras do vice-presidente de futebol, Dênis Abrahão em entrevista à Rádio Gaúcha. O escolhido pela mesma diretoria tricolor é um velho conhecido: Roger Machado. Justamente o treinador que montou todo o elenco que seria campeão da Copa do Brasil de 2016 e da Libertadores de 2017 com Renato Gaúcho. E o retorno do ex-jogador do Grêmio ao clube diz muito sobre como os dirigentes vêm tratando o futebol do clube nesses últimos meses.
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É meio difícil enxergar coerência e um planejamento sério na direção tricolor diante de tantas escolhas ruins nesse último ano. E não é nenhum exagero afirmar que a saída de Renato Gaúcho do comando técnico da equipe poucos dias depois de ter renovado seu contrato ainda não foi assimilada pelos dirigentes gremistas. A impressão que fica daqui de fora é a de que tudo o que foi construído desde o próprio Roger Machado em 2015 se desmanchou na menor turbulência e na primeira vez em que todos saíram da “zona de conforto”. Isso porque era Renato quem fazia praticamente tudo nos bastidores. Era o treinador, o vice de futebol, o coordenador técnico, o diretor executivo e muito mais.
Tiago Nunes, Luiz Felipe Scolari e Vagner Mancini comandaram o Grêmio nesses últimos meses. Todos chegaram cercados de expectativa e com a missão de fazer um elenco bastante qualificado jogar como um time. E todos falharam por uma série de fatores que têm origem na falta de respaldo da mesma diretoria que agora aposta em Roger Machado. É possível sim que o Tricolor Gaúcho recupere o bom futebol e faça uma boa Série B. Mas é preciso ter em mente que esse retorno do treinador ao clube esteja muito mais ligado ao apego a memórias afetivas de um passado não tão distante assim do que a um planejamento mais consistente. A forma como Vagner Mancini foi demitido ajuda a comprovar essa tese.
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Está mais do que claro para este que escreve que a diretoria do Grêmio está atirando a esmo até acertar no alvo. E a bola da vez é Roger Machado. É verdade que o treinador mostrou conceitos interessantes no seu início no Tricolor Gaúcho a partir de maio de 2015. Boa movimentação ofensiva, muita fluidez nas trocas de passe e ótimas apresentações coletivas. Como os 5 a 0 em cima do Internacional no Dia dos Pais. Aquele Grêmio se organizava num 4-2-3-1 que tinha Luan como referência móvel no ataque, Maicon se juntando a Douglas na armação das jogadas, Giuliano como “ponta-armador” pela direita e Pedro Rocha abrindo o campo pela esquerda. Mais atrás, Edinho protegia a última linha formada por Rafael Galhardo, Pedro Geromel, Erazo e Marcelo Oliveira. Time bastante coeso nas transições e muito envolvente na circulação de bola. E que conseguiu um resultado histórico.
Nos momentos defensivos, o Grêmio se fechava em duas linhas bem próximas umas das outras com Douglas e Luan um pouco mais avançados do que o restante do time. A ideia aqui era simples. Tirar o espaço do seu adversário para acelerar na direção do gol assim que a posse fosse retomada. Roger Machado deixava o jogo mais “duro” característico dos escretes do Rio Grande do Sul para uma proposta mais técnica e cerebral, por assim dizer. É verdade que aquele mesmo Grêmio começou a ter dificuldades para ser mais objetivo no ataque e para encaixar a marcação nas bolas aéreas no ano seguinte, mas o legado permaneceu no clube. E Renato Gaúcho teve sabedoria suficiente para não interferir nessa filosofia de jogo quando assumiu em 2016. Tinha início aí uma das eras mais vitoriosas do Grêmio. E tudo começou com Roger Machado e a sua proposta de jogo mais baseada na estratégia.
Roger Machado tem contra si a irregularidade apresentada pelas suas equipes depois de um certo tempo e as dificuldades para gerir o elenco. A vinda de Paulo Paixão junto com toda sua comissão técnica visa corrigir esse problema e amenizar um pouco as relação com os “medalhões” do clube. Mas nada disso vai adiantar se a diretoria gremista continuar tratando o futebol do clube do jeito que vem tratando. A aposta da vez está muito mais baseada num desejo de se recuperar os bons resultados da primeira passagem do treinador do que num planejamento mais sério e consistente. E a impressão de que os dirigentes seguem atirando para tudo que é lado segue bem forte. Mais do que nunca, Roger Machado vai precisar entregar bons resultados o mais rápido possível para encontrar um pouco de paz e tranquilidade para trabalhar um elenco que pode entregar muito dentro de campo.
A maneira como Vagner Mancini foi demitido diz muito sobre como a diretoria do Grêmio vem trabalhando. A convicção dos mandatários está quase que completamente baseada nas vitórias e nos resultados e isso pode ser fatal para Roger Machado e qualquer outro treinador que venha a aparecer por lá nos próximos meses. Tudo porque nenhum deles terá o tempo e a paciência necessária para se trabalhar conceitos táticos com o elenco gremista. A sensação é que a diretoria corre atrás do próprio rabo sem se dar conta disso.