Home Futebol Retorno de Roger Machado ao Grêmio é muito mais apego à memória afetiva do que fruto de um planejamento sério

Retorno de Roger Machado ao Grêmio é muito mais apego à memória afetiva do que fruto de um planejamento sério

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a demissão de Vagner Mancini e a volta do ex-lateral ao comando técnico do Tricolor Gaúcho

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Está cada vez mais difícil entender as decisões da diretoria do Grêmio. Não faz sentido nenhum em apostar num treinador que teve uma temporada muito ruim (que terminou com o rebaixamento do clube para a Série B) e demiti-lo depois de míseros quatro jogos. A “desculpa” da vez foram as vaias dirigidas a Vagner Mancini após o empate com o Juventude neste domingo (13) e toda a pressão do “ambiente externo”, de acordo com as palavras do vice-presidente de futebol, Dênis Abrahão em entrevista à Rádio Gaúcha. O escolhido pela mesma diretoria tricolor é um velho conhecido: Roger Machado. Justamente o treinador que montou todo o elenco que seria campeão da Copa do Brasil de 2016 e da Libertadores de 2017 com Renato Gaúcho. E o retorno do ex-jogador do Grêmio ao clube diz muito sobre como os dirigentes vêm tratando o futebol do clube nesses últimos meses.

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É meio difícil enxergar coerência e um planejamento sério na direção tricolor diante de tantas escolhas ruins nesse último ano. E não é nenhum exagero afirmar que a saída de Renato Gaúcho do comando técnico da equipe poucos dias depois de ter renovado seu contrato ainda não foi assimilada pelos dirigentes gremistas. A impressão que fica daqui de fora é a de que tudo o que foi construído desde o próprio Roger Machado em 2015 se desmanchou na menor turbulência e na primeira vez em que todos saíram da “zona de conforto”. Isso porque era Renato quem fazia praticamente tudo nos bastidores. Era o treinador, o vice de futebol, o coordenador técnico, o diretor executivo e muito mais.

Tiago Nunes, Luiz Felipe Scolari e Vagner Mancini comandaram o Grêmio nesses últimos meses. Todos chegaram cercados de expectativa e com a missão de fazer um elenco bastante qualificado jogar como um time. E todos falharam por uma série de fatores que têm origem na falta de respaldo da mesma diretoria que agora aposta em Roger Machado. É possível sim que o Tricolor Gaúcho recupere o bom futebol e faça uma boa Série B. Mas é preciso ter em mente que esse retorno do treinador ao clube esteja muito mais ligado ao apego a memórias afetivas de um passado não tão distante assim do que a um planejamento mais consistente. A forma como Vagner Mancini foi demitido ajuda a comprovar essa tese.

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Está mais do que claro para este que escreve que a diretoria do Grêmio está atirando a esmo até acertar no alvo. E a bola da vez é Roger Machado. É verdade que o treinador mostrou conceitos interessantes no seu início no Tricolor Gaúcho a partir de maio de 2015. Boa movimentação ofensiva, muita fluidez nas trocas de passe e ótimas apresentações coletivas. Como os 5 a 0 em cima do Internacional no Dia dos Pais. Aquele Grêmio se organizava num 4-2-3-1 que tinha Luan como referência móvel no ataque, Maicon se juntando a Douglas na armação das jogadas, Giuliano como “ponta-armador” pela direita e Pedro Rocha abrindo o campo pela esquerda. Mais atrás, Edinho protegia a última linha formada por Rafael Galhardo, Pedro Geromel, Erazo e Marcelo Oliveira. Time bastante coeso nas transições e muito envolvente na circulação de bola. E que conseguiu um resultado histórico.

Maicon armava as jogadas, Douglas e Giuliano ajudavam na criação, Pedro Rocha abria o campo pela esquerda, Edinho protegia a zaga e Rafael Galhardo e Marcelo Oliveira apareciam por dentro. O Grêmio de Roger Machado tinha uma “cara” muito bem definida. Foto: Reprodução / SPORTV

Nos momentos defensivos, o Grêmio se fechava em duas linhas bem próximas umas das outras com Douglas e Luan um pouco mais avançados do que o restante do time. A ideia aqui era simples. Tirar o espaço do seu adversário para acelerar na direção do gol assim que a posse fosse retomada. Roger Machado deixava o jogo mais “duro” característico dos escretes do Rio Grande do Sul para uma proposta mais técnica e cerebral, por assim dizer. É verdade que aquele mesmo Grêmio começou a ter dificuldades para ser mais objetivo no ataque e para encaixar a marcação nas bolas aéreas no ano seguinte, mas o legado permaneceu no clube. E Renato Gaúcho teve sabedoria suficiente para não interferir nessa filosofia de jogo quando assumiu em 2016. Tinha início aí uma das eras mais vitoriosas do Grêmio. E tudo começou com Roger Machado e a sua proposta de jogo mais baseada na estratégia.

Linhas compactadas, jogadores atentos no setor onde está a bola e muita concentração para retomar a posse e acelerar na direção do gol adversário. O Grêmio de Roger Machado tinha características bem diferentes do jogo mais “duro” característico do Sul do país. Foto: Reprodução / SPORTV

Roger Machado tem contra si a irregularidade apresentada pelas suas equipes depois de um certo tempo e as dificuldades para gerir o elenco. A vinda de Paulo Paixão junto com toda sua comissão técnica visa corrigir esse problema e amenizar um pouco as relação com os “medalhões” do clube. Mas nada disso vai adiantar se a diretoria gremista continuar tratando o futebol do clube do jeito que vem tratando. A aposta da vez está muito mais baseada num desejo de se recuperar os bons resultados da primeira passagem do treinador do que num planejamento mais sério e consistente. E a impressão de que os dirigentes seguem atirando para tudo que é lado segue bem forte. Mais do que nunca, Roger Machado vai precisar entregar bons resultados o mais rápido possível para encontrar um pouco de paz e tranquilidade para trabalhar um elenco que pode entregar muito dentro de campo.

A maneira como Vagner Mancini foi demitido diz muito sobre como a diretoria do Grêmio vem trabalhando. A convicção dos mandatários está quase que completamente baseada nas vitórias e nos resultados e isso pode ser fatal para Roger Machado e qualquer outro treinador que venha a aparecer por lá nos próximos meses. Tudo porque nenhum deles terá o tempo e a paciência necessária para se trabalhar conceitos táticos com o elenco gremista. A sensação é que a diretoria corre atrás do próprio rabo sem se dar conta disso.

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