Home Futebol Movimentação, intensidade e persistência foram os trunfos das Sereias da Vila na virada sobre o São Paulo

Movimentação, intensidade e persistência foram os trunfos das Sereias da Vila na virada sobre o São Paulo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação das equipes de Tatiele Silveira e Lucas Piccinato no clássico deste sábado (14)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É preciso dizer que as Sereias da Vila fizeram por merecer a vitória em cima do São Paulo desde o início do clássico disputado neste sábado (14) e válido pela nona rodada do Brasileirão Feminino. Isso porque o Santos de Tatiele Silveira pressionou seu adversário, jogou com intensidade e não se deixou abater pelos obstáculos que iam surgindo na Vila Belmiro. Além disso, a virada foi construída muito mais em cima dos méritos de Cristiane, Fernanda, Thaisinha e companhia do que em cima dos erros coletivos do escrete de Lucas Piccinato. Tudo porque as Sereias da Vila executaram muito bem o plano de jogo da sua treinadora, buscaram o ataque o tempo todo e contaram com um elemento extra: a resiliência. Essa palavrinha mágica diz muito sobre o que eu e você vimos na Vila Belmiro neste sábado (14).

De acordo com o nosso querido e amado dicionário, resiliência nada mais é do que a capacidade de um indivíduo em lidar com problemas, adaptar-se às mudanças e resistir à pressão de situações adversas. As Sereias da Vila seguiram essa cartilha à risca na execução de todos os movimentos do 4-4-2/4-2-4 proposto por Tatiele Silveira. Intensidade máxima nas transições, muita movimentação por parte do quarteto ofensivo e apoio constante das laterais Bruninha e Stabile. Tudo para conter o 4-4-2/3-4-3 de Lucas Piccinato. O técnico do São Paulo apostou novamente em Fê Palermo como lateral-base pela direita e soltou Dani para se transformar em ala pelo outro lado. Mais à frente Shashá, Micaelly, Naná e Rafa Travalão recebiam o suporte de Maressa e Yaya nas tramas ofensivas mais por dentro.

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Formação incial das duas equipes na Vila Belmiro. Tatiele Silveira manteve seu 4-4-2 com muita presença no campo de ataque. Lucas Piccinato, por sua vez, manteve Fê Palermo como lateral-base e soltou Naná e Dani como alas.

É interessante notar que o plano de Tatiele Silveira estava claro desde o início de partida. As Sereias da Vila avançavam as suas linhas e isolavam as volantes Maressa e Yaya do trio defensivo do São Paulo. Por mais que Fê Palermo, Pardal e Thaís Regina tenham qualidade no passe, a falta de opções de passe faziam com que elas tivessem que rifar a bola em determinados momentos do jogo. No entanto, o Santos também tinha seus problemas defensivos. Principalmente no que se refere ao famoso ato de “correr para trás”. Nas poucas vezes em que o escrete comandado por Lucas Piccinato conseguiu sair da pressão que o Santos fazia, Rafa Travalão, Micaelly e companhia encontravam espaços generosos na frente da zaga das Sereias da Vila. E isso sobrecarregava as volantes Laura Valverde e Brena.

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Mesmo assim, o time de Tatiele Silveira era superior na partida. Principalmente pela movimentação de Thaisina e Ketlen pelos lados, Cristiane no comando de ataque e Fernanda vindo mais por dentro e se movimentando por toda a intermediária. Mais atrás, Bruninha chegava um pouco mais por dentro e Stabile abria o campo pela esquerda para fazer com que as Sereias da Vila atacassem com até sete jogadoras. Esse volume ofensivo só não se transformou em gols no primeiro tempo porque a goleira Carla Maria salvou o São Paulo com duas boas defesas. O gol de Fê Palermo não deixou de ser um castigo por causa das chances desperdiçadas e pelos erros nas tomadas de decisão. Por outro lado, era através dessa movimentação do quarteto ofensivo que o Santos conseguia manipular os espaços no ataque.

As Sereias da Vila colocaram muita movimentação com a bola e muita intensidade na pressão pós-perda. Ketlen e Thaisinha ficavam mais pelos lados, Fernanda vinha por dentro e Cristiane arrastava a zaga do São Paulo. Foto: Reprodução / BAND

Apesar da desvantagem no placar e do cenário mais favorável ao São Paulo (que ganharam mais espaço para contra-atacar), as Sereias da Vila mantiveram o plano e seguiram pressionando a saída de bola e acelerando bastante nas transições. O empate veio na metade do segundo tempo com Cristiane aproveitando cochilo de todo o sistema defensivo adversário. Thaisinha e Fernanda quase balançaram as redes antes que Júlia Daltoé aproveitasse falha de Carla Maria no último lance do jogo. Embora muitos tenham se debruçado sobre o erro da goleira tricolor, este que escreve chama a atenção para o início do lance, onde todo o time do Santos teve espaço de sobra para carregar a bola sem ser incomodado pelas adversárias. Os espaços no 4-4-2 de Lucas Piccinato e a marcação frouxa são facilmente perceptíveis.

Júlia Daltoé passa para Brena (no destaque) e aparece no espaço vazio para carregar a bola e marcar o gol da virada. As Sereias da Vila aproveitaram muito bem a falta de compactação entre as linhas do time do São Paulo. Foto: Reprodução / BAND

Saber se adaptar às adversidade, buscar a solução para cada situação e se manter fiel ao plano de jogo foram os grandes trunfos das Sereias da Vila diante de um São Paulo que também veio a campo com uma proposta clara. Se Tatiele Silveira saiu vencedora no duelo tático com Lucas Piccinato, muito se deve ao fato das suas jogadoras terem executado melhor tudo aquilo que foi combinado nas preleções antes da bola rolar na Vila Belmiro. Não é difícil concluir que o Santos foi muito feliz na manipulação dos espaços na última linha de defesa tricolor e ainda conseguiu colocar intensidade em todas as transições (ainda que tenha feito suas volantes sofrerem para conter o espaço na frente da dupla de zaga). Não foi uma atuação perfeita, é verdade. Mas ela merece sim nossos aplausos.

Principalmente pelo gol no último lance da partida deste sábado (14). A resiliência mencionada no título e no primeiro parágrafo desta humilde análise tática tem muito a com isso. Entender o cenário e se adaptar a ele é primordial no futebol de alto rendimento. E as Sereias da Vila provaram essa tese diante de um São Paulo forte e que criou muitas dificuldades. É o tipo de vitória que dá confiança para a sequência do Brasileirão Feminino e que permite até sonhar mais alto na competição.

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