Home Futebol Villarreal 2 x 3 Liverpool: entre a tragédia e a vaga na final

Villarreal 2 x 3 Liverpool: entre a tragédia e a vaga na final

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Jürgen Klopp e Unai Emery no jogo disputado nesta terça-feira (3)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É preciso dizer que o Villarreal fez este que escreve e quase todos que viam o jogo no El Madrigal acreditarem que era possível sim alcançar o “milagre” diante de uma das melhores equipes do mundo. Acabou que a alegria dos torcedores e o volume de jogo do Submarino Amarelo não foram suficientes para superar o Liverpool e garantir uma vaga na final da Liga dos Campeões da UEFA. Há quem fale em tradição, em “peso” da camisa e em vivência numa das competições interclubes mais importantes do planeta. Mas o que garantiu a equipe de Jürgen Klopp foi realmente a excelência do seu jogo e a qualidade de um elenco acostumado a vencer. Mesmo assim, os Reds flertaram com o perigo e num primeiro tempo sonolento. Estava claro que Unai Emery tinha um plano. Mas ele acabou não sendo suficiente para a concessão do “milagre”.

Esse plano consistia em anular as principais peças criativas do Liverpool de Jürgen Klopp e aplicar intensidade e concentração máxima em cada disputa de bola no El Madrigal. Por mais que a qualidade do adversário fosse muito grande, o Villarreal tinha no apoio da sua fanática torcida e na aplicação tática dos comandados de Unai Emery a saída para conseguir a graça da classificação para a tão sonhada final da Champions League dentro de seus domínios. Ainda mais sabendo que os Reds tinham uma vantagem grande no confronto por conta do duelo de ida realizado na semana passada, em Anfield Road. E para atingir esses objetivos (quase impossíveis), não havia outro caminho senão seguir o plano de seu treinador à risca.

O primeiro tempo do jogo desta terça-feira (3) nos apresentou um Villarreal intenso, altamente concentrado e aplicado taticamente. Isso porque Unai Emery entendeu que precisava quebrar as linhas de passe do meio-campo adversário e vigiar aqueles que faziam a bola chegar em Mané, Salah e Diogo Jota. Não foi por acaso que Lo Celso, Parejo, Capoue e Coquelin a todo momento saltavam para a pressão em cima de Fabinho e Thiago Alcântara, justamente as “cabeças pensantes” do Liverpool. Linhas próximas umas das outras, diminuição do espaço de circulação do trio ofensivo dos Reds e muita atenção para aproveitar cada piscada de olhos do seu forte adversário e acionar Gerard Moreno e Boulaye Dia nos contra-ataques em velocidade.

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Não é exagero nenhum falar que o time comandado por Jürgen Klopp flertou com a “tragédia” no primeiro tempo. Isso porque ninguém esperava uma pressão tão forte do Villarreal logo no começo da partida do El Madrigal. A jogada do primeiro gol da partida (marcado por Boulaye Dia logo aos dois minutos) é o resumo perfeito da postura agressiva do Submarino Amarelo e da falta de atenção do Liverpool em todos os aspectos. Embora o 4-3-3 preferido de Jürgen Klopp estivesse bem organizado na frente da área do goleiro Alisson, ninguém acompanha o volante Capoue às costas da última linha de defesa dos Reds. O cruzamento de Estupiñán encontra o camisa 6 livre na pequena área e este apenas escora o cruzamento para Dia estufar as redes. Um lado buscava com o “milagre” e o outro (completamente irreconhecível) tentava se acertar em campo.

Ninguém acompanha o volante Capoue na jogada que originou o primeiro gol do Villarreal. Embora organizado no 4-3-3 preferido de Jürgen Klopp, o Liverpool jogava bem abaixo do que podia jogar. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports Brasil

As melhores chances do Liverpool no primeiro tempo vieram num chute de Thiago Alcântara que acertou o travessão e numa chegada de Diogo Jota interceptada pelo experiente zagueiro Albiol. Muito pouco para um time que buscava a sua décima decisão de Liga dos Campeões. O Villarreal seguia assustando com suas investidas e conseguiu deixar seu adversário completamente atordoado quando marcou o segundo gol aos 40 minutos com Coquelin completando cruzamento milimétrico de Capoue. E a certeza de que o time de Jürgen Klopp sofria muito mais do que o normal estava nos números da partida. Além dos 50% de posse de bola para cada lado (dados do SofaScore), o Villarreal finalizou mais vezes (cinco contra duas dos Reds) e trocaram mais passes (199 contra 197 do Liverpool). Fora toda a vibração e intensidade colocada em cada lance.

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Só que o intervalo foi determinante para que Jürgen Klopp corrigisse os problemas da sua equipe. A entrada de Luis Díaz no lugar de Diogo Jota também se mostraria fundamental para que o escrete inglês pudesse desarrumar a defesa do Villarreal. Alexander-Arnold e o já mencionado Luis Díaz desperdiçaram boas oportunidades antes de Fabinho marcar o primeiro gol do Liverpool na partida. O camisa 3 arrancou do meio-campo, tabelou com Salah e contou com a falha do goleiro Rulli no lance. Mas é interessante notar que o time comandado por Unai Emery já encontrava dificuldades enormespara conter o volume de jogo insano colocado pelos Reds nesse início de segundo tempo. E o gol que acabou com a confiança do Submarino Amarelo surgiu na primeira vez em que o time vacilou na cobertura defensiva. Principalmente Capoue e Coquelin.

Fabinho arranca tabela com Salah, ataca o espaço entre Pau Torres e Estupiñan e finaliza no meio das pernas de Rulli. O primeiro gol do Liverpool surgiu num dos primeiros vacilos defensivos do Villarreal. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports Brasil

Os gols de Luis Díaz e Mané foram consequência daquilo que se viu no segundo tempo. O Liverpool se impôs na base da intensidade e da aplicação tática e fez valer a sua altíssima qualidade para superar um adversário valoroso e que vendeu caro a vaga na decisão da Champions League. Mesmo assim, a postura dos comandados de Jürgen Klopp no primeiro tempo não deixa de ser um “flerte com a tragédia” e um aviso para os próximos dias. Tivesse o Villarreal um pouco mais de qualidade e vivência na competição (isso conta demais), as coisas poderiam ter ficado realmente complicadas para Salah, Fabinho, Mané e companhia. A entrada de Luis Díaz deu a movimentação e a mobilidade que faltou no primeiro tempo. Por mais que a “lógica” tenha se feito presente no El Madrigal, é bom abrir o olho. Nem sempre a camisa ganha.

Entre o flerte com a tragédia e o “milagre” que não aconteceu, o Liverpool conseguiu se classificar para a sua décima final de Liga dos Campeões da UEFA. A terceira sob o comando de Jürgen Klopp. Ver os Reds chegando forte em todas as competições virou uma doce rotina desde que o alemão assumiu a equipe no ano de 2015. Poucos treinadores conseguiram tanto em tão pouco tempo. E isso só valoriza ainda mais o trabalho de Klopp numa dos melhores times do mundo. Mesmo quando as atuações não são das melhores.