Em meio a uma série de pressões, o ex-piloto Michael Andretti rema contra a maré em busca de uma vaga para a sua equipe no mundial de Fórmula 1. Filho do campeão Mario Andretti, o norte-americano sofre com o boicote da concorrência, que não é nada favorável ao ingresso de sua equipe na categoria.
Esse não é o primeiro contato de Michael com a Fórmula 1. O ex-piloto conseguiu grande destaque na Fórmula Indy, ao conquistar o título da categoria em 1991. No ano seguinte, Andretti contabilizou um vice-campeonato e chamou a atenção da McLaren. O piloto e a equipe assinaram um contrato de parceria para a temporada de 1993.
Na ocasião, o time de Woking era uma das grandes potências do circo e tinha como piloto titular o brasileiro Ayrton Senna, que faria uma de suas melhores temporadas naquele ano. O saudoso tricampeão venceu no Brasil e brigou pelo título contra o rival Alain Prost, que pilotava a tecnológica Williams com suspensão ativa.
Michael Andretti tinha 30 anos e contava com o sobrenome do pai, o campeão Mario, que conquistou o título de 1978 da Fórmula 1. Tudo indicava que a temporada poderia render bons frutos para os Estados Unidos, que sofria com a escassez de pilotos no automobilismo europeu. Antes de Andretti, o último norte-americano a se aventurar no circo da Fórmula 1 foi Eddie Cheever, que deixou a categoria como piloto da Arrows em 1989.
Apesar da grande expectativa, a passagem de Michael Andretti pela Fórmula 1 foi um verdadeiro tormento para o piloto. A má impressão fechou as portas do circo para norte-americanos, que ficaram mais de uma década sem um representante. O primeiro yankee após Michael Andretti foi Scott Speed, que não obteve sucesso na Toro Rosso nos anos de 2006 e 2007.
O contato com a McLaren
A McLaren tinha interesse na ascensão do automobilismo norte-americano, que crescia naquela época com a popularização da Fórmula Indy e com as 500 Milhas de Indianápolis. Atualmente, o time disputa a principal categoria de monopostos dos Estados Unidos e o seu primeiro passo para a “americanização” foi justamente com dois pilotos que estavam em alta na Indy: Al Unser Junior e Michael Andretti.
O primeiro foi analisado após um um teste com a Williams e o segundo manteve um contato maior com a equipe. Michael Andretti andou pela primeira vez em um Fórmula 1 em 1991, em um teste no circuito de Estoril, em Portugal. Na ocasião, o norte-americano pilotou a McLaren MP4-5B, que deu o bicampeonato a Ayrton Senna. Andretti deixou boa impressão, porém Ron Dennis optou por renovar o contrato com a dupla Senna e Berger.
Em uma entrevista ao site Racer, o norte-americano revelou que assinou um contrato com a Ferrari para 1992. Andretti era o atual campeão da F-Indy e de acordo com o ex-piloto, Carl Haas, da equipe Newman-Haas, não conseguiu a sua liberação para correr pelo time de Maranello. Naquele ano, a Ferrari contou com a dupla Jean Alesi e Ivan Capelli.
Com um contrato válido para mais uma temporada, Michael Andretti começou a negociar com a McLaren e chegou como vice-campeão da Indy no final de 1992. Enquanto o norte-americano poderia ser uma esperança para a equipe, a McLaren vivia um momento complicado. O modelo MP4-7 foi problemático e contribuiu para encerrar a parceria com a Honda.
Por outro lado, o time de Woking encontrava obstáculos com o grande avanço tecnológico da Williams, que era a equipe a ser batida. Os carros contavam com câmbio automático, acelerador por sensor eletrônico, embreagem automatizada, controle de tração e suspensão ativa.
A McLaren tentou negociar parcerias com a Renault, porém sem sucesso. O chefão Ron Dennis também cogitou comprar a equipe Ligier, que contava com os propulsores franceses, o que estreitaria laços da equipe com a fábrica. A medida arriscada acabou sendo descartada.
Para agravar a situação, Ayrton Senna e Gerhard Berger também ficaram sem contrato para a temporada de 1993. Dessa forma, Michael Andretti passou a ser uma alternativa viável e o anúncio da contratação ocorreu no Grande Prêmio da Itália, quando Gerhard Berger fechou contrato com a Ferrari.
Outro fator relevante era o contato de Ayrton Senna com a Williams. O brasileiro chegou a se oferecer para correr de graça para a equipe, porém o acordo foi recusado por Alain Prost, que contava com o apoio da Renault. Com a incerteza de Senna, Ron Dennis fechou um contrato com o finlandês Mika Hakkinen, ex-piloto da Lotus.
O novo MP4-8 foi lançado em janeiro de 1993 em Silverstone, na Inglaterra. Na ocasião existiam dúvidas sobre a permanência de Senna e a equipe apresentou Michael Andretti e Mika Hakkinen como seus pilotos para a temporada.
Preocupado com os resultados, Ron Dennis ofereceu um contrato diferente para Ayrton, onde a McLaren pagaria US$ 1 milhão por corrida. Dessa forma estava formada uma dupla de peso, um tricampeão da Fórmula 1 e um campeão da Fórmula Indy. Mika Hakkinen passou a ser o piloto de testes.
Fracasso na pista
Ron Dennis fechou um contrato com motores Ford, para a temporada de 1993. O equipamento oferecido para a dupla Andretti e Senna era de segunda linha, diferente dos Fords adotados pela Benetton, que seguiam com novas evoluções.
Apesar da instabilidade referente ao carro, Michael Andretti chegou ao circo como um dos principais fenômenos do automobilismo norte-americano. Essa questão foi decisiva para a carreira do piloto, que não conhecia os traçados dos circuitos de Fórmula 1.
Na primeira etapa, que foi realizada na África do Sul, Michael Andretti ficou três segundos atrás de Ayrton Senna na classificação. Na corrida encontrou problemas com a embreagem e ao retornar três voltas atrás abandonou após uma batida.
No GP do Brasil, segunda prova do calendário, Andretti se chocou com Gerhard Berger na largada em um forte acidente, onde a McLaren e a Ferrari colidiram na barreira de pneus.
Os abandonos continuavam nas etapas seguinte: Em Donnington Park, o norte-americano colidiu com Karl Wendlinger e em Ímola, o piloto rodou na volta 32 e abandonou a corrida quando estava em quarto lugar.
Michael Andretti conseguiu terminar a sua primeira prova na Espanha, onde conquistou um quinto lugar. O comparativo entre Ayrton Senna e o norte-americano gerava uma incerteza para Ron Dennis, que contava basicamente com um único piloto capaz de pontuar regularmente ao longo da temporada.
Com números ruins, a McLaren optou por substituir Michael Andretti por Mika Hakkinen, no Grande Prêmio da Bélgica. A intenção da equipe era que o finlandês assumisse o segundo posto no restante da temporada. Entretanto, Mario Andretti procurou Ron Dennis e solicitou a participação do filho no GP da Itália, devido a raiz familiar. Michael encerrou a sua carreira na Fórmula 1 com o terceiro lugar, no tradicional autódromo de Monza.
Sem uma renovação no automobilismo europeu, o norte-americano retornou para a Fórmula Indy e assinou um contrato com a Chip Ganassi em 1994. O piloto correu até a primeira década dos anos 2000.
Atualmente, Michael Andretti possui uma equipe de Fórmula Indy e ainda mantém vínculos com a McLaren. O ex-piloto prestou assessoria para a equipe, que hoje conta com um time no automobilismo norte-americano. Vale destacar também o piloto Colton Herta, da Andretti Racing, que testou uma McLaren nesse ano.

