Home Futebol Frieza e poder de reação foram os trunfos da Seleção Brasileira contra a Espanha

Frieza e poder de reação foram os trunfos da Seleção Brasileira contra a Espanha

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Dorival Júnior e a atuação do Brasil no amistoso desta terça-feira (26)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Frieza e poder de reação foram os trunfos da Seleção Brasileira contra a Espanha

Vinícius Júnior tenta se livrar da marcação no empate em três a três contra a Espanha (Rafael Ribeiro / CBF)

Precisamos reconhecer que a seleção brasileira fechou a Data FIFA de março com um saldo extremamente positivo. Primeiro, por conta da vitória sobre a Inglaterra em Wembley. Depois, pela capacidade de reação em um jogo extremamente complicado (e com uma arbitragem pra lá de polêmica) diante da Espanha de Luis de la Fuente.

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É verdade que o Brasil não teve uma boa atuação nesta terça-feira (26) e o próprio Dorival Júnior levantou essa bola na entrevista coletiva no Santiago Bernabéu. Faltou mais força na marcação (principalmente no primeiro tempo) e uma postura mais ativa e assertiva diante de um adversário que conseguiu travar as principais saídas da equipe. Por outro lado, o poder de reação e a frieza da camisa canarinho nos momentos decisivos merecem destaque.

Parece pouca coisa, mas o saldo dessa Data FIFA de março é bastante positivo, ainda mais se considerarmos o fato de a seleção brasileira ter chegado à Europa cercada de desconfiança e com três derrotas seguidas na bagagem.

Primeiro tempo confuso e domínio completo da Espanha

Visando dar sequência e entrosamento para a seleção brasileira, Dorival Júnior manteve a mesma formação que iniciou a partida contra a Inglaterra. No entanto, a equipe encontrou diversas dificuldades diante do esquema tático de Luis de la Fuente.

A marcação esteve frouxa e o ataque sentia demais a falta de uma referência. Rodrygo baixava demais em alguns momentos e não tinha com quem trabalhar a bola, já que Paquetá também esteve bem vigiado por Rodri e Fabián Ruiz.

Formações iniciais de Brasil e Espanha.
A seleção brasileira sentiu demais a falta de uma referência no ataque. A Espanha não encontrou problemas para encaixar a marcação. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Acabou que o Brasil se transformou em presa fácil para uma Espanha disposta a colocar a intensidade do jogo na estratosfera. Luis de la Fuente apostou num 4-3-3/4-4-2 com Dani Olmo aparecendo para criar as jogadas e buscando as costas da defesa brasileira em diversos momentos. João Gomes e Bruno Guimarães pareciam sempre estar dois passos atrás dos adversários.

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Mas o grande diferencial de “La Roja” estava nas pontas. Se Nico Williams incomodava Danilo e Raphinha pela esquerda, Lamine Yamal quase levou Wendell, João Gomes e Beraldo à loucura. Quase todas as jogadas da Espanha passavam por ele. O jogador de 16 anos foi importante para abrir espaços e também na troca de posições com Dani Olmo (como no lance do segundo gol espanhol).

Início do lance do segundo gol da Espanha.
Com a postura mais passiva na marcação, o Brasil sofreu para conter o ataque da Espanha. Lamine Yamal e Dani Olmo incomodaram bastante. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O estrago só não foi maior porque o goleiro Unai Simón deu uma verdadeira “assistência” para Rodrygo no primeiro gol da seleção brasileira. Mesmo assim, o panorama da primeira etapa exigia mudanças e ajustes na marcação. Seja pelo cansaço ou pela intensidade colocada pela Espanha, fato é que o Brasil jogava duas rotações abaixo do seu adversário. E nem mesmo a arbitragem medonha do português Antonio Nobre e a inexplicável ausência do VAR escondiam isso.

Seleção brasileira melhora com as mudanças de Dorival

O Brasil voltou do intervalo com quatro mudanças. Danilo, Bruno Guimarães, João Gomes e Raphinha saíram para as entradas de Yan Couto, André, Andreas Pereira e Endrick. A equipe melhorou a marcação no meio-campo jogando num 4-1-4-1 mais nítido com Vinícius Júnior e Rodrygo nas pontas e Lucas Paquetá um pouco mais recuado. O gol de empate (marcado pelo iluminado Endrick) logo aos quatro minutos mostrava que a seleção brasileira ainda estava no jogo.

Formação da Seleção Brasileira no segundo tempo.
Yan Couto, André, Andreas Pereira e Endrick entraram e a seleção brasileira passou a jogar num 4-1-4-1. O desempenho melhorou bastante. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mesmo assim, a seleção brasileira ainda encontrava muitas dificuldades para fechar a entrada da área (ponto forte contra a Inglaterra). Para a nossa sorte, a Espanha falhava demais nas finalizações e ia consagrando o goleiro Bento (um dos melhores nessa Data-FIFA). No entanto, Rodri desempatou em mais uma penalidade NO MÍNIMO discutível marcada a favor de “La Roja”.

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Foi aí que entrou o poder de reação da seleção brasileira. Douglas Luiz (que havia substituído Vinícius Júnior) mostrou que merece mais minutos com a camisa amarelinha e deixou Lucas Paquetá na cara de Unai Simón em boa escapada às costas de Cucurella. Galeno sofreu a penalidade que o camisa 8 converteu aos cinquenta minutos da segunda etapa. Resultado justo.

Seleção Brasileira buscando o empate nos acréscimos.
Paquetá e Galeno se juntam a Endrick no ataque e Douglas Luiz dá fôlego novo ao meio-campo. A seleção brasileira não desistiu do jogo. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O gol de empate nos acréscimos não deixa de ser um prêmio para a perseverança e para a capacidade de reação da seleção brasileira. Por mais que a atuação não tenha sido das melhores, o saldo é positivo.

Dorival Júnior encontrou soluções para resolver os problemas que a partida ia apresentando. E isso sem falar nas apostas certeiras em nomes como o goleiro Bento, o zagueiro Fabrício Bruno e o atacante Endrick, esse último o grande nome dessa Data-FIFA de março.

O saldo é positivo, mas é preciso manter os pés no chão

Este que escreve entende que o torcedor esteja empolgado com a seleção brasileira. Afinal de contas, todos nós esperávamos muito menos do que vimos diante da Inglaterra e da Espanha. Ao mesmo tempo, a desconfiança em cima do grupo chamado por Dorival Júnior era grande por conta do contexto geral e dos resultados ruins no ano de 2023. Mesmo assim, é melhor segurar a euforia, pois o ciclo está apenas começando e muita coisa ainda precisa ser corrigida.

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A defesa ainda precisa de ajustes, o ataque pede uma referência (que pode ser Endrick, Richarlison, Marcos Leonardo, Pedro ou Matheus Cunha só para citar alguns) e o meio-campo precisa de uma formação mais sólida para enfrentar adversários da primeira prateleira. Além disso, nomes como Douglas Luiz, Yan Couto e Galeno mostraram que merecem mais chances.

Este que escreve não pode passar pano para a forma como a CBF tratou esse amistoso. Difícil entender como se marca uma partida desse nível como forma de combater o racismo no mesmo país que faz o que faz com Vinícius Júnior todos os dias.

A comercialização da dor de um dos nossos grandes jogadores foi repugnante. Vide os anúncios do agasalho usado na partida e até mesmo as “odds” de algumas bets. Não é de estranhar que Vini tenha ido tão mal contra a Espanha. É a CBF sendo CBF.

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