Este que escreve nunca gostou muito de dizer que este ou aquele técnico estão “ultrapassados” por entender que não é possível esquecer aquilo que se aprendeu durante anos de trabalho e experiência. Esse é exatamente o caso de Abel Braga. Você leu aqui na coluna PAPO TÁTICO que a grande missão do experiente treinador no Internacional era “trocar o pneu com o carro andando”. Depois da eliminação na Copa Libertadores da América para o Boca Juniors, o escrete colorado parece ter mudando da água… Para o vinho! A goleada implacável sobre um São Paulo inerte e completamente passivo foi a sétima seguida dos comandados de Abelão no Campeonato Brasileiro. O Internacional assume a liderança da competição e mostra muita consistência e competitividade num dos momentos mais importantes da temporada. E isso a sete rodadas para o final do Brasileirão.
É bem verdade que Abel Braga não vinha de bons trabalhos e muitos o consideravam como “acabado” para o futebol. Só que o mundo gira e a bola rola. Impossível não notar o “dedo” do treinador na escolha da estratégia para o jogo contra o São Paulo. O Internacional iniciou a partida com muita intensidade nas transições para não permitir que os comandados de Fernando Diniz pudessem ter tempo e espaço para trabalhar as jogadas. Muita pressão no portador da bola e força no jogo aéreo com Victor Cuesta abrindo o placar aos oito minutos do primeiro tempo. Foi o suficiente para fazer com que o Tricolor Paulista perdesse completamente a concentração e errasse lances bobos. Exatamente como na falha de Juanfran no gol de Caio Vidal aos 24 minutos. Com a vantagem no placar, o Inter ainda viu Luciano diminuir após cobrança de escanteio, mas seguia controlando bem o jogo no meio-campo.
Abel Braga apostou numa forte pressão no portador da bola e muita intensidade nas transições para desestabilizar um São Paulo que já não era muito confiante e errava demais. Patrick, Edenílson, Praxedes e Rodinei se multiplicavam em campo e causavam muitos problemas para o escrete comandado por Fernando Diniz.
O que mais impressionava na partida desta quarta-feira (20) era o fato do São Paulo não acelerar as transições e seguir jogando em “ritmo de treino” contra um adversário ligado em cada lance e atento a cada oportunidade. Os números do SofaScore (ver tweet abaixo) mostram bem que o Internacional abriu mão da posse da bola, mas manteve o volume de jogo quase insano. A equipe comandada por Abel Braga teve meros 30% de posse de bola, finalizou incríveis 19 vezes a gol (sendo sete no alvo) e balançou as redes de Tiago Volpi cinco vezes. E tudo isso a partir de um plano de jogo bem simples, mas muito bem executado em todos os sentidos. Abel Braga sabia que Fernando Diniz abriria ainda mais o São Paulo no segundo tempo e viu sua equipe explorar muito bem todos os espaços que surgiam entre o meio-campo e a última linha defensiva. Yuri Alberto que o diga.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #SPFCxINT 1-5
⚽️| Luciano
⚽️| Yuri Alberto 3x, Cuesta e Caio Vidal
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📊 Estatísticas:📈 Posse: 70% – 30%
👟 Finalizações: 11 – 19
✅ Finalizações no gol: 5 – 7
🛠 Grandes chances: 1 – 7
☑️ Passes certos: 536 – 193💯Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/zK3xqMliDi
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) January 21, 2021
Impossível não classificar o segundo tempo como um verdadeiro atropelamento. O São Paulo voltou ainda mais aberto na sua defesa com as entradas de Igor Gomes e Vítor Bueno nos lugares de Gabriel Sara e Léo respectivamente e viu seu adversário ficar ainda mais “mordido” com Daniel Alves dando passes para o lado e virando o rosto para o outro. O time comandado por Fernando Diniz simplesmente se desmanchou depois que Vítor Bueno errou na saída de bola e Yuri Alberto (o melhor em campo pelos gols e pela movimentação constante nos 45 minutos finais) aproveitou a sobra para fazer o terceiro gol colorado no Morumbi. A essa altura, Abel Braga já havia recuado as linhas do Internacional exatamente com o intuito de aproveitar os verdadeiros “latifúndios” que existiam no campo ofensivo. O escrete colorado simplesmente esperou o momento certo para encaixar os contra-ataques.
E num desses contra-ataques, Edenílson lançou o jovem Peglow na intermediária ofensiva e este fez o passe em profundidade para Yuri Alberto. O camisa 11 do Internacional passou por Tiago Volpi e devolveu a provocação a Daniel Alves ao chutar para o gol vazio e olhar para o outro lado. E quiseram os deuses do velho e rude esporte bretão que o camisa 10 tricolor “participasse” do quinto gol do Inter. Daniel Alves perdeu a bola no meio, Patrick lançou Yuri Alberto (novamente) no espaço vazio e este tocou na saída de Volpi. Com a goleada e a vitória assegurada, Abel Braga foi descansando seus jogadores já de olho no Gre-Nal deste próximo domingo (24). Do outro lado, Fernando Diniz (completamente atordoado) sentiu o golpe ao mandar o zagueiro Diego Costa para o jogo e recompor seu sistema defensivo. O Internacional teve uma das suas melhores atuações em toda a temporada.
Enquanto Fernando Diniz desarrumava completamente o time do São Paulo, o Internacional de Abel Braga foi aproveitando os espaços que surgiam no ataque para construir uma sonora goleada dentro do Morumbi. Com o placar assegurado, o treinador colorado poupou seus principais jogadores de olho no Gre-Nal de domingo (24).
As sete vitórias consecutivas e o massacre em cima do São Paulo apenas atestam a qualidade do Internacional de Abel Braga. A defesa marca forte e em cima, o meio-campo acelera e cadencia as jogadas e o ataque sabe explorar bem os espaços que aparecem na frente. E isso sem mencionar as ótimas fases de jogadores como Patrick (nível de Seleção Brasileira na opinião deste que escreve), Edenílson, Rodrigo Dourado, Cuesta, Yuri Alberto e (pasmem) Rodinei. O São Paulo, por sua vez, já havia caído de rendimento após a eliminação da Copa do Brasil e parece ainda não ter se recuperado do golpe. Ao mesmo tempo, os jogadores já não executam os conceitos e o plano de jogo de Fernando Diniz com o mesmo afinco e precisão. Impossível não notar também que o desempenho da equipe caiu demais após os xingamentos do treinador dirigidos a Tchê Tchê na derrota para o Bragantino há duas semanas…
Seja como for, o Internacional assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro num dos momentos mais importantes da competição. É claro que ainda não há como garantir que o título virá para o Beira-Rio depois de 42 anos. No entanto, diante de tudo que eu e você vimos em campo nesta quarta-feira (20), a certeza que fica é a de que o Colorado entendeu como jogar nos erros do adversários sem perder a consistência ou abrir mão do ataque.
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