Home Opinião Garone: ‘Pressão em Abel Braga no Vasco é exagerada’

Garone: ‘Pressão em Abel Braga no Vasco é exagerada’

Com menos de um mês de trabalho, Abel Braga já vem sendo alvo da raiva de parte da torcida e até da imprensa. O imediatismo e a desumanização dos personagens do futebol segue presente.

Andre Schmidt
Colaborador do Torcedores.com.

Já escrevi algumas colunas analisando os trabalhos recentes de Abel Braga. Em todas deixei claro que o treinador não seria o meu escolhido para assumir o Vasco em 2020. Não por achá-lo incapaz, mas por saber que se trata de um técnico mais caro do que o clube pode pagar e que não vive o seu melhor momento. Isso, inclusive, foi um dos motivos das saídas de João Marcos Amorim e Adriano Mendes, vice-presidentes do Financeiro e da Controladoria do clube, que não concordavam com o valor que seria pago.

PUBLICIDADE

A história mais bonita do futebol agora tem um banco. Faça parte do meu BMG Vasco!

Daí a pedir cabeça de treinador após duas semanas de trabalho e dois jogos disputados – um deles com reservas, alguns estreando como profissionais -, pra mim, beira o histerismo.

PUBLICIDADE

A verdade é que Abel ainda sofre os respingos de 2019, onde, aparentemente, cometeu o crime de ser campeão carioca, classificar o Flamengo na 1ª fase da Libertadores e deixar o time em 6º no Brasileiro. Aquela equipe podia mais? Podia, e o fez com Jorge Jesus – e a chegada de mais reforços.

Não ser o melhor, porém, não faz de Abel o pior treinador. E a perseguição vai além do campo.

Em sua apresentação, Abel foi criticado por afirmar que sabia que não receberia em dia. Ora, como se isso fosse alguma novidade para alguém. Aparentemente, dizer o óbvio pesou mais do que o fato dos salários não serem quitados, uma obrigação da diretoria, não do treinador. O presidente Alexandre Campello, ao seu lado na coletiva, ainda achou graça.

Numa outra entrevista, Braga afirmou que Uendel e outros jogadores foram convidados por ele mas se recusaram a atuar pelo Vasco em razão das questões financeiras. E foi criticado novamente. Mais uma vez a fala teve um peso maior que o fato. Ou alguém acha que Rossi, Henríquez e Guarín – ainda – não renovaram por qual motivo? Por que Dedé ainda não foi anunciado? Por que grandes jogadores não atuam mais no clube como antigamente? Todos eles, de alguma maneira, recusaram o Cruz-Maltino.

PUBLICIDADE

O Vasco, hoje, não tem credibilidade no meio dos atletas. E não foi Abel quem avisou, foram eles próprios. Pode parecer impressionante para alguns, mas na era da tecnologia, da comunicação em tempo real, os atletas também se falam. E muito.

O clube se desfez de mais de 20 jogadores na última janela, quatro titulares, e contratou apenas um: Germán Cano. Ainda assim, fez uma boa estreia contra o Bangu. Mesmo com o empate em 0 a 0 – normal em início de temporada -, teve posse, laterais avançados e a tentativa de construção por dentro. Algo que não tinha com Luxemburgo, por exemplo. Deu sinais do que pode vir a ter, mas obviamente ainda faltam peças.

Antes do campeonato começar, Abel já havia avisado de que enfrentaria o Flamengo com um “time sub-20”. Algo comum em início de ano, e que, além do rubro-negro, também é feito pelo Botafogo. Não é de hoje que Estadual é pré-temporada. Aliás, cobra-se muitas vezes que seja visto exatamente assim.

Em 2019, seis jogadores vascaínos atuaram mais de 80% dos minutos do time no Estadual. A maior marca entre os quatro grandes. Resultado? Iniciou o Brasileiro sem Fernando Miguel e Leandro Castán, dois titulares importantes, de um setor crítico, ambos lesionados. No Flamengo, campeão de quase tudo no ano passado, nenhum chegou aos 80%. Rodrigo Caio, com 76,4%, foi quem mais atuou.

PUBLICIDADE

A questão é que o “sub-20” de Abel, que na verdade é um misto de garotos dos juniores com outros que já estouraram a idade, é também o reserva do clube. Como dito, mais de 20 saíram e apenas um chegou. O Vasco não tem elenco. Os meninos são esse elenco. No Flamengo, isso equivale ao terceiro ou quarto time. Em São Januário, é o segundo.

Uma diferença que vai muito além das vontades do treinador.

Abel acabou chamado de covarde até por parte da imprensa, que parece ter perdido o mínimo de respeito que se espera. Desumanizaram quem trabalha com futebol e também o jornalismo. Esses, perdem mais do que ele.

O foco do Vasco nesse início de temporada é avançar na Copa Sul-Americana, que começa no próximo dia 5, em São Januário, contra o Oriente Petrolero. Ali sim, Abel terá que ter um time organizado e minimamente competitivo para encarar um adversário mais frágil – 8º colocado no Campeonato Boliviano em 2019.

PUBLICIDADE

Até lá, porém, esse tempo de preparação precisa ser dado. Depois, é outra história.