Home Opinião Iberê Riveras | Dominada por clubes do interior, A3 se inicia neste sábado (25): apontar favoritos é missão impossível

Iberê Riveras | Dominada por clubes do interior, A3 se inicia neste sábado (25): apontar favoritos é missão impossível

Com 13 de 16 clubes, interior dá as cartas, mas não tem candidatos acima da média; todos os jogos poderão ser assistidos pela internet

Iberê Riveras
Colaborador e colunista do Torcedores.com.

Se em um campeonato em pontos corridos o imponderável já se faz presente, imagine com mata-matas a partir das quartas de final. Indicar favoritos na ‘Terceirona’ de São Paulo, uma competição tão nivelada, é mera especulação. Nela, tudo pode acontecer. Clique aqui para ver a tabela detalhada.

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No ano passado, exemplos desta imprevisibilidade não faltaram. Durante a 1ª fase, os 16 clubes jogaram entre si em turno único, com os oito melhores classificando-se para a fase final, mesma fórmula deste ano. Em 15 jogos, o Velo Clube de Rio Claro somou 35 pontos e ficou em 1º lugar, disparado, invicto. O Monte Azul ficou em 7º e o Audax em 8º. Nas quartas de final, contrariando a lógica, o 8º eliminou o 1º, o 7º superou o 2º e o 5º superou o 4º. Apenas o 3º confirmou a tendência ao suplantar o 6º – com uma vitória para cada lado. Nos confrontos que definiram o acesso, o 8º ganhou do 5º e o 7º bateu o 3º. Para sacramentar, na final, o 8º venceu o 7º.

A fórmula de disputa deste ano é praticamente a mesma. Os finalistas sobem para a A2, os dois últimos da 1ª fase caem para a 4ª divisão. A única alteração será em relação à fase final: nos mata-matas, em dois jogos, a única vantagem do time com melhor campanha será disputar a segunda partida em casa. Em caso de igualdade na soma dos resultados, a decisão será decidida nos pênaltis. Em 2019, para avançar, o time de melhor campanha tinha a vantagem do empate na soma dos dois resultados.

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“É uma competição equilibrada, de bom nível técnico, bons atletas”, assegura Karmino Colombini, técnico do Velo Clube na temporada passada. “A condição de preparação dos clubes se assemelha muito, a faixa salarial também, então o que acaba fazendo a diferença é a voz de comando, o poder de decisão de algumas peças nos momentos cruciais. E há fatores que sempre vão fugir ao controle, ainda mais num formato de disputa que não privilegia a regularidade.” A eliminação para o Audax, no primeiro mata-mata, nunca foi digerida pela torcida velista por conta de uma suposta interferência da arbitragem. O futebol nunca se verá livre de suas polêmicas.


Karmino Colombini comandou o Velo Clube na A3 do ano passado | Foto: Divulgação/FC Cascavel

Com boa experiência em outros campeonatos estaduais da 1ª divisão, Colombini entende que muitos atletas da A3 poderiam estar em outro patamar. “Disputei por alguns anos o Campeonato Goiano, o Paranaense, e posso dizer que tecnicamente a distância não é tão grande, se colocarmos os clubes grandes de lado. Em São Paulo, a competitividade é muito alta, nem todos os jogadores vão conseguir se colocar na Série A1 ou A2. Quem disputa a A3 poderia perfeitamente estar na A2 ou na 1ª divisão de outros estados. A maioria dos 16 clubes consegue se montar bem.” A folha salarial dos participantes da A3 oscila entre R$ 50 mil e R$ 120 mil mensais.

Após subir com o Monte Azul no ano passado, Régis Angeli tentará repetir o feito, agora no comando do Rio Preto. O experiente treinador, que atuou como auxiliar de Vagner Mancini por muitos anos, reporta algumas dificuldades da A3. “Trabalhar com os atletas mais novos, que não passaram por categorias de base ou não tiveram boa base é sempre um desafio. Eles também têm um pouco mais de dificuldade na leitura de jogo.” Questionado sobre se a falta de calendário para o restante da temporada atrapalha, Angeli não tem dúvidas. “Interfere, e muito. Com as várias interrupções e mudanças, o desenvolvimento do atleta fica bastante comprometido. É a sequência com o profissional que cuida, que sabe das suas carências técnicas e táticas, que vai contribuir na evolução deste atleta.” A média de idade do Rio Preto é de 25 anos. “Procurei mesclar bem este fato de experiência e juventude. Acho muito importante os mais jovens terem exemplos no plantel. Jogadores que possam ajudar a orientar dentro e fora do campo”, completou. O técnico do Jacaré conta com três atletas que estiveram a seu lado na campanha do Monte Azul no ano passado.


Régis Angeli, técnico do Rio Preto para 2020 | Foto: YouTube

Dos 13 clubes do interior que disputarão a A3, quatro deles são bem lembrados pelo torcedor mais vivido: Comercial de Ribeirão Preto (fundado em 1911), Marília (1942), Noroeste de Bauru (1910) e Paulista de Jundiaí (1909). Outros oito clubes têm muita história para contar: Velo Clube de Rio Claro (1910), Linense (1927), Barretos (1960), Batatais (1919), Capivariano (1918), Olímpia (1946), Primavera de Indaiatuba (1927) e Rio Preto (1919).

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O Desportivo Brasil é o menos conhecido. Fundado como clube-empresa pelo Grupo Traffic em 2005, o clube de Porto Feliz foi comprado em 2014 pelos chineses do Grupo Luneng, fornecedor de energia elétrica da província de Shandong. A empresa é subsidiada pelo gigante State Grid Corporation of China (SGCC), maior empresa do setor elétrico da China e proprietário do Shandong Luneng. Os ex-palmeirenses Moisés e Róger Guedes atuam pelo clube, que foi campeão chinês em quatro oportunidades – a última delas em 2010. A cada ano, cerca de 30 jogadores chineses passam uma temporada no espetacular centro de treinamento do clube, treinando e participando de jogos amistosos ao lados dos brasileiros. Subir de divisão não é a maior prioridade do Mr. Sun Lichen, o empresário chinês que preside o DB “sem limitação de poderes”, segundo o próprio clube. “A missão do Desportivo Brasil é dar continuidade na formação do atleta de alto ní­vel, colocando esses jogadores nos principais clubes brasileiros e do exterior.” O meia Shuai Ma e o atacante Xingyu compõem o elenco que disputará a A3.

Entre os técnicos que comandarão os clubes do interior, algumas curiosidades: o Batatais será liderado por Edson Abobrão, ex-lateral de Ponte Preta, Corinthians e Seleção Brasileira. Os experientes Roberval Davino e Luís Carlos Martins conduzirão os tradicionais Comercial de Ribeirão e Noroeste, respectivamente. O jovem Júlio Sérgio, ex-goleiro do Santos e da Roma, estará à frente do MAC, o Marília. Outra informação curiosa: aos 37 anos, Richarlyson, ex-São Paulo, defenderá as cores do Noroeste pelo segundo ano consecutivo. Seu pai, Lela, atuou pelo clube de Bauru entre 1978 e 80.

Uma das novidades da A3 será que todos os jogos serão transmitidos pela FPF TV, em parceria com a plataforma de streaming MyCujoo – as redes Vida e Família transmitirão algumas partidas. Hikmat Derbas, supervisor de futebol do Paulista de Jundiaí, opina sobre a difícil relação entre ‘casa cheia’ e jogo na TV. “A meu ver, não será este o fator que irá afugentar o público do estádio. Pelo contrário, para a gente é muito importante como vitrine para os atletas, para o clube estar expondo os seus ativos. A questão é maior. Como é que o torcedor que ganha um salário mínimo vai pagar, por exemplo, 40 reais em um ingresso? Por outro lado, o custo operacional só para abrir o estádio é de 12 mil reais. O fato é que o nosso torcedor é importantíssimo, dentro do estádio ele é o 12º jogador e vai nos ajudar a colocar a bola pra dentro, conseguir resultados e conquistas.”

O caso Barretos

Quando o Campeonato Paulista da Série A1 de 2019 acabou, a especulação era sobre a “fusão” do Bragantino com o Red Bull Brasil. A situação abriria, então, uma vaga na elite do Paulistão e, por conseguinte, uma na A2 e uma na A3. Esclareça-se que a Federação Paulista de Futebol denomina a 1ª divisão de A1, a 2ª de A2, a 3ª de A3 e a 4ª de… Segunda Divisão, vulga “B” ou “Bezinha”.

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O Água Santa de Diadema, 3º colocado da A2 – os dois primeiros haviam garantido o acesso regulamentar –, esfregou as mãos. O Barretos, 3º da A3, e o Fernandópolis, 3º da 4ª divisão, também.

No entanto, quando a Federação Paulista de Futebol anunciou os campeonatos para 2020, a surpresa foi a presença do Red Bull Brasil na A2. A Red Bull “comprou” o Bragantino, criou o Red Bull Bragantino, mas não desintegrou o Red Bull original, o Brasil. A Lei Pelé determina que clubes controlados pelo mesmo grupo econômico não podem disputar a mesma divisão. Assim, um dos dois Red Bull teria que ir para a 2ª divisão. Mas qual é a 2ª divisão? A A2 ou a “Bezinha”? Se a A2 é a 2ª, por que a 4ª é chamada de 2ª? Clique aqui para entender a nomenclatura inaugurada em 1994, ainda na gestão Eduardo José Farah.

O Água Santa foi confirmado na A1, mas o Red Bull Brasil foi realocado na A2, mantendo o Barretos na A3 e o Fernandópolis na 4ª divisão. O Barretos sentiu-se injustiçado e pediu à FPF a revisão do regulamento, negada. O clube ainda recorreu ao Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP), à CBF e até ao Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), mas não conseguiu respaldo. Questionado sobre o assunto, o vice-presidente do BEC, Raphael Dutra, preferiu não responder.


Mazinho Dias atua na Rádio Jornal de Barretos e na Vale TV Barretos | Foto: Acervo pessoal

A opinião que prevalece na cidade da “Maior Festa do Peão do Brasil” é resumida pelo jornalista Mazinho Dias. “O Barretos não costuma ter razão nas suas brigas lá na Federação, mas neste assunto eu acho que o clube tem razão sim. O regulamento é muito claro, qual é a 1ª divisão do Campeonato Paulista? A Série A: A1, A2 e A3. A 2ª divisão é a Série B. Então se dois clubes da mesma empresa não podem disputar a mesma divisão, um deles disputa a A1, A2 ou a A3 e o outro a ‘Bezinha’. Se disputassem, por exemplo, a A1 e a A3, estariam na mesma divisão. Uma coisa é a “série”, outra é a “divisão”. Eu entendo que aí fere o regulamento, só que como isso envolveu muito dinheiro, interesse de muita gente, inclusive da própria Federação, deixaram passar.”

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CAMPEONATO PAULISTA A1  2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

Dos 16 participantes, nove são do interior: Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta e Red Bull Bragantino.

CAMPEONATO PAULISTA A2 2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

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Dos 16 participantes, dez são do interior: XV de Piracicaba, Taubaté, Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil, Sertãozinho, São Bento, Rio Claro e Votuporanguense.

CAMPEONATO CARIOCA 2020 – Taça Guanabara

Com duas vitórias em dois jogos, o Volta Redonda lidera o Grupo B, com 6 pontos. O Resende ocupa a 4ª posição do mesmo grupo, com 2 pontos, já que empatou seus dois jogos.

3ª rodada

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Sábado (25), 18h
Flamengo x Volta Redonda, no Maracanã

Domingo (26), 16h
Portuguesa x Resende, no Luso-Brasileiro (Ilha do Governador)

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