Home Opinião Garone: Abel tem muita culpa nesse Vasco, mas não é o único

Garone: Abel tem muita culpa nesse Vasco, mas não é o único

Vasco cumpre seus objetivos de início de temporada, avançando em duas fases na Copa do Brasil e uma na Sul-Americana. No campo, porém, o desempenho do time de Abel Braga ainda é muito contestável

Andre Schmidt
Colaborador do Torcedores.com.

O técnico argentino Marcelo Bielsa, hoje no Leeds United, da Inglaterra, certa vez disse o seguinte:

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“O jogo só pode ser analisado a partir de três pontos de vista. A fidelidade a um estilo – que é jogar de uma maneira, não importa qual seja. A segunda é o domínio, quem tem a posse de bola. E a terceira é a quantidade de chances criadas. Você não pode analisar o número de gols marcados porque ninguém decide errar um gol. Para avaliar o funcionamento de uma equipe o que você precisa ver são as chances criadas.”

Mas o que isso tem a ver com o Vasco de Abel Braga?

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Bom, obviamente a ideia aqui não é traçar um paralelo entre as carreiras dos dois. Apesar de algumas coisas em comum, como o fato de terem sido zagueiros e guardarem em seus currículos uma passagem pelo Olympique de Marseille como treinadores. Mas o foco não é esse.

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O obejtivo é usar a teoria de ‘El loco’ para trazer um olhar diferente sobre o trabalho de Abelão em São Januário, que é fraco, mas não é o único problema no clube.

Muitas vezes o debate sobre um técnico cai naquela velha discussão do Tostines: vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Nesse caso, o time vai mal porque o treinador é ruim ou o treinador vai mal porque o time é ruim? A visão de Bielsa nos ajuda aqui.

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Das nove partidas em que o Vasco atuou com o time titular – usou reservas nos clássicos com Flamengo e Botafogo -, em apenas uma o time teve menos posse de bola: contra a Portuguesa. Curiosamente, foi o único jogo em que estufou as redes mais de uma vez na temporada. No duelo com a Cabofriense, teve o controle da redonda em 66% do tempo. Resultado: perdeu por 1 a 0, gol de pênalti.

E não foram por faltas de oportunidades que os resultados não saíram.

Apenas duas vezes em 2020, com os titulares, o Vasco não finalizou mais que seu adversário: no duelo de volta contra o Oriente Petrolero, na Bolívia, e o Boavista. E adivinhem? Avançou de fase na Sul-Americana e venceu a equipe de Saquarema.

Exatamente por isso que Bielsa, no seu modo de entender o jogo, de analisá-lo, tenta excluir o resultado final. O Vasco trinfou em jogos que criou menos e perdeu confrontos onde foi claramente superior, com mais posse e volume ofensivo. Como quase ocorreu, aliás, nessa quinta-feira, contra o ABC.

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Por que então as críticas a Abel Braga? Pela ideia de jogo.

O Vasco de Abelão, apesar da posse e do alto número de conclusões, tem dificuldades para se impôr em campo. O toque de bola é lento e pouco envolvente. As linhas, muito baixas e passivas, aceitam os desmarques. Os chutes, muitas vezes precipitados. É uma equipe que não pressiona o adversário, nem no seu campo e muito menos no do outro.

A transição vascaína é lenta e a criação só acontece pelos lados – vide mapa abaixo -, muitas vezes dependendo da ação individual de um jogador, como foi com Vinícius contra o ABC. Antes era com Talles Magno. Marrony segue devendo.

Mapa de calor contra o ABC escancara a dificuldade do Vasco em criar por dentro; Vinícius, na direita, foi o escape (Foto: Footstats)

É um time limitado, literalmente, e não apenas de ideias. E isso não é culpa apenas do treinador.

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Não há em todo elenco cruz-maltino um só meia com característica de criação, com capacidade para dar o último passe. Sem velocidade para acelerar a transição – como era com Rossi em 2019, por exemplo – e sem qualidade para achar espaços com toque de bola, o time emperra. Se prende a bolas longas, cruzamentos e conclusões de longe. Por isso a grande posse, o alto número de conclusões, mas o baixo aproveitamento na hora de definir e a sensação de que o time não pressiona.

Por isso a insegurança constante.

O Vasco de Abel não é intenso o suficiente para ser vertical e nem qualificado para envolver seus adversários através de passes, como gosta o técnico. Retém a bola mas não cria com eficiência. Aliás, esse é um problema antigo dos times de Braga, mas que quase sempre foi escondido por brilhos individuais, algo que não há em São Januário. A exceção é Cano, autor de 5 dos 8 gols no ano.

Entre o que o treinador quer e o que o elenco pode oferecer, existe uma lacuna imensa. Um espaço preenchido por incertezas e desconfiança.

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NÚMEROS DO VASCO EM 2020

Jogos com os titulares | Dados do Footstats

Vasco 0x0 Bangu – 59,5% de posse e 16 finalizações (7 do adversário)
Vasco 1×0 Boavista – 62,4% de posse e 8 finalizações (12 do adversário)
Vasco 0x1 Cabofriense – 66,0% de posse e 23 finalizações (12 do adversário)
Vasco 1×0 Oriente Petrolero – 54% de posse e 14 finalizações (10 do adversário)
Vasco 3×2 Portuguesa – 49,1% de posse e 18 finalizações (9 do adversário)
Vasco 1×1 Altos – 58,4% de posse e 25 finalizações (7 do adversário)
Vasco 0x0 Oriente Petrolero – 53,7% de posse e 10 finalizações (14 do adversário)
Vasco 1×1 Resende – 56,4% de posse e 14 finalizações (10 do adversário)
Vasco 1×0 ABC – 58,6% de posse e 18 finalizações (9 do adversário)

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