Home Futebol A loucura de Marcelo Bielsa (PARTE III) – A revolução na Seleção Chilena, a aventura no País Basco e a passagem pela França

A loucura de Marcelo Bielsa (PARTE III) – A revolução na Seleção Chilena, a aventura no País Basco e a passagem pela França

Luiz Ferreira repassa a carreira de “El Loco” numa série de reportagens especiais na coluna PAPO TÁTICO; terceira parte da série destaca o período como treinador da Seleção Chilena e as suas passagens pelo Athletic Bilbao e pelo Olympique de Marselha

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Marcelo “El Loco” Bielsa ainda é um dos treinadores mais celebrados do mundo do futebol. Seus conceitos, sua filosofia de jogo e seus equipes altamente ofensivas influenciaram toda uma geração de técnicos, jogadores e torcedores. Foi tão importante e tão marcante que simplesmente criou uma “terceira via” num período em que a discussão sobre o futebol na Argentina se dividia em “menotistas” e “bilardistas”. A expectativa por títulos na Seleção Albiceleste, no entanto, acabaria frustrada por conta da alta exigência física imposta pelo seu estilo. Após um período de três anos sabáticos, “El Loco” retornava ao futebol para revolucionar a Seleção Chilena e deixar sua marca em equipes como o Athletic Bilbao e o Olympique de Marselha. O TORCEDORES.COM (através da coluna PAPO TÁTICO) traz a terceira reportagem da série sobre a “loucura” de Marcelo Bielsa.

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Biesa se despediu da Seleção Argentina após a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Foram três anos sabáticos na sua fazenda em Máximo Paz, na Província de Santa Fé, até assumir o comando de outra seleção (a do Chile) em 2007. “El Loco” trazia consigo uma série de novos conceitos e atualizações ao seu já conhecido 3-4-3/-3-3-1-3 e se preparava para iniciar uma verdadeira revolução. Vale lembrar que o Chile vinha de uma péssima participação na Copa América daquele ano, sendo eliminada pela Seleção Brasileia com uma goleada de 6 a 1 nas quartas de final da competição. O impacto de Bielsa no Chile foi tão grande que “La Roja” passaria a ser uma equipe fiel a um estilo de jogo bem definido e temida pelos seus adversários. Falava-se em “Bielsamania” no país, febre que o documentário “Ojos Rojos” retratou muito bem.

https://www.youtube.com/watch?v=EwzDYPoTp5k

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Com “El Loco” no comando, o Chile fez bela campanha nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. “La Roja” ficou na segunda colocação (atrás apenas do Brasil) com 10 vitórias, três empates e cinco derrotas. A equipe marcou 32 vezes e sofreu 22 gols. O já conhecido 3-4-3/-3-3-1-3 ganhou ainda mais intensidade, dinâmica e variações táticas com Alexis Sánchez, Mark González e Humberto “Chupete” Suazo. Mais atrás, os talentosíssimos “El Mago” Valdívia e Matías Fernández se revezavam na armação das jogadas e contavam com as subidas de Isla, Beausjour e até mesmo um jovem Arturo Vidal pelos lados do campo. A forte geração chilena ainda contava com Carmona e Marco Estrada como opções para a proteção do tridente defensivo. E para esse setor, Bielsa contava com a segurança de Gary Medel, Jara e Ponce, além do goleiro Claudio Bravo.

A campanha na Copa do Mundo de 2010 começou com uma vitória por 1 a 0 sobre Honduras (gol de Beausejour) no dia 16 de junho daquele ano. Cinco dias depois, “La Roja” garantia a sua classificação para as oitavas de final com uma vitória suada sobre a Suíça também por 1 a 0 (gol de Mark González). No entanto, a alta exigência física de Marcelo Bielsa faria as suas vítimas. Lesionados, Suazo e Matías Fernández não estiveram em campo na derrota por 2 a 1 para a Espanha, resultado que faria o Chile cruzar com a Seleção Brasileira na fase seguinte do Mundial da África do Sul. Marcelo Bielsa se manteve fiel ao seu estilo e armou uma equipe com extremamente ofensiva (com Vidal e Beausejour no meio e Suazo, Mark González e Alexis Sánchez no ataque), mas veria sua equipe sucumbir mentalmente após o primeiro gol do Brasil (marcado por Juan).

Chile - Football tactics and formations

Marcelo Bielsa revolucionou a Seleção Chilena ao apostar numa formação ofensiva, vibrante e repleta de variações táticas. A equipe ficou em segundo lugar nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010 e ainda fez boa campanha no Mundial da África do Sul. Estava criada a “Bielsamania” no Chile.

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“El Loco” deixou o comando de “La Roja” depois de desentendimentos com dirigentes da Asociación Nacional de Fútbol Profesional do Chile em fevereiro de 2011. Cinco meses depois, partiria rumo ao País Basco para assinar com o Athletic Bilbao onde também deixaria sua marca. Novamente mergulhando de cabeça em análises de uma infinidade de vídeos, Bielsa apresentou sua nova filosofia nos “Leones” com uma clara inspiração no 4-3-3 praticado pelo Barcelona de Pep Guardiola (que afirma em alto e bom som que “El Loco” é o melhor treinador de futebol do mundo). Assim como aconteceu com o Chile, o argentino assumia uma equipe que não vinha de bons resultados e precisava urgentemente retomar o protagonismo de outros anos mais vitoriosos. Não demorou muito tempo para que o Athletic Bilbao voltasse a bater de frente com os grandes clubes da Espanha.

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O modelo de jogo de Bielsa nos “Leones” trazia ainda mais variações táticas e alternâncias no posicionamento dos jogadores desde o sistema defensivo. Javi Martínez, Iraola e Aurtenetxe se movimentavam constantemente, Iturraspe era a garantia de proteção da zaga e de qualidade na saída de bola e os meias Ander Herrera e Óscar de Marcos aplicavam uma pressão sufocante no campo ofensivo. Ao mesmo tempo, Susaeta e Iker Munain abriam o campo e ficavam de olho nos laterais adversários. E Fernando Llorente, típico centroavante goleador, era a referência no ataque. O que se viu naquele ano de 2012 foi um Athletic Bilbao intenso, goleador e extremamente ofensivo. A ótimas campanhas do Athletic Bilbao na Copa do Rey e (principalmente) na Liga Europa de 2011/12 fizeram a alegria do torcedor do clube basco, que não via a equipe chegar tão longe fazia bastante tempo.

No entanto, apesar de ter eliminado clubes como o Paris Saint-Germain, o Manchester United, o Schalke 04 e o Sporting Lisboa, o Athletic Bilbao acabaria sendo derrotado na decisão da Liga Europa (sua primeira final europeia desde 1977) pelo Atlético de Madrid de Falcao García, Courtois e Juanfran (e também dos brasileiros Filipe Luís, Diego Ribas e Miranda). A derrota por 3 a 0 para o escrete comandado por Diego Simeone (outro admirador confesso de Marcelo “El Loco” Bielsa) mostrava que o Athletic Bilbao já estava sentindo os efeitos do cansaço extremo. Poucos dias depois, o Bilbao perderia a final da Copa do Rey para o Barcelona de Pep Guardiola pelo mesmo placar. A fadiga que se instalou no elenco era tão grande que o técnico da Seleção Espanhola na época (Vicente del Bosque) viu que Fernando Llorente não tinha a menor condição de jogar a Eurocopa de 2012.

Athletic Bilbao - Football tactics and formations

O Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa era baseado no 4-3-3 e abusava das variações táticas e da movimentação intensa dos jogadores. Nomes como Fernando Llorente, Ander Herrera e Javi Martínez eram os pilares da equipe que chegou às finais da Liga Europa e da Copa do Rey na temporada de 2011/12.

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A saída de jogadores importantes na janela de transferências (sobretudo Javi Martínez e Fernando Llorente) enfraqueceu o Athletic Bilbao na temporada seguinte. A campanha no Campeonato Espanhol acabaria sendo decepcionante: a equipe basca ficaria apenas na 12ª posição. Fora isso, Bielsa veria os “Leones” serem elimnados pelo Eibar na primeira fase da Copa do Rey e não passaria da fase de grupos na Liga Europa de 2012/13. Em junho daquele ano, o presidente do Athletic revelava que Marcelo Bielsa não teria seu contrato renovado, fato que causou a tristeza de vários torcedores e de alguns jogadores dos “Leones”. Não demoraria muito para que a “Bielsamania” invadisse o sul da França. Logo depois da realização da Copa do Mundo de 2014 (no Brasil), “El Loco” assinava com o Olympique de Marselha numa passagem que marcaria a história recente do clube.

Marcelo Bielsa não ganhou nenhuma contratação de destaque nos seus primeiros meses e recebeu uma equipe em crise. O Olympique de Marselha terminou a Ligue 1 de 2013/14 na sexta posição e fora de todas as competições europeias. Diante das fragilidades defensivas e dos demais problemas da equipe francesa, “El Loco” abriu mão de suas convicções e decidiu não implementar seu tradicional 3-3-1-3 nos primeiros meses. E a iniciativa (extremamente conservadora para seus padrões) acabaria dando muito certo. O Olympique de Marselha jogava num 4-2-3-1 básico com Romao e Imbula na proteção da zaga, Thauvin e André Ayew pelos lados, Gignac decidindo no comando de ataque e uma intensidade impressionante no campo rival. No gol, o experiente Mandanda orientava a defesa e o habilidosíssimo Dimitri Payet cuidadava da criação das jogadas no meio-campo.

Jogando naquele 4-2-3-1, o Olympique de Marselha engatou uma sequência nove vitórias consecutivas na Ligue 1 de 2014/15 e alcançou o simbólico título de inverno. As chegadas do argentino e Lucas Ocampos e do belga Michy Batshuayi deram ainda mais opções para Bielsa montar uma equipe competitiva chegando até a liderar o “Francesão” superando os milionários Paris Saint-Germain e Monaco. A equipe do sul da França terminaria o Campeonato Francês na quarta posição, com o segundo melhor ataque da competição (76 gols), o vice-artilheiro (Gignac, com 21 gols) e uma vaga na fase de grupos da Liga Europa da temporada seguinte. Ótimos números para um clube que vinha em crise e longe da parte de cima da tabela. Marcelo Bielsa, mesmo sem levantar taças, deixava sua marca em mais um país e incluenciaria mais uma verdadeira geração de jogadores e treinadores.

Olympique de Marselha - Football tactics and formations

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Contrariando seus preceitos, Marcelo Bielsa apostou num 4-2-3-1 nos seus primeiros meses no Olympique de Marselha. A equipe francesa ganhou força na marcação, mais consistência e ainda aplicava uma intensidade impressionante no campo do adversário. Foram nove vitórias consecutivas na Ligue 1 de 2014/15.

Aos poucos, “El Loco” retornou para seu esquema tático preferido (o 3-3-1-3) com o deslocamento do togolês Romao para o lado direito da zaga ao lado de Fanni e Morel e deixando apenas Imbula na proteção do tridente defensivo. Dja Djédjé e Mendy jogavam pelas alas, Thauvin e Awey permaneciam nas pontas e Payet conduzia o time. A história de Marcelo Bielsa e Olympique de Marselha terminaria de maneira abrupta. No dia 8 de agosto de 2015, o treinador argentino anunciava seu desligamento do clube por conta de desentendimentos com a diretoria, alegando alterações no seu contrato. Um ano depois, no melhor estilo “El Loco”, Bielsa assinaria contrato para ser gerente de futebol da Lazio, mas saiu dois dias depois alegando que o clube italiano não conseguiu atender aos seus pedidos e contratar os jogadores indicados pelo treinador argentino.

Voltaria à França por quatro meses para comandar o Lille e sairia do clube após ter o contrato suspenso, mas deixou no clube jogadores como Nicolas Pépé, Thiago Mendes, Thiago Maia e Kévin Malcuit. Seis meses depois (já em 2018), Marcelo Bielsa assumiria o comando do Leeds United deixando uma série de admiradores. A quarta parte da série especial sobre a “loucura” de Marcelo Bielsa vai explicar como o argentino influenciou uma geração inteira de treinadores.

FONTES DE PESQUISA:

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Blog Painel Tático: Marcelo Bielsa, o grande treinador de técnicos do futebol
RSSSF Internacional
Marcelo Bielsa: o homem que fez o Marseille jogar (DOENTES POR FUTEBOL)
Dossiê Bielsa: balada para um louco (CENTRAL3)
A saída de Bielsa do Olympique de Marseille é a história de uma paixão arruinada (TRIVELA)
A Pirâmide Invertida, por Jonathan Wilson (Editora Grande Área)

LEIA MAIS:

A loucura de Marcelo Bielsa (PARTE I) – Do início no Newell’s Old Boys até a Seleção Argentina

A loucura de Marcelo Bielsa (PARTE II) – Da trajetória na Seleção Argentina e a criação de uma “terceira via”

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