Home Futebol São Paulo de Fernando Diniz joga o fino, amassa o Atlético-MG e segue tranquilo na liderança do Brasileirão

São Paulo de Fernando Diniz joga o fino, amassa o Atlético-MG e segue tranquilo na liderança do Brasileirão

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória incontestável do Tricolor Paulista sobre os comandados de Jorge Sampaoli

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este colunista escreveu no dia 2 de outubro que Fernando Diniz precisava rever e adaptar vários de seus conceitos se quisesse permanecer no comando do São Paulo. Dois dias antes, o Tricolor Paulista era derrotado pelo River Plate e dava adeus à Copa Libertadores da América, fato que acabou gerando críticas pesadas de Muricy Ramalho em participação no podcast “GE São Paulo”. Só que o futebol é dinâmico e o mundo capota ao invés de girar. Não é exagero nenhum afirmar que o escrete do Morumbi joga o futebol mais vistoso e eficiente do país. Ainda mais depois da vitória incontestável diante do Atlético-MG de Jorge Sampaoli nesta quarta-feira (16). Vitória essa que foi mais uma demonstração clara dos conceitos de Fernando Diniz e de como sua equipe evoluiu com o tempo. Os sete pontos de vantagem na liderança do Brasileirão são a melhor resposta do técnico para seus críticos.

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Muita gente se surpreendeu com a escalação do São Paulo para a partida desta quarta-feira (17). O senso comum apontaria para a simples entrada de Pablo no lugar de Luciano, mas Fernando Diniz optou por Tchê Tchê. O camisa 8 (volante origem) jogou quase como um segundo atacante no já conhecido e costumeiro 4-4-2 do treinador tricolor. Com bom passe no meio-campo, ultrapassagens e trocas de posições do quarteto ofensivo e muita intensidade em todas as transições, o São Paulo foi controlando o jogo e explorando bem os (muitos) espaços que surgiam entre as linhas do até agora inexplicável 3-4-2-1 de Jorge Sampaoli. Gabriel, Igor Rabello e Junior Alonso se tornaram presas fáceis para a movimentação de Igor Gomes, Gabriel Sara e Brenner entre as linhas atleticanas. Além disso, o Galo sofria demais com a ausência de um jogador de criatividade no meio-campo.

Sao Paulo vs Atletico-MG - Football tactics and formations

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Tchê Tchê foi quase um segundo atacante no 4-4-2 costumeiro de Fernando Diniz e teve grande atuação com bons passes e ótima movimentação ofensiva. Isso tudo diante de um Atlético-MG que cedeu espaços demais e que não mostrou a tão conhecida intensidade dos times de Jorge Sampaoli.

É verdade que Brenner, Tchê Tchê, Daniel Alves e companhia tiveram a vida bastante facilitada na partida por conta da intensidade baixa do Atlético-MG e pelos equívocos de Jorge Sampaoli na escalação e na escolha da formação da sua equipe. Guga deixava espaços generosos às suas costas e não se encontrou na função de “lateral-armador”. Ao mesmo tempo, Junior Alonso encontrava sérias dificuldades para fechar o espaço que Guilherme Arana deixava quando apoiava o ataque. Na prática, o Galo só tinha dois jogadores no meio-campo (Allan e Calebe) que não fechavam os espaços e nem faziam a bola chegar em Vargas, Keno e Savarino (todos muito bem vigiados). O espaço que Tchê Tchê teve para servir Igor Gomes no lance do primeiro do São Paulo mostra bem como o Galo fazia péssima recomposição defensiva. Gabriel e Igor Rabello parecem não saber quem devem marcar e Allan apenas observa a jogada.

Tchê Tchê recebe a bola no meio-campo e tem liberdade para avançar, esperar a movimentação de Igor Gomes e fazer o passe para o camisa 26 balançar as redes sem ser incomodado pelos jogadores do Atlético-MG. Gabriel e Igor Rabello não fecham o espaço e Allan apenas observa. Foto: Reprodução / TV Globo

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Mas achar que o São Paulo só conseguiu vencer a partida desta quarta-feira (16) por conta da noite ruim dos comandados de Jorge Sampaoli é negar a marca indelével que Fernando Diniz vem deixando na sua equipe. Mesmo nos momentos mais tensos da temporada (como as eliminações na Libertadores e na Copa Sul-Americana e a derrota para o Mirassol no Campeonato Paulista) já era possível ver uma ideia e um plano de jogo claro. A começar pelo posicionamento dos jogadores nas tramas ofensivas. Se Igor Gomes está abrindo o campo pela esquerda, Reinaldo passa a jogar mais por dentro. Se Juanfran aparece um pouco mais recuado como “lateral-armador”, Brenner (ou Gabriel Sara) abrem pela direita. Na prática, é como se o São Paulo atacasse numa espécie de 2-4-4 com o avanço do seu quarteto ofensivo e com tanta gente no campo adversário. Exatamente como no lance do segundo gol do Tricolor Paulista.

Reinaldo e Juanfran jogando por dentro, Brenner e Gabriel sara dando profundidade e Igor Gomes gerando amplitude pelo lado esquerdo. O gol de Gabriel Sara (o segundo do São Paulo) é o mais puro suco do trabalho de Fernando Diniz à frente da equipe. Intensidade, paciência para achar espaços e objetividade. Foto: Reprodução / TV Globo

Embora tenha terminado a partida com menos posse de bola do que o Atlético-MG (47% contra 53% do Galo), o São Paulo mostrou que é uma equipe extremamente intensa nas suas transições ofensivas. Foram 17 finalizações a gol contra 14 dos comandados de Jorge Sampaoli além de muita qualidade nas trocas de passe e muita inteligência para fazer a leitura certa dos movimentos de um adversário poderoso (números do SofaScore). Se o jogo do primeiro turno acabou marcado pelas polêmicas com o VAR e pela queda abrupta na concentração da equipe do Morumbi, a partida desta quarta-feira (16) nos mostrou um São Paulo mais maduro, resiliente e muito mais ciente daquilo que precisa fazer dentro de campo. É como se os comandados de Fernando Diniz jogassem “de memória”, como se todos os movimentos desejados pelo treinador já fossem realizados de maneira automática. Prova do crescimento da equipe.

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Este que escreve não vai cair no erro de cravar que o Tricolor Paulista já é o campeão brasileiro e que ninguém mais vai conseguir tirar a vantagem de sete pontos na liderança. O futebol já nos pregou diversas peças. Portanto, prudência e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Certo é, no entanto, que esse São Paulo de Fernando Diniz vem jogando o fino da bola há tempos. Só não vê quem não quer.

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