Home Futebol Consistência na marcação e intensidade nas transições: conheça os conceitos táticos de Marcelo Cabo, novo técnico do Vasco

Consistência na marcação e intensidade nas transições: conheça os conceitos táticos de Marcelo Cabo, novo técnico do Vasco

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a passagem do treinador pelo Atlético-GO e explica como ele pode recuperar o elenco vascaíno

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é exagero nenhum afirmar que o Vasco passa por uma das maiores crises da sua história. Não somente pelo quarto rebaixamento para a Série B em treze anos (ainda que o STJD não tenha julgado o pedido de impugnação da partida contra o Internacional), mas por conta de todos os problemas (financeiros e institucionais) causados pelas últimas gestões do clube. É nesse contexto que Marcelo Cabo foi escolhido pela nova diretoria para assumir o comando do time de futebol. Sua missão vai muito mais além do que simplesmente reconduzir o Trem Bala da Colina para a elite do futebol brasileiro em 2022. Trata-se praticamente no resgate da credibilidade de uma equipe que tem sim seus talentos, mas que sofre demais com os problemas extracampo. Mesmo assim, Marcelo Cabo é o tipo de treinador que sabe se adaptar às adversidades e pode se tornar num dos grandes nomes do Vasco nessa retomada.

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Em depoimento concedido ao amigo Wilson Pimentel, este que escreve classificou Marcelo Cabo como um técnico que sabe fazer “omelete sem ovos”, isto é, que consegue montar equipes competitivas sem grandes nomes no seu elenco. Essa característica pode ser facilmente notada no seu trabalho à frente do Atlético-GO. Com jogadores desconhecidos (porém bastante comprometidos com sua estratégia de jogo), Marcelo Cabo conseguiu fazer do Dragão uma das equipes mais surpreendentes dessa reta final do Brasileirão. Vale lembrar que o Atlético-GO criou diversos problemas para Flamengo, São Paulo, Palmeiras e outras equipes que terminaram a competição nas primeiras posições. E isso tudo variando bastante o desenho tático utilizado nas partidas e sempre dando muita atenção ao sistema defensivo. Existia uma proposta de jogo bem clara no seu Atlético-GO. E ela funcionava muito bem.

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O Atlético-GO de Marcelo Cabo aliava muita força na marcação com saída rápida para o ataque sem perder o equilíbrio defensivo. Além disso, criou vários problemas para equipes mais fortes como o campeão Flamengo ao fechar a sua área com muita atenção aos espaços e muita concentração dos jogadores. Foto: Reprodução / Premiere

Na prática, o Atlético-GO utilizava o 4-2-3-1 de Marcelo Cabo como base para variar a formação e desarrumar os adversários com movimentação intensa no terço final e muita velocidade nas transições para o ataque. Nomes como Zé Roberto, Chico (talvez o mais talentoso da equipe goiana), Gustavo Ferrareis e Janderson se encaixaram muito bem nesse estilo e aplicavam muita intensidade nos contra-ataques contra os adversários da equipe. É nesse ponto que Marcelo Cabo pode potencializar ainda mais o faro de gol de Germán Cano no Vasco. Principalmente quando já é público e notório que o argentino tem habilidade com a bola no pé e sabe sair da área para abrir espaços. Não é difícil imaginar o Vasco jogando da mesma forma com Talles Magno, Benítez (enquanto tiver contrato com o clube) e Yago Pikachu se movimentando e abrindo as defesas adversárias depois de algum tempo de treinamento.

O plano de jogo de Marcelo Cabo parte do seu 4-2-3-1 inicial. Sua equipe pode manter essa formação ou mudar para um 4-1-4-1 ou até mesmo um 4-4-2 mais ofensivo dependendo das circunstâncias. Essa estratégia pode fazer com que jogadores como Germán Cano, Talles Magno e Yago Pikachu melhorem seu desempenho. Foto: Reprodução / Premiere

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Já foi falado anteriormente que Marcelo Cabo tem predileção por equipes consistentes na marcação e que saiam em alta velocidade para o ataque. Nesse ponto, os “pontas” ganham muita importância dentro desse esquema tático. Utilizando o jogo contra o Palmeiras como exemplo, era bastante comum ver Wellington Rato e Janderson auxiliando os laterais Dudu e Nicolas na defesa (ou fazendo perseguições mais curtas aos adversários quando a bola ainda está no meio-campo). No entanto, vale lembrar que os dois não guardam posição quando o Atlético-GO tinha a posse da bola. Matheus Vargas e Zé Roberto recuavam e abriam o espaço para que os dois “pontas” atacarem o espaço vazio às costas das linhas defensivas do adversário. Mesmo sem mostrar um grande poderio ofensivo (foram , Dragão sempre levava perigo nos contra-ataques ao executar essa estratégia desenvolvida por Marcelo Cabo.

Sem a bola, os pontas do 4-2-3-1 (ou qualquer outro desenho tático) utilizado por Marcelo Cabo têm funções muito específicas. Sem a bola, eles alternam perseguições mais curtas com um posicionamento mais próximo dos laterais. Com a bola, muita movimentação para bagunçar as defesas adversárias. Foto: Reprodução / Premiere

Marcelo Cabo também sabe fazer adaptações na sua equipe durante o decorrer das partidas. Não era raro ver seu Atlético-GO adiantando as linhas de marcação para pressionar a saída de bola de adversários mais fracos ou se fechando na frente da sua área contra equipes mais fortes (caso da partida contra o Palmeiras). É mais um ponto que explica bem a predileção do treinador por jogadores rápidos e de bom preparo físico nos lados do campo. Ao mesmo tempo, Cabo também gosta de volantes marcadores, com bom passe e que também pisam na área adversária (numa variação para um 4-1-4-1). A tendência das suas equipes é manter o posicionamento e realizar perseguições mais curtas. Caso o lateral feche uma linha de passe e abra espaço às suas costas, um dos volantes fecha por ali para evitar que o adversário receba a bola. Tudo é feito com equilíbrio e organização em cada um dos movimentos defensivos.

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O Atlético-GO de Marcelo Cabo fazia perseguições mais curtas nos momentos defensivos e tendia a fechar a área marcando e duas linhas. Se um lateral sai para fechar uma linha de passe, um dos volantes recua para bloquear o espaço aberto com essa movimentação. Tudo é feito pensando no equilíbrio e na organização. Foto: Reprodução / Premiere

De acordo com o SofaScore (ver tweet no final desta análise), Marcelo Cabo teve a oitava melhor campanha do Brasileirão no período em que esteve à frente do Atlético-GO. São sim números excelentes. Ainda mais quando comparamos o elenco da equipe goiana com o de outras equipes. Mesmo assim, por mais que seu trabalho tenha sido marcado pela consistência e pelo equilíbrio, o novo treinador do Vasco não é mágico e vai precisar de tempo para implementar seus conceitos e potencializar os talentos que terá à disposição. Só que isso nos leva a outro questionamento: como motivar os jogadores e montar uma equipe competitiva com salários atrasados e toda a incerteza que reina nos bastidores do clube de São Januário? O caos financeiro é outro problema grave. Não há dinheiro para reforços e jogadores promissores como Thalles Magno, Andrey e outros passam por uma fase muito ruim. Há salvação?

Sim, há salvação. Mas será preciso que a diretoria vascaína compre as ideias de Marcelo Cabo e busque (na medida do possível) criar condições para que ele faça seu trabalho. Por maior que seja a sua identificação com o clube (ponto que deve facilitar bastante a sua adaptação ao novo elenco). Sua missão no Vasco não é das mais fáceis. E é exatamente por isso que o torcedor vai precisar de paciência nesses primeiros dias da desgastante temporada de 2021.

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