Home Futebol Segurança do Flamengo que salvou vidas de garotos no incêndio do Ninho diz que alguns extintores não funcionaram

Segurança do Flamengo que salvou vidas de garotos no incêndio do Ninho diz que alguns extintores não funcionaram

Segurança que salvou três garotos revelou que o Flamengo lhe aplicou algumas restrições, e o clube rebate

Danielle Barbosa
Jornalista. Escrevendo para o Torcedores desde 2014.

Mais de dois anos depois, a tragédia que aconteceu no Ninho do Urubu, quando um incêndio atingiu o alojamento dos garotos da base e vitimou dez jovens atletas do Flamengo, segue sendo motivo de disputa judicial e sem uma resolução do que, de fato, aconteceu naquele dia. Vale ressaltar que, na última semana, uma CPI da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro apontou nove responsáveis pelo incêndio.

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Em entrevista ao Fantástico, o segurança Benedito Ferreira era um dos funcionários do clube que trabalhavam naquela madrugada e foi responsável por salvar três atletas, relembrou os momentos que viveu.

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Benedito Ferreira contou que tentou usar alguns extintores disponíveis, mas nem todos funcionaram. “Tinham extintores que não estavam funcionando. No início eu usei um extintor de pó químico. Um garoto que tava do meu lado tentou utilizar e não funcionou. Ele tentou me passar e também não funcionou, tentei um terceiro extintor e também não funcionou.”

Em nota oficial, o Flamengo afirmou que “os pontos levantados na entrevista narram uma visão pessoal dele, que não encontra amparo nos fatos, na lei e muito menos no inquérito criminal”. O clube também explicou que “além disso, prova constante do inquérito criminal demonstra que todos os extintores estavam no prazo de validade, devidamente revisados e carregados.”

O funcionário do Flamengo revelou que passou a tomar remédios após o incêndio e que, ao voltar aos trabalhos nove meses depois da tragédia, sofreu algumas restrições por parte do clube, que o impediu de falar com a imprensa, circular por áreas do clube e de trabalhar em jogos do time profissional – o que segundo Benedito Ferreira reduziu a renda mensal da família.

“Eu ganhava entre salário e extras cerca de R$ 4,5 mil, R$ 4,8 mil por mês, e hoje ganho em torno de R$ 1,5 mil. Mas eu nunca pedi nada ao Flamengo. Nunca pedi dinheiro. Sempre falei que queria ganhar, mas com trabalho e suor. Quero trabalhar para conseguir tudo que perdi, ó, escorrendo suor (faz gesto). Acho que eles (dirigentes) nem sabem mais quem é o Ferreira. Mas também não me importo com isso. Eu estou ali pelo Flamengo. Todos vão, o Flamengo fica”, afirmou.

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De acordo com o Flamengo, porém, “Benedito pediu para ser transferido para a Gávea, pois não gostaria de retornar ao CT e foi prontamente atendido.”

O clube ainda afirmou que o segurança não sofreu nenhum corte de salário. “Não houve perda de receita ordinária (salário). A eventual perda decorreu da pandemia, como aconteceu com vários trabalhadores, haja vista que, com a proibição de público nos estádios, o extra que era obtido com presença no quadro móvel dos jogos do Maracanã deixou de existir para a grande maioria das pessoas que trabalhavam nesses eventos. Além disso, outros eventos presenciais foram radicalmente reduzidos, razão pela qual o valor da remuneração de todos os empregados que obtinham extras nesse tipo de evento também foi reduzida ou perdida.”

Por fim, o Flamengo garantiu que “nenhum funcionário do Flamengo foi impedido de circular pelo clube e tampouco proibido de falar com ninguém, muito menos com a imprensa.”

NO DIA DA TRAGÉDIA:

O segurança contou como conseguiu ajudar que três garotos deixassem o contêiner pela janela, evitando que o número de vítimas fosse ainda maior. “Quando cheguei próximo do quarto 3, eu vi a fisionomia de um atleta. Foi quando ele quebrou a janela. E eu consegui tirar três palitos de grade e puxei. Puxei o primeiro atleta, puxei o segundo e o terceiro, que estava muito queimado. E teve mais um que não teve como tirar. Eu preferia entrar e tirar todos os garotos a estar falando aqui. Eu perderia a vida para deixar eles 10 aqui. Eu não sou herói.”

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“Teve um momento em que um garoto chegou para mim e falou: “Tio, lá atrás está cheio”. Aí bateu o desespero, de saber como ia fazer para entrar. Não tinha mais como entrar. Quando chegava atrás do contêiner, no quarto 3, eu vi os garotos, tirei dois. Me ajudaram a puxar o terceiro, que estava muito queimado. Aí eu vi que acabou… (se emociona) quando o teto abaixou. Quando o teto abaixou, não tinha mais como fazer. Eu sentei e fiquei olhando aquela cena. Que nunca mais saiu da minha memória. Até hoje escuto gritarem, que está ardendo, socorro. Um dos garotos, quando consegui puxar, estava muito queimado. Ele olhou para mim e disse: “Tio, não me deixa morrer”. Até hoje penso nisso”, acrescentou.

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