Home Futebol Espanha sofre com irregularidade e desatenção, mas se impõe diante da sempre valente Croácia; confira a análise

Espanha sofre com irregularidade e desatenção, mas se impõe diante da sempre valente Croácia; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as estratégias de Luís Enrique e Zlatko Dalic em jogo válido pelas oitavas de final da Eurocopa 2021

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Num jogo marcado por tantos momentos de emoção, reações inesperadas e muito bom futebol fica até difícil saber por onde começar essa humilde análise. E é preciso dizer que a vitória da Espanha por 5 a 3 sobre a Croácia teve todos esses ingredientes. Muito por conta da incrível irregularidade e desatenção da equipe comandada por Luís Enrique em vários momentos da partida disputada no Parken Staduim, em Copenhaguem. A começar pela falha incrível de Unai Simón, passando também pela reação da “Furia” e pela valentia do time de Zlatko Dalic no tempo regulamentar e por mais uma recuperação espanhola nos trinta minutos extras. Coletivamente falando, essa foi uma melhores apresentações da Espanha nessa Eurocopa, mas também foi o jogo onde ela mais oscilou e flertou com a derrota (e a eliminação). Foi um jogo onde o coração contou muito mais do que qualquer planejamento tático.

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Até Pedri recuar uma bola do meio-campo e o goleiro Unai Simón falhar de maneira clamorosa, a Espanha dominava quase que completamente o jogo e as ações no meio-campo fazendo a famosa inversão do 4-3-3 para o 3-2-5 dentro do plano tático proposto por Luís Enrique. Azpilicueta guardava sua posição pela direita, Gayà avançava um pouco mais no outro lado, Busquets (um dos melhores em campo junto com o jovem Olmo na opinião deste que escreve) distribuía bem o jogo no meio-campo e Morata se movimentava bastante no terço final. Já a Croácia tinha dificuldades para bloquear as descidas do time de Luís Enrique e sofria com as descidas de Sarabia e Ferran Torres às costas dos laterais Juranovic e Gvardiol. No entanto, o panorama mudou depois que a equipe comandada por Zlatko Dalic abriu o placar na já mencionada lambança de Unai Simón e a consequente queda de ritmo do seu adversário.

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Espanha vs Croacia - Football tactics and formations

A Espanha começou melhor a partida, mas caiu drasticamente de produção depois do vacilo de Unai Simón. A Croácia aproveitou essa queda no ritmo e avançou as linhas do 4-2-3-1 de Zlatko Dalic para aproveitar os espaços que apareceram entre as linhas do time de Luís Enrique.

Curiosamente, a Croácia não chutou nenhuma bola na direção do gol no primeiro tempo mesmo tomando o controle das ações no campo e arriscando algumas subidas com Rebic e Vlasic. Na prática, o grande mérito da Espanha foi não abandonar a estratégia e se recuperar rápido do baque sofrido. O empate veio aos 37 minutos com Sarabia aproveitando sobra do goleiro Livakovic quase na linha da pequena área. Com a recuperação da confiança e da concentração, o escrete comandado por Luís Enrique chegou à virada com Azpilicueta (aos onze minutos) e Ferran Torres (aos 31 minutos do segundo tempo) sempre explorando a superioridade numérica e os espaços abertos pela movimentação pelos lados do campo. Ritmo e concentração lá no alto e variações táticas que incluíam tabelas às costas dos laterais croatas ou ligações diretas da defesa buscando Morata e os demais atacantes da Espanha de Luís Enrique.

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Mesmo com o baque sofrido no primeiro tempo, a Espanha não abandonou seu estilo e manteve a estratégia de Luís Enrique. A virada em cima da Croácia foi construída utilizando amplitude, profundidade e superioridade numérica sobre a última linha. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Mas uma das grandes características da Croácia de Zlatko Dalic é a sua já conhecida valentia. Ainda que o plano tático não funcione como o esperado, a equipe de Modric, Brozovic e companhia tem uma força mental muito grande e uma capacidade incrível de superar obstáculos tidos por muito como intransponíveis. As entradas de Orsic, Palasic e Budimir ajudaram a empurrar a defesa espanhola para trás e a dar intensidade ao “abafa” nos minutos finais. Novamente, a Croácia aproveitava a queda de ritmo e de concentração da Espanha. Oscilações que ainda são a grande dor de cabeça de Luís Enrique. Os gols que levaram a partida para o tempo extra saíram aos 39 e aos 46 minutos do segundo tempo e elevavam a confiança do escrete comandado por Zlatko Dalic a níveis estratosféricos. A lembrança do time que encarou prorrogações e decisões por penalidades na Copa do Mundo de 2018 não saía da cabeça.

Croacia vs Espanha - Football tactics and formations

A Croácia aproveitou a queda abrupta de rendimento e a falta de concentração de uma Espanha que tinha a partida controlada e arrancou o empate na base da garra e da valentia. As substituições promovidas por Zlatko Dalic aumentaram o poderio ofensivo da equipe dos Balcãs

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O jovem Dani Olmo (que estava em campo desde os 25 minutos do segundo tempo) se transformaria no grande herói da classificação espanhola. O atacante do RB Leipzig aproveitou a tarde ruim do lateral Gvardiol e explorou bem o lado direito de ataque com passes precisos para Morata e Oyrzabal marcarem os gols que garantiram a equipe comandada por Luís Enrique nas quartas de final da Eurocopa. E vale a pena repetir mais uma vez que a “Furia” voltou para o jogo a partir do momento em que resolveu aumentar o ritmo das jogadas de ataque e recuperou a concentração para “ler” os movimentos do seu adversário da maneira mais correta (sempre no 4-3-3 proposto pelo técnico espanhol). Até o goleiro Unai Simón se redimiu da bobeira no primeiro gol da Croácia com duas defesas cinematográficas em chutes do já mencionado Gvardiol (aos 21 minutos do segundo tempo) e de Kramaric (aos cinco minutos do primeiro tempo da prorrogação).

Dani Olmo entrou muito bem no jogo e fez bom quarteto de ataque com Fabián Ruiz, Morata e Oyrzabal. A Espanha só conseguiu subir de produção quando retomou o ritmo mais intenso e aplicou os conceitos de Luís Enrique em cima do 4-1-4-1 montado por Zlatko Dalic na prorrogação. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

É impossível não perceber aqui as variáveis incontroláveis do velho e rude esporte bretão. A Espanha teve o domínio da partida uma porção de vezes, abriu uma vantagem confortável no placar e quase não permitia que a Croácia levasse algum perigo. Assim que o ritmo caiu, a equipe comandada por Zlatko Dalic crescer, arrancou o empate e levou a partida para a prorrogação. E quando todo mundo esperava uma daquelas viradas históricas no Parken Staduim, a “Furia” retomou o controle, recuperou o foco e aproveitou as falhas do seu adversário para conquistar a (sofrida) classificação para as quartas de final da Eurocopa 2021. O escrete de Luís Enrique tem o melhor ataque da competição (com onze gols marcados em quatro partidas) e ostenta uma invencibilidade de doze partidas. Vitória justa e que comprova a força de uma seleção renovada, mas que ainda oscila demais de uma partida para outra.

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A Suíça (que eliminou a França nas penalidades) não será um adversário fácil para a Espanha. Ainda mais quando já se sabe que a equipe comandada por Vladimir Petkovic consegue explorar bem todas essas oscilações dos seus adversários. A “Furia” ainda é uma das melhores equipes do continente, mas teve suas fragilidades expostas mais de uma vez por uma Croácia valente e briosa. Ao mesmo tempo em que pode fazer três ou quatro gols em poucos minutos, pode sofrer a mesma quantidade logo depois.

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