Home Futebol Já passou da hora de reconhecermos que Abel Ferreira faz um trabalho notável no Palmeiras; entenda

Já passou da hora de reconhecermos que Abel Ferreira faz um trabalho notável no Palmeiras; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas do treinador português e a atuação da sua equipe na vitória sobre o São Paulo de Hernán Crespo

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O título desta humilde análise não é nenhum exercício argumentativo ou tentativa de se “surfar na onda” do resultado desta terça-feira (17). Abel Ferreira faz sim um trabalho notável à frente do Palmeiras. Pelos resultados obtidos em pouco menos de um ano no clube (um título de Libertadores, uma Copa do Brasil, classificação para as semifinais da competição sul-americana e boa campanha no Brasileirão) e pelas mais variadas leituras de jogo absurda do treinador português. A vitória incontestável sobre o São Paulo de Hernán Crespo é um ótimo exemplo do impacto de Abel Ferreira num Palmeiras altamente competitivo e que comprou quase que integralmente as suas ideias. Ele erra e acerta como qualquer outro treinador desse mundão de meu Deus. Mas sempre mostrou alternativas e um vastíssimo repertório tático. Precisamos sim valorizar mias o trabalho do “portuga” no Verdão e deixar de lado a birra e a má vontade de uma vez por todas.

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O feito do Palmeiras nesta terça-feira (17) se torna ainda mais notável quando se observa todo o contexto da partida. O São Paulo vinha de seis jogos sem derrota na temporada e uma invencibilidade de três jogos em cima do rival em jogos eliminatórios de Libertadores. Diante disso, é impossível não ver no gol de Raphael Veiga logo aos dez minutos de partida no Allianz Parque. Abel Ferreira apostou num 3-4-2-1 com encaixes na marcação e perseguições individuais que tiraram toda a criatividade do time de Hernán Crespo. E se saindo surpreendentemente bem. Wesley levava ampla vantagem sobre Daniel Alves (que não viu a cor da bola e errou demais), Dudu, Raphael Veiga e Rony se movimentavam muito na frente da área tricolor e desarrumavam a todo momento a última linha do seu adversário. Um puxava a marcação e o outro infiltrava. Tudo com muita velocidade e acerto nos passes.

Sao Paulo vs Palmeiras - Football tactics and formations

Abel Ferreira apostou num 3-4-2-1 com encaixes e perseguições individuais que praticamente tiraram todo o espaço da equipe do São Paulo. Com muita movimentação na frente e Wesley colocando Daniel Alves “no bolso”, o Palmeiras conseguiu levar ampla vantagem sobre seu adversário.

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O que se via do outro lado era um São Paulo confuso na marcação e que não conseguiu se achar nem mesmo com Gabriel Sara voltando pela esquerda de olho em Marcos Rocha. Na prática, o time de Hernán Crespo só conseguiu desarrumar a bem postada e organziada defesa do Palmeiras quando Rigoni (talvez o mais lúcido do Tricolor Paulista em toda a partida) levou vantagem na base do drible e deixou Pablo na cara do gol, mas o camisa 9 bateu por cima. E é interessante notar o tamanho do volume de jogo do Palmeiras sem ter tanto a posse da bola. Muita marcação, muita concentração para fechar espaços na frente da área e uma execução quase perfeita dos conceitos de Abel Ferreira. Não é a primeira vez que o português muda a estratégia da sua equipe de acordo com o adversário e sai vitorioso. E a vitória em cima do rival só deixa as críticas com relação ao seu trabalho mais vazias e sem sentido.

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A confiança do São Paulo (organizado num 3-5-2 que tinha “cara” de 4-4-2 em alguns momentos do jogo) já estava bastante abalada antes mesmo do intervalo e parece ter sumido de vez quando Dudu acertou belo chute da entrada da área aos 21 minutos do segundo tempo. Hernán Crespo tentou responder com as entradas de Éder e Vítor Bueno, mas sua equipe continuou desorganizada, concedendo espaços demais entre as suas linhas e (principalmente) na frente da área e um tanto quanto apática. Nesse ponto, a estratégia de Abel Ferreira ajudava a potencializar ainda mais o talento de Dudu, Raphael Veiga e Rony através da movimentação intensa na frente da zaga tricolor. Mas também é preciso destacar a belíssima partida que os volantes Zé Rafael e Danilo fizeram na noite desta terça-feira (17). Os dois pisavam na área, distribuíam ótimos passes e ainda participavam ativamente das jogadas de ataque.

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A movimentação constante do Palmeiras desarrumava completamente a defesa do São Paulo e abria espaços entre as linhas da equipe tricolor. Danilo e Zé Rafael também atacavam bastante por dentro e causavam ainda mais problemas para Miranda, Arboleda e companhia. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores

Ainda haveria tempo para Patrick de Paula entrar no jogo e marcar o terceiro do Palmeiras, confirmando a vitória e a clara superioridade da equipe alviverde sobre o São Paulo. Apenas 42% de posse de bola, mas com 13 finalizações a gol (oito no alvo) contra apenas seis do time de Hernán Crespo (sem que nenhuma delas tenha ido na direção do gol de Weverton). Números que mostram bem a consistência defensiva da equipe. E não é a primeira vez que o Verdão mostra muita força mental e concentração para executar o plano de Abel Ferreira e se impor diante dos seus adversários. E aqui fica o questionamento. Como pode existir alguém que afirme com todas as letras que o trabalho do português é ruim? Vale destacar que o treinador alviverde já utilizou muitas variações no desenho tático, substituiu jogadores quando necessário e abriu mão deste ou daquele conceito no mesmo momento em que percebia que sua equipe havia perdido rendimento.

É óbvio que Abel Ferreira erra como qualquer outro treinador erra. Este mesmo que escreve já cobrou o português quando o Palmeiras fez partidas ruins e foi eliminado de competições importantes. Mas tudo observando o contexto e sem cair no discurso de “terra arrasada” que agora parece tomar conta do São Paulo. O mesmo pensamento vale para Hernán Crespo. O argentino cometeu equívocos ao longo da temporada, foi engolido na partida desta terça-feira (17) e não conseguiu tirar sua equipe da armadilha montada por Abel Ferreira. Mas é preciso reconhecer que há um trabalho em curso no Tricolor Paulista e que as lesões simplesmente acabam com qualquer opção de Crespo para mudar um jogo. Erros e acertos vão acontecer. Afinal, errare humanum est, como diriam os antigos romanos. O que não se pode fazer é cair em discursos fáceis que vendem ideias simplórias e equivocadas de treinadores e jogadores.

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Certo é que precisamos reconhecer que Abel Ferreira vem fazendo um trabalho realmente notável à frente do Palmeiras. Chega a espantar o número de alternativas que o português traz na manga para os mais diferentes cenários e consegue fazer leituras apuradas do jogo em questão de minutos. Difícil apontar outro treinador que consiga ser tão preciso na sua estratégia como o comandante do Verdão. Ele erra como eu, você e todos os outros humanos. Mas precisa ter seus méritos reconhecidos.

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