Home Futebol Precisamos admitir que Tite foi sim o melhor técnico brasileiro da década passada; confira a análise

Precisamos admitir que Tite foi sim o melhor técnico brasileiro da década passada; confira a análise

Em matéria especial para o TORCEDORES.COM, Luiz Ferreira explica por que o treinador da Seleção Brasileira merece mais respeito e reconhecimento

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A ideia dessa reportagem especial aqui na coluna PAPO TÁTICO surgiu de um tweet do jornalista Eric Faria (da TV Globo) do dia 25 de outubro desse ano, onde ele elegia Cuca como o melhor treinador brasileiro da última década por conta do seu trabalho no Atlético-MG (onde ganhou a Copa Libertadores da América em 2013), no Palmeiras campeão brasileiro de 2016 e no surpreendente Santos finalista da Libertadores na temporada de 2020. É claro que esse depoimento causou polêmica e abalou as estruturas daquela rede social. Alguns torcedores concordaram com a opinião do repórter e outros apontaram outros treinadores. Cuca merece sim nosso reconhecimento por tudo que fez e faz no futebol brasileiro. Ainda mais pelo “personagem” que encarnou depois de assumir o Atlético-MG pela primeira vez e pelo estilo de jogo chamado de “Cucabol” por alguns jornalistas.

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Este que escreve respeita e entende perfeitamente a opinião e os argumentos de Eric Faria. Mas discorda respeitosamente do experiente profissional por uma série de fatores. O principal deles tem relação direta com o criterio usado para se estabelecer se um técnico é melhor do que o outro. O que diz isso? Títulos? Impacto do trabalho tático no cenário nacional? Inovação nos conceitos implementados? Desempenho coletivo da sua equipe? Ou tudo isso ao mesmo tempo?

É preciso entender que os grandes técnicos do futebol mundial (Rinus Michels, Zagallo, Béla Guttmann, Vittorio Pozzo, Arrigo Sachi, Alex Ferguson, Pep Guardiola, Jürgen Klopp, dentre outros) se notabilizaram pelas suas ideias, seus conceitos inovadores, seu trabalho tático e pelas conquistas. A única exceção a essa regra talvez seja o argentino Marcelo Bielsa, muito mais conhecido pelas ideias do que pelos (poucos) títulos que conquistou. Seja como for, a ideia aqui é mais ou menos essa. E o treinador brasileiro que mais impactou o futebol brasileiro (em todos os sentidos) nessa última década não poderia ser outro senão o senhor Adenor Leonardo Bachi. Ou Tite para os íntimos.

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Cuca, Renato Gaúcho, Luiz Felipe Scolari, Muricy Ramalho, Abel Braga, todos deixaram a sua marca. Para o bem e para o mal também. Mas quando se faz a união dos títulos conquistados com as inovações e a adaptação dos seus conceitos ao que existia de mais moderno no futebol, fica muito difícil não voltar as atenções para tudo que Tite realizou na década passada (período de 2011 a 2020). A começar pelo Corinthians campeão da Libertadores e da Copa do Mundo de Clubes da FIFA em 2012. Desde a final contra o Boca Juniors, o treinador trabalhava cada jogada à exaustão e estudou muito cada adversário que teria pela frente. Contra o Chelsea de Rafa Benítez, Tite montou duas linhas com quatro jogadores na frente de Cássio, não prezou tanto a saída de bola, mas bloqueou as saídas do escrete inglês. Lampard, a referência criativa dos Blues, não teve sossego em nenhum momento da partida.

Na final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, Tite montou o Corinthians de modo a bloquear as principais saídas do Chelsea. A posse de bola não era o mais importante, mas a marcação em cima de Lampard e a organização defensiva ganharam destaque na vitória suada em cima do então campeão europeu. Foto: Reprodução / TV Globo

A última vitória de um clube sul-americano no Mundial de Clubes da FIFA foi marcada pela organização tática, pela compactação (o Corinthians ocupava um espaço equivalente a 25 por dentro do gramado) e pelas saídas em alta velocidade assim que a posse era retomada. Ainda que Tite tenha adotado uma estratégia diferente da que utilizou contra o Boca Juniors (na final da Libertadores), o resultado foi o melhor possível. Difícil não lembrar ainda hoje do gol de Guerrero e das defesaças de Cássio.

Tite saiu do Corinthians em 2013 e voltou em 2015 depois de um ano de estudos. O 4-2-3-1/4-4-2 da final do Mundial de Clubes deu lugar a um organizado 4-1-4-1 numa equipe que contava com nomes como Renato Augusto, Elias, Vagner Love, os jovens Guilherme Arana e Malcom, Gil, Cássio, Jadson e vários outros jogadores que teriam destaque no futebol do Brasil e do exterior dali a alguns anos. E é interessante notar como a equipe se comportou na histórica conquista do Campeonato Brasileiro daquela temporada. Com um ponta mais “agudo” de um lado, um mais “criador” do outro”, muita movimentação ofensiva e a precisão de um relógio nas trocas de passe, Tite montou um Corinthians extremamente difícil de ser batido e que derretia as marcações adversárias (quase sempre feitas por encaixes individuais). O hexacampeonato nacional viria com três rodadas de antecedência.

Tite adotou o 4-1-4-1 como desenho tático básico para encaixar Elias e Renato Augusto no meio-campo do Corinthians campeão brasileiro em 2015. Jadson era o “ponta-armador” da equipe paulista e Malcom se juntava a Vagner Love numa formação que executava o plano de jogo do treinador com o máximo de perfeição possível. Foto: Reprodução / BAND

Depois disso, Tite foi o nome escolhido para comandar uma Seleção Brasileira que vinha de resultados terríveis com Dunga nas Eliminatórias da Copa do Mundo e com uma eliminação ainda na primeira fase da Copa América Centenário. Ainda que sua chegada ao posto mais importante que um treinador pode chegar no Brasil tenha sido marcada por polêmicas (por conta de um manifesto que cobrava mudanças na CBF semanas antes de assumir o cargo), Tite conseguiu recuperar o escrete canarinho usando vários dos seus conceitos trabalhados no Corinthians.

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A começar pela dinâmica colocava pelo quinteto ofensivo (sim, um quinteto). A melhor atuação coletiva da Seleção Brasileira sob seu comando ainda é a vitória por 3 a 0 sobre a Argentina de Messi, Di María e Edgardo Bauza no Mineirão, em 2017. Philippe Coutinho era o “ponta-armador” pela direita no 4-1-4-1 utilizado por Tite, mas aparecia por dentro como um ponta de lança para ocupar a chamada “Zona 14”. Gabriel Jesus arrastava os zagueiros adversários, Neymar acelerava e Renato Augusto ocupava o espaço pelo lado direito. O primeiro gol da partida nasceu de toda a movimentação e intensidade defendida por Tite quando sua equipe tinha a posse da bola.

Philippe Coutinho, Neymar e Renato Augusto davam o tom da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Movimentação, organização e muita intensidade nas trocas de passe no meio-campo. Imagens: Reprodução / TV Globo

A derrota para a Bélgica nas semifinais da Copa do Mundo de 2018 fez com que Tite se tornasse mais pragmático, é verdade. Ainda mais quando sua Seleção Brasileira encontrava dificuldades contra defesas bem fechadas (como as famosas linhas de cinco vistas durante o Mundial da Rússia). A Seleção Brasileira ganhou ainda mais força na defesa e perdeu um pouco da sua fluidez ofensiva nesse período. Tite também aprimorou um elemento que se transformou numa das suas marcas registradas: a pressão pós-perda. A vitória sobre o Peru na final da Copa América de 2019 nasce justamente dessa marcação adiantada. Firmino faz a pressão, recupera a bola ainda na intermediária e aciona Richarlison. Este avança e vê Gabriel Jesus atacando o espaço aberto pela movimentação ofensiva do ataque brasileiro. O atacante do Manchester City entra com liberdade e toca na saída do goleiro peruano. E isso sem Neymar.

Tite ficou mais pragmático, mas aprimorou elementos como a pressão pós-perda e viu sua Seleção Brasileira vencer a Copa América em 2019 executando esses e vários outros conceitos. Imagens: Reprodução / YouTube / SBT Sports

O técnico do último clube sul-americano campeão mundial agora trabalha o 4-4-2/4-2-4 na Seleção Brasileira e vem encontrando na velocidade e na inteligência de nomes como Raphinha, Lucas Paquetá, Antony e Vinicius Júnior a solução para recuperar a fluidez ofensiva dos tempos de 2016 e 2017 e a atuação contra Uruguai e Argentina comprova que a equipe está no caminho certo. Há não gostar do estilo de jogo, do discurso mais rebuscado ou daquilo que o treinador pensa sobre futebol. Mas não há como fechar os olhos para tantas inovações na maneira como montar e pensar o velho e rude esporte bretão na última década. O impacto deixado ao longo do últimos anos pode ser visto em treinadores como Fábio Carille, Sylvinho, Maurício Barbieri, Alberto Valentim, André Jardine e vários outros nomes da geração mais nova de profissionais. Alguns vitoriosos. Outros que ainda buscam seu lugar ao sol. Há um legado que pode ser facilmente detectado.

Este que escreve não pretende diminuir o impacto do trabalho de Cuca, Renato Gaúcho ou qualquer outro técnico nesses últimos anos. Mas os feitos de Tite merecem mais respeito e reconhecimento de todos nós. Ainda que o jornalista Eric Faria mantenha suas opiniões (válidas e justíssimas), este que escreve elege o treinador da nossa Seleção como o melhor da última década. Ainda mais tendo ciência de tudo o que ele fez pela modalidade no país e no mundo.

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