Este que escreve já falou mais de uma vez que toda análise sobre qualquer equipe de futebol do mundo deve ser relativizada e que apontar erros e acertos diante de todo o contexto imposto pandemia de COVID-19 é algo um pouco complicado. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais nossos times estejam oscilando mais do que o normal. Exatamente como o São Paulo de Fernando Diniz. Impossível não perceber que a eliminação da Copa do Brasil para o Grêmio parece ter causado um certo impacto no elenco. O toque de bola não é mais o mesmo, o time já não aplica mais a mesma intensidade e alguns jogadores já não conseguem mais render o que rendiam. A derrota por 1 a 0 para um Santos composto por reservas (e extremamente organizado e ligado em cada jogada) pode ser explicada por estes e outros fatores. O time de Cuca parece ter se adaptado melhor ao contexto e vem colhendo os frutos.
Os números do SofaScore mostram que o São Paulo teve quase 70% de posse de bola e que finalizou incríveis 26 vezes. Destas, no entanto, apenas cinco foram na direção do gol de João Paulo. Por mais que as estatísticas mostrem a superioridade dos comandados de Fernando Diniz em quase toda a partida, o que se viu na prática foi a aplicação tática e a organização de um Santos que negou espaços, se fechou no seu campo e esperou os melhores momentos para chegar ao ataque. Tudo realizado a partir do 4-3-3/4-1-4-1 organizado por Cuca. Vinícius, Jobson e Sandry fechavam a entrada da área e acionavam Arthur Gomes e Lucas Braga pelos lados do campo assim que o escrete santista recuperava a posse. Numa dessas poucas oportunidades (apenas sete finalizações a gol em toda a partida), Jobson aproveitou o cochilo da defesa do São Paulo para abrir o placar no início do segundo tempo.
Difícil não notar a queda de rendimento de uma equipe que ainda tem certa folga na liderança do Brasileirão e que jogava o melhor futebol do país de acordo com parte da imprensa esportiva. É bem verdade que as atuações contra o Atlético-MG e o Flamengo encheram os olhos por conta da maneira como a equipe do Morumbi executava os conceitos de Fernando Diniz. O que pouca gente viu (e vê) é que algumas das jogadas do Tricolor Paulista começaram a ficar manjadas. Não foi por acaso que Cuca orientou que o Santos fechasse o meio-campo e tirasse o espaço de Gabriel Sara, Igor Gomes e (principalmente) o veterano Daniel Alves. O jogo mais truncado (foram quarenta faltas em toda a partida) e a já mencionada posse de bola sem efetividade do escrete de Fernando Diniz contribuíram muito para que a estratégia de Cuca fosse mais bem sucedidada na partida deste domingo (10) no Morumbi.
Cuca fechou o meio-campo do Santos com Vinícius, Jobson e Sandry na frente da última linha para negar espaços a Daniel Alves, Gabriel Sara e Igor Gomes. A equipe abriu mão da posse da bola e viu os comandados de Fernando Diniz encontrarem muitas dificuldades para criar jogadas de ataque.
A entrega e a intensidade colocada na marcação e nas perseguições individuais (de curta distância) fizeram com que o time do Santos diminuísse um pouco esse ímpeto depois dos vinte minutos da segunda etapa. Tanto que Cuca promoveu a entrada de Diego Pituca, Alison, Pará, Luan Peres e Kaio Jorge com o objetivo de colocar “sangue novo” na equipe. Ao mesmo tempo, Fernando Diniz empilhava atacantes e tentou abrir o jogo com as entradas de Gonzalo Carneiro e Tréllez numa espécie de 3-2-5 que esbarrou (mais uma vez) no eficiente bloqueio defensivo do Peixe. E quando o Tricolor Paulista conseguiu superar esse obstáculo, o time esbarrou em mais uma atuação segura do goleiro João Paulo (o melhor em campo junto com Jobson e Madson na opinião deste que escreve. O Santos mostrava a força de um elenco comprometido com as ideias do seu treinador e que soube como frear o ímpeto de um forte adversário.
O Santos de Cuca mostra que é uma equipe muito competitiva mesmo jogando com uma equipe completamente alternativa. E não é exagero nenhum afirmar que o Peixe tem todas as condições de conquistar a vaga na final da Libertadores contra o vitorioso e sempre perigoso Boca Juniors. Ainda mais podendo contar com nomes como Marinho, Soteldo, Alison e Diego Pituca na partida da próxima quarta-feira (13). Já o São Paulo começa a ver seus adversários na briga pelo título brasileiro subindo na tabela da competição. Após a eliminação da Copa do Brasil (onde a equipe ficou marcada pela posse de bola estéril nas duas partidas contra o Grêmio), o Tricolor Paulista não conseguiu recuperar o ímpeto das partidas contra o Botafogo e o Atlético-MG. Muito por conta da ausência de Luciano, justamente o responsável por fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque no escrete de Fernando Diniz.
Mais uma vez: toda análise de qualquer equipe de futebol deve ser relativizada por causa do contexto em que estamos inseridos. Mesmo assim, o São Paulo deixa a impressão que o elenco ainda não se recuperou dos últimos tropeços. Não somente por conta de questões técnicas, desfalques e eliminações. Fernando Diniz precisa mais uma vez se reinventar e recolocar sua equipe nos trilhos para não entornar o caldo de vez.
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