Home Futebol João Paulo segura o Independiente e garante a classificação de um Santos apagado e exageradamente retraído

João Paulo segura o Independiente e garante a classificação de um Santos apagado e exageradamente retraído

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do escrete comandado por Fernando Diniz na partida desta quinta-feira (22)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A atuação do goleiro João Paulo no Estádio Libertadores da América foi simplesmente épica e será lembrada por muito tempo. Só que isso diz muito sobre a atuação do Santos no empate em 1 a 1 com o Independiente nesta quinta-feira (22), em jogo válido pela Copa Sul-Americana. O resultado obtido na casa do “Rey de Copas” foi suficiente para garantir o escrete comandado por Fernando Diniz nas quartas de final da competição. Mas também nos mostrou um Peixe extremamente retraído e um tanto quanto apagado com sérias dificuldades para aproveitar a afobação do Independiente na busca pelos gols que tanto precisava. Além de João Paulo (o melhor em campo disparado), o uruguaio Carlos Sánchez teve boa atuação e provou que não pode ser reserva na equipe do Santos. Ainda mais com tantos garotos sendo utilizados por Fernando Diniz sem uma referência técnica em campo. Mas a noite era de João Paulo e de mais ninguém.

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A crítica deste que escreve com a atuação do Santos tem relação direta com a postura da equipe da Vila Belmiro no início da partida na Argentina. Mesmo precisando de gols para se classificar, o Independiente parecia tímido e sem muita objetividade enquanto o Peixe apenas mantinha a posse da bola e ameaçava muito pouco a meta do experiente Sebastián Sosa. O 4-2-3-1 de Fernando Diniz (que trazia Carlos Sánchez muito mais como um meia de ligação atrás de Kaio Jorge do que um “volante-meia” alinhado a Jean Mota) era organizado, mas encontrava sérias dificuldades para acompanhar o ritmo do seu adversário quando este acelerava nas transições. Principalmente com o lateral Bustos aproveitando as falhas de marcação de Felipe Jonatan pelo lado esquerdo da defesa do Santos. Sem proteção na frente da zaga, o Santos dependia demais do brilho intenso de João Paulo nesse primeiro tempo.

Independiente vs Santos - Football tactics and formations

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Fernando Diniz armou o Santos num 4-2-3-1 que não conseguia aproveitar os espaços que surgiam na defesa do Independiente. Ao mesmo tempo, o Peixe sofria com os avanços de Bustos pela direita e com as investidas dos atacantes do “Rey de Copas” em cima de Camacho e Jean Mota.

Numa das únicas boas jogadas criadas pelo Santos em toda a partida, Marinho roubou bola no meio-campo e acionou Carlos Sánchez. O uruguaio viu o deslocamento de Kaio Jorge às costas da zaga e fez o lançamento que Insaurralde não conseguiu cortar. O camisa 9 apenas deslocou Sebastián Sosa e abriu o placar aos 38 minutos do primeiro tempo. A essa altura, o goleiro João Paulo já havia sido cinematográfico em chutes de Velasco, Silvio Romero e Palacios e continuaria com seu show particular de defesas nos 45 minutos finais no Estádio Libertadores da América. De acordo com os números do SofaScore (ver no tweet abaixo), o goleirão santista fez onze defesas na partida (sendo que seis delas entram no seleto grupo das “defesas difíceis”). Diante disso tudo, é muito difícil não colocar pelo menos uns 80% da classificação para as quartas de final da Copa Sul-Americana na conta de João Paulo.

Mas também é muito difícil não criticar a postura retraída do Santos no segundo tempo. Principalmente depois que Insaurralde foi expulso depois de falta em Marinho pouco antes da linha da grande área. As duas linhas de marcação à frente da área do Peixe não conseguiam fechar o espaço entre elas e nem bloquear as investidas de Bustos, Lucas Rodríguez e Palacios pelos lados do campo, já que os laterais Felipe Jonatan e Madson estavam muito mal na marcação e os pontas Marinho e Marcos Guilherme pouco contribuíam no combate ao adversário. E isso sem falar nos latifúndios que se abriam às costas da última linha do Independiente. Não é exagero nenhum afirmar que as coisas poderiam ter sido muito diferentes se João Paulo não estivesse em noite iluminadíssima na Argentina. O gol de Lucas González (aos 22 minutos do segundo tempo) foi o único chute que o goleiro santista não conseguiu segurar.

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Apesar de todo o espaço à sua frente, o Santos não conseguiu encaixar mais do que dois ataques contra o Independiente. Com uma postura retraída ao extremo e sem saídas pelos lados, a equipe comandada por Fernando Diniz teve que se escorar na atuação épica de João Paulo. Foto: Reprodução / Conmebol TV

O torcedor do Santos pode e deve comemorar a classificação para as quartas de final da Copa Sul-Americana. A comissão técnica e os jogadores, por outro lado, precisam repensar muita coisa. Por mais que a partida contra o Independiente pedisse mais cautela e mais atenção nas transições, a atuação apagada de todo o time (com as exceções de Carlos Sánchez, Kaio Jorge, Luiz Felipe e, é claro, João Paulo) foi um tormento constante no Estádio Libertadores da América. Se Madson e Felipe Jonatan não conseguiam sair, Marinho e Marcos Guilherme pecavam pela falta de objetividade contra um adversário que abriu verdadeiras crateras entre suas linhas. E como aconteceu no Fluminense e no São Paulo, a transição defensiva ainda é um dos problemas mais crônicos do escrete comandado por Fernando Diniz. Por mais que o treinador tenha adequado suas ideias ao contexto do clube, ainda há como melhorar muito.

Fato é que a noite do goleiro João Paulo foi épica pela classificação e pelas defesas de cinema ao longo de toda a partida contra o Independiente. Se a defesa vacilava, lá estava ele para fechar o gol e fazer o torcedor do Peixe se lembrar de Gylmar dos SANTOS Neves, Rodolfo Rodríguez, Cejas, Manga e vários outros grandes nomes do clube santista. Toda a atuação mais apagada e pragmática do time de Fernando Diniz foi compensada com uma atuação que já pode ser considerada uma das maiores da história recente do Santos.

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