Home Futebol Contexto da partida, escolhas ruins e desorganização e explicam atuação ruim da Seleção Brasileira

Contexto da partida, escolhas ruins e desorganização e explicam atuação ruim da Seleção Brasileira

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por Tite na vitória magra sobre o Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
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Toda e qualquer análise da vitória magra da Seleção Brasileira sobre o Chile nesta quinta-feira (2), em Santiago, está condicionada a uma série de coisas. Começando pelo contexto da partida em si. A ausência dos jogadores que atuam no futebol inglês foi bastante sentida pela equipe comandada por Tite. Só que os problemas não pararam aí. O treinador do escrete canarinho sacrificou seus jogadores numa formação que não funcionou no primeiro tempo e acabou com a organização defensiva bem característica dos seus times. Nesse ponto, o intervalo se mostraria fundamental para que Tite (finalmente) fizesse o simples e corrigisse seus equívocos na escalação inicial da Seleção Brasileira. Mesmo assim, a vitória sobre os chilenos não esconde a atuação ruim da equipe ainda que ela possa ser explicada por todo o contexto e por todas as escolhas ruins que vimos dentro e fora de campo.

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Este que escreve confessa que teve certa dificuldade para identificar a formação utilizada por Tite no começo da partida em Santiago. A Seleção Brasileira se organizava numa espécie de 3-4-1-2 com Vinícius Júnior e Danilo nas alas, Lucas Paquetá jogando como uma espécie de “enganche” (atrás de Neymar e Gabigol) e Alex Sandro atuando como um terceiro zagueiro junto a Éder Militão e Marquinhos. No entanto, o que se via era uma equipe espaçada ao extremo, sem organização e que sobrecarregava Casemiro e Bruno Guimarães na frente da zaga. Além disso, Neymar fazia uma partida tenebrosa em todos os sentidos. Tite ainda tentou organizar as coisas trazendo Lucas Paquetá para o lado esquerdo e deixando Vinícius Júnior mais próximo do ataque. Mesmo assim, a variação para o 5-2-3 apenas povoava a frente da área defendida por Weverton (que salvou a Seleção Brasileira com três boas defesas no primeiro tempo).

Tite apostou num 3-4-1-2/5-3-2 que não deu liga na Seleção Brasileira e viu sua equipe sofrer muito contra um Chile intenso e firme (até demais) na marcação. Casemiro e Bruno Guimarães tinham muito espaço para cobrir e Danilo, Lucas Paquetá e Vinícius Júnior demoraram para se achar no esquema tático. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Enquanto Vidal e Pulgar faziam grande jogo pelo Chile, a Seleção Brasileira adotava uma postura mais reativa justamente por conta dessa desorganização, marcando em bloco bem baixo e tentando aproveitar os espaços que apareciam na defesa adversária, mas sem muito sucesso. A atuação ruim da sua equipe no primeiro tempo fez com que Tite percebesse o óbvio: faltava organização e presença ofensiva. Nesses aspectos, as entradas de Gerson e Everton Ribeiro foram muito importantes para o escrete canarinho ganhasse mais consistência. Mas foi o camisa 11 (que foi jogar como o “enganche” do 4-3-1-2 utilizado no início do segundo tempo) que fez a diferença ao reter mais a bola no ataque e buscar os espaços vazios. Exatamente como fez no único gol da partida pouco depois da “corneta” de Roger Flores (comentarista da TV Globo) bem no início do lance. Acabou que o camisa 11 estava no lugar certo o tempo todo e foi fundamental em toda a jogada.

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Everton Ribeiro entrou no jogo e se posicionou como o “enganche” do 4-3-1-2 da Seleção Brasileira no segundo tempo. O posicionamento do camisa 11 mais à frente foi fundamental em todo o lance que originou o único gol da partida após jogada de Danilo pela direita e defesa de Bravo em chute de Neymar. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Com a vantagem no placar, Tite retornou ao seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro com Everton Ribeiro mais à direita, Paquetá fechando o corredor pelo outro lado e Matheus Cunha no lugar de Gabigol. Por mais que a Seleção Brasileira não tenha sofrido sustos muito grandes até o final da partida, é preciso deixar claro que a atuação da equipe esteve muito abaixo daquelas que já vimos em outras partidas na atual temporada. Nesse ponto, é preciso destacar as boas atuações do goleiro Weverton e da dupla de zaga formada por Éder Militão e Marquinhos, talvez os únicos jogadores de linha que passaram segurança e mantiveram o nível das suas atuações. O Chile, por sua vez, não conseguiu levar muito mais perigo. Nem mesmo com as mexidas promovidas pelo técnico Martín Lasarte, que abriu mão do seu 5-3-2 com as entradas de Palacios, Valdés e Jiménez já no segundo tempo da partida em Santiago.

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Tite desfez o 4-3-1-2 e trouxe Everton Ribeiro para o lado direito na segunda linha à frente da defesa. Na prática, a Seleção Brasileira retomou seu 4-4-2/4-2-4 das últimas partidas da equipe nas Eliminatórias da Copa do Mundo. O Chile não conseguiu ser efetivo nem com as entradas de Palacios, Valdés e Jiménez. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Este colunista entende perfeitamente a necessidade de se encontrar novas alternativas táticas numa Seleção Brasileira que sofreu demais com os desfalques de última hora. Não é fácil rever todo um planejamento dentro de um contexto completamente desfavorável como esse. Por outro lado, Tite poderia ter feito o simples e respeitado mais as características dos seus jogadores. Vinícius Júnior não rendeu como ala (e ficou perdido quando foi jogar mais avançado), Danilo não tem características de lateral apoiador, Bruno Guimarães sofreu para cobrir os espaços à sua frente e Gabigol (que teve atuação razoável na partida) sofreu demais com a noite horrorosa de Neymar no comando de ataque. Mas é preciso deixar claro que todos os jogadores que estiveram em campo foram (muito) prejudicados pelas escolhas iniciais de Tite. A Seleção Brasileira esteve muito abaixo daquilo que nos acostumamos a ver.

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Mas também precisamos falar de Neymar e da relutância de Tite em manter o camisa 10 em campo mesmo completamente fora de ritmo, forma e sintonia. Este que escreve entende muito bem que a presença do atacante do Paris Saint-Germain em campo é importantíssima para impor respeito nos adversários e para servir de referência técnica aos demais companhiros de equipe, mas até para isso existe um certo limite. E ele foi ultrapassado nessa quinta-feira (2). Neymar esteve numa das suas piores noites com a camisa da Seleção Brasileira de longe. E mantê-lo em campo nesse estado acabou sendo um risco desnecessário assumido por Tite num jogo que acabou se tornando extremamente complicado por conta de tudo o que foi colocado anteriormente. O camisa 10 é sim importante na Seleção Brasileira. Mas só poderá fazer a diferença de verdade se recuperar a forma física e “jogar para o time”.

Certo é que Tite e toda a sua Seleção Brasileira têm muito o que aprender com a atuação diante da equipe chilena. O contexto até serve de justificativa para a atuação abaixo da média, mas as escolhas iniciais do treinador do escrete canarinho e a desorganização tática provocada por elas não podem ser ignoradas. Ainda mais quando se sabe que o Brasil terá uma Argentina organizada e intensa pela frente no próximo domingo (5).

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