Home Futebol São Paulo atropela as Sereias da Vila e prova que fazer as escolhas certas é fundamental no futebol de alto nível

São Paulo atropela as Sereias da Vila e prova que fazer as escolhas certas é fundamental no futebol de alto nível

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o time de Lucas Piccinato aproveitou os problemas coletivos do Santos de Tatiele Silveira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Futebol é espaço. É contexto. É a melhor invenção da Humanidade depois do pão de queijo e do sorvete de flocos. Quem acompanha a coluna aqui no TORCEDORES.COM já deve ter se deparado com essas máximas mais de uma vez. Só que esse velho e rude esporte bretão é tão cheio de variáveis e detalhes que exige concentração absoluta das duas equipes que estão em campo. Diante disso, não é difícil concluir que o futebol de alto nível, o futebol bem jogado passa também pelas escolhas certas. Em todos os momentos. Foi mais ou menos isso que o São Paulo de Lucas Piccinato nos mostrou nesta segunda-feira (1) com a vitória por 4 a 0 sobre um Santos desorganizado e muito espaçado na Arena Barueri. A partida também deixava claro que tudo é consequência de alguma coisa no futebol. É a atacante que desperdiça uma grande chance é a defesa que vacila, é a treinadora que erra na escalação e no posicionamento da equipe. E ficou bem claro que Tatiele Silveira e as Sereias da Vila fizeram escolhas muito ruins contra o São Paulo.

PUBLICIDADE

Já se sabia que o Santos teria que sair mais para o jogo por conta da derrota pelo placar mínimo no jogo de ida. Esse talvez tenha sido a principal razão pela qual a equipe da Vila Belmiro entrou em campo num 4-2-4 insano e altamente ofensivo, com Bia Menezes e Bruninha nas laterais, Amanda Gutierrez e Analyuza pelos lados e Cristiane se juntando a Byanca Brasil no comando de ataque. Muita pressão na saída de bola e linhas bem altas na marcação para tentar travar as saídas do 4-4-2 do São Paulo. É interessante notar aqui uma diferença básica entre as duas equipes. O escrete comandado por Lucas Piccinato também apostava numa postura mais ofensiva, mas mostrava muito mais organização e tranquilidade para tomar decisões. Além disso, o grande trunfo do Tricolor Paulista era a movimentação de Glaucia entre as zagueiras e volantes das Sereias da Vila e a constante troca de posição entre Yaya, Jaqueline e Carol no terço final. Difícil não perceber que o São Paulo parecia muito mais inteiro e mais concentrado em campo.

Formação inicial das duas equipes na Arena Barueri. Tatiele Silvera apostou num 4-2-4 mais ofensivo e com linhas altas de marcação para aumentar o poderio ofensivo das Sereias da Vila. Do outro lado, Lucas Piccinato mantinha a formação habitual do seu São Paulo, mas com muito mais organização e muita movimentação do seu quarteto ofensivo.

Toda escolha tem uma consequência. Principalmente no futebol. Ao posicionar Cristiane e Byanca Brasil mais fixas no ataque e prender Amanda Gutierrez e Analyuza pelos lados, Tatiele Silveira deixou as Sereias da Vila sem mobilidade no quarteto ofensivo. O problema estava quando o São Paulo conseguia furar a primeira linha de marcação. Brena e Júlia ficavam completamente sobrecarregadas na marcação e não conseguiam dar conta de Glaucia, talvez o grande nome da partida junto com a goleira Carla. A camisa 9 do São Paulo atuava como uma espécie de “camisa 10” de direito ao sair circular por todo o campo de ataque e ainda acionava as companheiras de equipe com passes precisos. Além de ter iniciado a jogada do gol de Carol (que saiu de campo lesionada), Glaucia também mostrou objetividade quando foi necessário. Como no toque de primeira para Micaelly deixar Yaya na cara de Michelle no lance do segundo gol tricolor da Arena Barueri. Ótimas escolhas produzem consequências boas. É simples.

Glaucia recebe passe de Formiga e arma o contra-ataque do São Paulo com um leve toque de primeira para Micaelly. O time de Lucas Piccinato explorou bem os espaços entre as linhas das Sereias da Vila. Imagens: Reprodução / SPORTV

Enquanto Tatiele Silveira apostou nas entradas de Ketlen e Erikinha nos lugares de Analuyza e Júlia, Lucas Piccinato não alterou a maneira da sua equipe jogar, visto que já sabia que teria ainda mais espaços para explorar na segunda etapa. E a goleada na Arena Barueri parecia questão de tempo diante do insano e anacrônico 4-1-3-2 (às vezes algo perto de um 4-1-5) das Sereias da Vla, que escancararam ainda mais a defesa e isolaram Cristiane no comando de ataque. Tanto que o São Paulo repetiu a receita do primeiro tempo para chegar ao terceiro e ao quarto gol na Arena Barueri. Interceptação de Formiga no meio-campo, bola para Glaucia armar o contra-ataque e chegada em altíssima velocidade de Jaqueline e Yaya entrando em diagonal na direção da meta defendida pela goleira Michelle. Vale aqui destacar mais uma vez que as escolhas feitas pelo time de Lucas Piccinato se mostraram muito mais felizes do que as realizadas pelo Santos. Principalmente da sua camisa 9, uma das melhores em campo com toda a certeza.

PUBLICIDADE

Glaucia não se limitou a permanecer estática no ataque. A camisa 9 circulou por todo o campo e foi importantíssima nos contra-ataques, seja iniciando as jogadas ou chegando na área para concluir a gol. Imagens: Reprodução / SPORTV

É fato que as escolhas de Tatiele Silveira tenham sido influenciadas pelo contexto da partida e pela maneira como sua equipe se comportava dentro de campo. Nesse ponto, a concentração (ou a falta dela) também se fizeram presente nas Sereias da Vila. Impossível não perceber como o Santos baixou o ritmo depois que Byanca Brasil perdeu chance cristalina na frente de Carla quando o placar apontava apenas 1 a 0 a favor do São Paulo. Ou a postura das jogadoras do Peixe quando o time de Lucas Piccinato vencia a primeira linha de marcação. Por mais que a equipe da Baixada Santista tenha feito uma partida bem abaixo do que pode e do que já fez em outras oportunidades, é preciso lembrar sempre que Tatiele Silveira está iniciando seu trabalho no clube que muita coisa ainda pode mudar para a temporada de 2022. A começar pelo aproveitamento das jogadoras mais jovens em detrimento de uma ou outra mais experiente que não esteja correspondendo dentro de campo apesar do lobby de alguns comentaristas. Não disse quem.

Seja como for, a eliminação doída no Brasileirão Feminino parece ter feito bem ao São Paulo e a Lucas Piccinato. O time parece mais organizado e mais seguro dentro de campo. Principalmente com a presença de Formiga no meio-campo. A veterana pode estar dando seus últimos chutes no futebol feminino (apesar do desejo deste que escreve de que ela não pare nunca), mas é impressionante a calma que ela passa para as mais novas. E calma é fundamental para se fazer boas escolhas. Principalmente no futebol de alto nível.

CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO:

Ceará vence o Fluminense e prova que saber se defender é uma das artes mais incompreendidas do futebol

PUBLICIDADE

Goleada do Corinthians sobre a Ferroviária é uma verdadeira aula de como superar retrancas e defesas fechadas

Flamengo repete “receita” de Abel Ferreira e conquista triunfo importantíssimo sobre o Atlético-MG; entenda

Reunião de talentos salva um Manchester United irregular e sem muitas ideias em boa vitória sobre o Tottenham