Home Futebol Chelsea vence a retranca do Tottenham na base da leitura dos espaços, da intensidade e da persistência

Chelsea vence a retranca do Tottenham na base da leitura dos espaços, da intensidade e da persistência

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Thomas Tuchel e Antonio Conte e a atuação de Blues e Spurs no Derby desse domingo (23)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Mais do que os três pontos conquistados neste domingo (23), em Stamford Bridge, a vitória justíssima sobre o Tottenham também quebrou o incômodo jejum de quatro jogos sem vitórias do Chelsea na Premier League 2021/22. Por mais que se compreenda que as duas equipes estão cansadas por conta da pegada forte da temporada europeia, estava mais do que claro que Thomas Tuchel precisava tentar algo novo em termos táticos, algo que devolvesse um mínimo de competitividade aos Blues. Acabou que a retranca imposta por Antonio Conte (que escalou quatro zagueiros, dois laterais e dois volantes atrás de Harry Kane e Bergwijn) facilitou bastante a vida de um Chelsea mais ligado e mais intenso nas movimentações ofensivas. A mudança na formação e na postura dos jogadores foi determinante para que Mason Mount, Ziyech, Lukaku e companhia finalmente reencontrassem o caminhos das vitórias.

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Vale lembrar que o próprio Thomas Tuchel afirmou que sua equipe estava cansada e que algumas peças não vinham rendendo o esperado. Por mais que se possa discordar das palavras do treinador alemão, os números e os últimos resultados do Chelsea na Premier League apontavam exatamente nessa direção. A última vitótia dos Blues no “Inglesão” aconteceu no dia 26 de dezembro do ano passado, quando o escrete londrino venceu o Aston Villa por 3 a 1 em Birmingham. Foram três empates de uma derrota (para o líder Manchester City). A sequência só não foi completamente negativa porque os Blues venceram o Tottenham duas vezes pela Copa da Liga Inglesa e golearam o Chesterfield pela FA Cup.

Mesmo assim, a distância para os líderes da Premier League ia aumentando a cada rodada que se passava na mesma proporção em que o elenco do Chelsea ia passando pela maratona de jogos do calendário (igualmente insano) do futebol europeu. É por isso que a partida contra o Tottenham valia tanto para Thomas Tuchel e companhia. Primeiro por superar um adversário que vinha de nove rodadas (seis vitórias e três empates) sem derrotas no “Inglesão”. E depois pela retomada da confiança e do ânimo de um elenco estrelado.

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Adepto do esquema com três zagueiros, Thomas Tuchel mudou a formação do Chelsea para esse jogo contra o Tottenham. O treinador dos Blues apostou num 4-3-3 que trazia Azpilicueta e Sarr como laterais, Jorginho protegendo a última linha, Kovacic e Mason Mount jogando mais por dentro, Ziyech e Hudson-Odoi pelos lados (jogando como os famosos pontas com os “pés invertidos) e Lukaku no comando de ataque. Do outro lado, possivelmente por conta do desgaste e do cansaço de algumas das suas principais peças, Antonio Conte radicalizou sua proposta reativa ao escalar Tanganga, Davinson Sánchez, Eric Dier e Ben Davies na sua última linha com Doherty e Sessegnon jogando como os meias abertos do seu 4-4-2 mais ortodoxo. Na prática, o Tottenham jogava com uma linha com quatro zagueiros, dois volantes (Hojberg e Winks) e apenas Harry Kane e o iluminado Bergwijn no comando de ataque.

Tottenham vs Chelsea - Football tactics and formations

Thomas Tuchel escalou o Chelsea num 4-3-3 com Hudson-Odoi, Ziyech e Lukakuk no ataque. Já Antonio Conte apostou num 4-4-2 altamente reativo e compactado no Tottenham.

De acordo com os números do SofaScore, o Chelsea teve incríveis 74% de posse de bola no primeiro tempo e finalizaram sete vezes na direção do gol de Lloris. Enquanto o Tottenham deixava bem claro que ia jogar no erro dos Blues, o escrete comandado por Thomas Tuchel tentava a todo momento entrar na área dos Spurs buscando Lukaku ou qualquer outro jogador que pisasse lá dentro. Depois do intervalo, o Chelsea começou a explorar mais as finalizações da entrada da área com uma leitura boa dos movimentos defensivos do seu adversário. Por mais que a área estivesse altamente congestionada, havia espaço de sobra ali na famosa Zona 14. Foi dali que Ziyech acertou o ângulo de Lloris logo no primeiro minuto do segundo tempo e também foi dali que apareceram as principais chances dos Blues no segundo tempo. Difícil não ver nesse recuo excessivo do Tottenham um problema bem sério.

Lukaku e Hudson-Odoi arrastavam as duas linhas de marcação do Chelsea para trás e abriam espaços na frente da área. Foi desse setor que surgiram as melhores chances dos Blues na partida e de onde Ziyech marcou o primeiro gol da partida. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

É interessante notar que essa leitura dos espaços fez com que o Chelsea fosse dominando a partida e empurrando o Tottenham para trás. Dentro desse contexto, fica cada vez mais difícil entender por que Antonio Conte demorou tanto para mexer na sua equipe e desfazer esse ferrolho já superado pelo seu adversário. E foi na base da persistência e da intensidade que o Chelsea ia encontrando espaços e tomando conta da partida. Nesse ponto, as funções exercidas por Mason Mount e Kovacic no 4-3-3 de Thomas Tuchel foram importantíssimas para que os Blues dominassem as ações. Um deles avançava quase junto a Lukaku para arrastar um dos zagueiros dos Spurs para trás. E o outro aparecia como opção na entrada da área para a finalização a gol ou o passe em profundidade. Na prática, o 4-3-3 do Chelsea se transformava num 2-3-5 de muita intensidade e ótima ocupação dos espaços.

Kovacic pisa na área, arrasta a marcação do Tottenham e abre o espaço em que Mason Mount aparece para receber o passe de Hudson-Odoi do lado esquerdo. A movimentação dos dois “interiores” do Chelsea foi fundamental para bagunçar a defesa dos Spurs. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Quando Antonio Conte finalmente resolveu mexer no Tottenham, Thiago Silva (que teve uma atuação MONSTRUOSA na partida) marcou o segundo gol dos Blues. E para segurar o ímpeto do seu adversário, Thomas Tuchel lançou mão de Kanté e Marcos Alonso. A equipe de Stamford Bridge se fechou na defesa e concedeu apenas duas chances claras para o Tottenham (um chute de Bergwijn e uma cabeçada de Harry Kane), todas defendidas pelo espanhol Kepa Arrizabalaga com segurança. Muito pouco para quem vinha de uma ótima sequência na Premier League e para quem encarava uma equipe em relativa má fase na competição. O Chelsea saiu vencedor porque teve mais ímpeto ofensivo, teve uma melhor leitura do jogo e executou melhor o plano de jogo do seu treinador. Futebol também é estratégia. E Thomas Tuchel (o melhor técnico do mundo em 2021) deixou isso bem claro mais uma vez.

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Enquanto os Blues quebram o jejum de vitórias no “Inglesão”, o Palmeiras vai ficando de olho no time londrino para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA. Existe sim a esperança de que o escrete alviverde supere o atual campeão europeu em caso de classificação para a final. Mas é preciso ter em mente que o Chelsea é o tipo de equipe que sabe se reinventar e que possui uma concentração absurda. Prova disso tudo é a ótima vitória sobre o Tottenham neste domingo (23).

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