É plenamente compreensível que o torcedor do Flamengo tenha saudades de Jorge Jesus por conta de todo o “ano mágico” de 2019. No entanto, por mais que o sucesso do “Mister” aqui por estas bandas tenha sido impressionante, a grande verdade é que a sua segunda passagem pelo Benfica não pode ser classificada de outra maneira senão como decepcionante. Pelo menos até o momento. Nesta quarta-feira (23), os Encarnados jogaram voltaram a jogar mal e foram derrotados pelo bem organizado e aplicado time do Porto por 2 a 0 na partida que decidiu o campeão da Supertaça Cândido de Oliveira. Resultado justíssimo diante do que as duas equipes mostraram no Estádio Municipal de Aveiro. Enquanto a equipe comandada por Sérgio Conceição mostrava um jogo coletivo consistente, o escrete de Jorge Jesus pecava demais pela falta de compactação e de objetividade com a bola nos pés. Deu no que deu.
Este colunista já havia falado sobre como o Benfica (apesar de todas as dificuldades desse ano completamente atípico) vinha se adaptando aos conceitos do “Mister’. O empate em 3 a 3 com o Rangers pela Liga Europa mostrava uma equipe que conseguiu superar as adversidades daquela partida. O grande problema, no entanto, é que os comandados de Jorge Jesus simplesmente não conseguiram impor seu estilo de jogo diante do seu adversário. O Porto de Sérgio Conceição fechava espaços no seu 4-4-2 e acelerava o jogo pelos lados com os ótimos e velozes Manafá e Sanusi e com Taremi e Marega empurrando a (pesada e lenta) dupla de zaga do Benfica. Aliás, Otamendi e Vertonghen (embora bastante dedicados) eram os jogadores que mais sofriam com a falta de compactação do escrete encarnado. Weigl tentava reduzir o estrago, mas era outro que sofria com a falta de combatividade do meio-campo.
Enquanto o Benfica encontrava muitas dificuldades para executar os movimentos do já conhecido 4-1-3-2 de Jorge Jesus, o Porto de Sérgio Conceição fechava espaços e saía em alta velocidade para o ataque. A falta de compactação no meio-campo dos encarnados só facilitou a vida de Marega, Taremi, Corona e companhia.
O gol marcado por Sérgio Oliveira em cobrança de pênalti sofrida por Marega só evidenciava a superioridade dos Dragões na partida. Mesmo sem ter mais posse de bola do que seu adversário, o Porto de Sérgio Conceição aplicava um jogo vertical eficiente e explorava bem os espaços e o nervosismo do Benfica de Jorge Jesus. O “Mister”, por sua vez, tentava orientar sua equipe, mas sem sucesso. Darwin Núñez seguia muito bem vigiado por Pepe e Mbemba, Everton Cebolinha participou muito pouco das jogadas ofensivas, Rafa Silva e Taarabt não conseguiam criar jogadas e Waldschmidt deu a impressão de estar meio perdido dentro do esquema tático da sua equipe. De acordo com o SofaScore, o Benfica terminou a partida com 52% de posse de bola, mas finalizou apenas sete vezes ao gol de Marchesin (contra 13 finalizações do Porto). O gráfico abaixo mostra bem essa falta de objetividade dos Encarnados.
O segundo tempo acabaria sendo uma repetição do primeiro. Com a vantagem no placar, o Porto simplesmente se fechou na defesa e esperou o melhor momento de contra-atacar seu rival. Ao invés do 4-4-2 inicial, no entanto, o técnico Sérgio Conceição resolveu fechar ainda mais o meio com a entrada de Luis Díaz no lugar de Taremi. Organizado num 4-3-3/4-1-4-1, as coisas ficaram ainda mais fáceis para os Dragões, já que o Benfica seguia cometendo os mesmos erros. Os Encarnados atacavam de maneira completamente desorganizada e ainda abriam espaços generosos na frente da sua dupla de zaga. No último minuto do tempo regulamentar, Corona recebeu na intermediária e lançou Luis Díaz pela esquerda. O colombiano se livrou da marcação e chutou na saída de Odysseas. Era o gol do título e o prêmio para a equipe que teve a melhor atuação no Estádio Municipal de Aveiro. E essa equipe foi o Porto.
Sérgio Conceição fechou sua equipe nos minutos finais da Supertaça Cândido de Oliveira e apenas esperou o momento certo para encaixar o contra-ataque e dar números finais ao jogo. Jorge Jesus, por sua vez, empilhou atacantes e viu o Benfica tropeçar nos próprios pés e só ameaçar o gol de Marchesin nas bolas paradas.
É público e notório que todo mundo esperava que Jorge Jesus fosse repetir no Benfica todo o sucesso que teve no comando do Flamengo nos últimos meses de 2019 e nos primeiros meses de 2020. O que se vê, no entanto, é exatamente o contrário. O elenco dos Encarnados foi mal montado e todo o dinheiro investido em contratações (cerca de 96 milhões de euros segundo a imprensa portuguesa) foi gasto em nomes no mínimo questionáveis. Por mais que se leve em consideração todo o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 em todo o mundo (e por mais que se conclua que são pouquíssimas as equipes que estejam apresentando um bom futebol nesse complicado ano de 2020), o “Mister” frustra todas as expectativas em torno do seu trabalho. É bem verdade que o material humano do Benfica é pior do que o do Flamengo de 2019. Mas Jorge Jesus vem errando demais a mão na beira do gramado.
O Benfica é o segundo colocado no Campeonato Português, foi eliminado pelo PAOK (então comandado por Abel Ferreira) na fase eliminatória da Liga dos Campeões, se classificou na segunda posição do seu grupo na Liga Europa e agora vê o Porto levar a Supertaça Cândido de Oliveira. A vida do “Mister” não anda nada fácil no seu retorno aos Encarnados. Ainda mais sabendo do potencial do treinador.
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— FC Porto (@FCPorto) December 23, 2020
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