Home Futebol Rogério Ceni e a linha tênue que delimita o que é estratégia e o que é teimosia; confira a análise

Rogério Ceni e a linha tênue que delimita o que é estratégia e o que é teimosia; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as últimas atuações do Flamengo e tenta buscar soluções para os problemas crônicos da equipe

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A terceira Lei de Newton diz que, para toda força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação em um corpo diferente na mesma intensidade, na mesma direção, mas com sentido oposto. A chamada “lei da ação e reação” também existe no futebol. No campo da física em si e também no campo das ideias. Decisões certas produzem resultados bons e vice-versa. É mais simples do que parece. Dentro desse panorama, existe aquilo que realmente faz parte de uma estratégia e o que pode ser resumido como “teimosia”. É nesse ponto que entra Rogério Ceni. Este que escreve compreende muito bem que o treinador do Flamengo tem suas convicções sobre a melhor maneira de organizar uma equipe. Só que é preciso entender bem o que faz parte de um plano de jogo e o que não faz. Ainda mais com o escrete rubro-negro caindo vertiginosamente de produção por conta das decisões de Rogério Ceni.

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O SofaScore realizou uma comparação entre os números de Rogério Ceni e Domenèc Torrent nas primeiras quinze partidas de cada um no comando do Flamengo. À primeira vista, já dá pra concluir que o time tem muito mais dificudades para atacar e defender do que nos tempos do treinador catalão (que tinha enormes dificuldades para organnizar a zada do Fla). No entanto, enganam-se aqueles que dizem que o escrete rubro-negro não tem padrão de jogo com Rogério Ceni. Todos os elementos estão lá: Willian Arão recuando entre os zagueiros, aproximação entre Gerson, Arrascaeta e Bruno Henrique, ultrapassagens de Isla no corredor aberto por Everton Ribeiro e a movimentação de Gabigol no comando de ataque. O grande problema está na execução de todos esses elementos. Hoje, o Flamengo é um time sem a intensidade dos tempos de Jorge Jesus e sem a mobilidade ofensiva dos tempos de Dome.

A derrota para o Athletico Paranaense no último domingo (24) escancarou as dificuldades que os comandados de Rogério Ceni têm de executar esses movimentos. No lance do gol marcado por Abner mostrou um Flamengo bastante desarrumado na defesa e quase sem compactação entre as suas linhas. Vitinho e Filipe Luís permitiram que Nikão tivesse todo o tempo do mundo para realizar o cruzamento para a área, Everton Ribeiro não acompanhou e o lateral-esquerdo do Furacão teve total liberdade para escorar e abrir o placar. Fora isso, a falta de compactação entre as linhas e a fraquíssima pressão pós-perda só facilitaram a vida do escrete comandado pelo experiente Paulo Autuori. Voltando ao comparativo do SofaScore, não é difícil concluir que o Flamengo continua frágil na defesa. Mesmo com a chegada de um treinador conhecido pelo bom trabalho defensivo feito pelo Fortaleza nas últimas temporadas.

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Filipe Luís e Vitinho não dão o combate, Diego e Gerson não diminuem o espaço entre eles e a linha defensiva e Everton Ribeiro não acompanha Abner. O primeiro gol do Athletico Paranaense é uma amostra perfeita da desorganização defensiva do Flamengo nessas últimas partidas. Foto: Reprodução / TV Globo

Voltando à terceira Lei de Newton e ao início desta humilde análise, toda ação terá uma reação. É assim na vida e é assim no futebol (esporte muito mais humano do que muitos de nós pode pensar). Difícil entender o que Rogério Ceni quis com as mexidas na partida deste domingo (24). Principalmente por ter sacado Gabigol e Arrascaeta do jogo (os jogadores mais talentosos do time do Flamengo) e escalar Rodrigo Muniz ao lado de Pedro no comando de ataque. Paulo Autuori, por sua vez, fechou as linhas do seu Athletico Paranaense com os “pontas” fechando o corredor dos laterais e esperou o momento certo para encaixar o contra-ataque que decidiria a partida. Some essa estratégia (bem executada) a todos os problemas coletivos do Flamengo e você terá um verdadeiro “combo” de problemas dentro de campo. Seja na má fase de jogadores como Everton Ribeiro ou nas escolhas ruins de Rogério Ceni.

Paulo Autuori aproveitou a desorganização e a falta de intensidade do Flamengo para montar a estratégia do Athletico Paranaense em cima desses pontos fracos. E Rogério Ceni facilitou ainda mais a vida do seu adversário na partida ao realizar mexidas muito ruins na sua equipe. Foto: Reprodução / TV Globo

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Diante disso é impossível não notar que as decisões de Rogério Ceni influenciaram pioraram demais o desempenho do Flamengo na partida. Principalmente por desfazer todo seu plano ofensivo e por confundir o que é estratégia e convicção com pura e simples teimosia. É plenamente compreensível que cada treinador tenha suas convicções e seu jeito preferido de armar suas equipes. No entanto, a grande diferença entre os técnicos “comuns” e os “foras de série” reside no fato de que estes últimos sabem adaptar seus concentos às características dos jogadores. E o mais interessante é que Rogério Ceni estava nesse caminho. A vitória sobre o Goiás mostrou um Flamengo mais envolvente jogando no 4-2-3-1 e o triunfo sobre o Palmeiras mostrou uma equipe mais encorpada que abria espaços com Diego e Gerson e que municiava Gabigol com Everton Ribeiro e Arrascaeta se movimentando entre as linhas.

Na vitória sobre o Palmeiras, Gerson e Diego puxavam a marcação e abriam espaços para a movimentação de Everton Ribeiro e Arrascaeta na frente da defesa. Ao mesmo tempo, Gabigol dava profundidade ao ataque arrastando o sistema defensivo para trás. Há um padrão de jogo definido e que funcionou muito bem. Foto: Reprodução / Premiere

Talvez o ponto mais polêmico de toda essa trajetória de Rogério Ceni como treinador do Flamengo seja a insistência em afirmar que Pedro e Gabigol não podem jogar juntos. Este que escreve respeita, mas discorda dessa tese. Ainda mais quando o camisa 9 poderia facilmente ser escalado na posição de Everton Ribeiro na formação utilizada contra Goiás e Palmeiras com o camisa 21 entrando no comando de ataque. Aliás, vale lembrar que os dois já atuaram assim com Domenèc Torrent e mostraram boa desenvoltura num 4-2-3-1 que era organizado e que colocava muita intensidade nas transições com Arrascaeta vindo por dentro, Gerson e Thiago Maia protegendo a zaga e Matheuzinho e Ramon voando pelos lados do campo. É lógico que algumas adaptações precisam ser realizadas por conta do contexto atual. Mas há sim como se escalar Gabigol e Pedro no ataque sem que a equipe perca equilíbrio.

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Gabigol e Pedro já mostraram que podem jogar juntos no ataque sem que a equipe do Flamengo perca equilíbrio. A goleada sobre o Independiente del Valle no Maracanã (pela Copa Libertadores da América) mostrou uma boa dinâmica entre os dois jogadores e o restante do escrete rubro-negro. Foto: Reprodução / FOX Sports Brasil

Este que escreve entende muito bem que é muito fácil falar do sofá da nossa casa que o treinador deveria ter feito isto ou aquilo. Ali no campo, na hora em que a bola rola, as coisas são muito mais complicadas do que parecem. O grande problema, no entanto, está nas tomadas de decisão de um determinado treinador e na maneira como os jogadores executam esse plano pré-determinado por ele. E voltando ao foco desta análise, o Flamengo anda caindo pelas tabelas por conta de uma série de problemas criados pelas decisões de Rogério Ceni nas últimas partidas. A impressão que fica é que o treinador não parece seguro o suficiente para fazer as substituições que são necessárias (quando o time não rende o esperado) e se perde quando percebe que precisa agir. Com isso, os próprios jogadores ficam sem saber o que fazer dentro de campo e a equipe como um todo acaba se perdendo.

Diante disso, ficam os questionamentos. Será que a diretoria do Flamengo não sabia que Rogério Ceni demorou para emplacar seu estilo de jogo e encontrar a melhor formação quando estava no Fortaleza? E que o mesmo treinador quase foi demitido em 2018 por conta da queda no Campeonato Cearense? Alguém lá dentro do “conselho de futebol” percebeu que o estilo de jogo de Ceni é muito diferente daquele que Jorge Jesus implementou no Flamengo no “ano mágico” de 2019? Todas as respostas para as perguntas acima poderiam ser facilmente encontradas com uma pesquisa rápida na internet. Vemos mais uma vez que os dirigentes rubro-negros (que sempre se acham acima do bem e do mal) seguem o modus operandi da maioria dos demais cartolas do Brasil: muita pompa, muita grife e pouca efetividade. Diante disso, fica ainda mais fácil compreender os 7 a 1 sofridos diante da Alemanha em 2014.

A situação do Flamengo nessa reta final de Campeonato Brasileiro, o trabalho de Rogério Ceni (incluindo seus conceitos e a maneira como pensa suas equipes), a má fase de Everton Ribeiro e a escalação de Pedro e Gabigol juntos no ataque foram alguns temas que este colunista abordou na LIVE acima com a amiga Tamires Fernandes, dona de um perfil cheio de conteúdo de muita qualidade sobre o Flamengo. É só acessar o Instagram e (é claro) seguir a pequena Mires por lá.

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