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Futebol americano no Brasil: com tantos gastos, como a modalidade consegue respirar?

Pesquisa realizada com mais de 30 times de futebol americano mostra os valores, principais dificuldades, e como as empresas podem ter um retorno de investimento, se apostarem nesta modalidade, no Brasil

Danilo Lacalle
Jornalista de formação, e atleta por opção. Especialista em esportes americanos e apaixonado por esportes radicais.

Treinos debaixo do sol, campos emprestados e, muitas vezes, poucos equipamentos qualificados para praticar o esporte. Esse é apenas o topo do iceberg que dirigentes e integrantes de equipes do futebol americano brasileiro enfrentam para conseguirem fazer a modalidade continuar em vigor, a cada ano, no Brasil. Isso porque este é um esporte caro. E não são apenas os equipamentos que pesam no bolso de quem o pratica. Para as equipes que buscam ter notoriedade no cenário nacional ou até mesmo, apenas no próprio estado, são inúmeros mil reais que precisam ser desembolsados a cada partida, se quiserem ver a bola oval em campo.

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Para um atleta de futebol americano entrar no gramado, ele precisa de um capacete, uma ombreira (shoulder), uma calça especial com acolchoado (seven pieces) e chuteira. Parece simples, visto que, nos Estados Unidos, jogadores têm esses materiais disponibilizados por suas escolas, na maior parte das ocasiões, em programas que acreditam que o esporte pode auxiliar na formação de cada aluno. No Brasil, o equipamento completo sai por volta de R$2.000, usados, se pechinchados em grupos de Facebook. E isso é apenas o começo.

Caso o jogador opte por utilizar equipamentos novos (e, assim, de maior segurança e durabilidade), podem adquirir em lojas oficiais, que importam artigos de futebol americano para o Brasil, como a Guerreiros do FA, Urlacher Shop, Loja SportAmerica, entre outras. Porém, com o dólar acima de R$5, munir-se apenas com equipamentos novos pode pesar no orçamento, passando dos 4 mil reais.

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Nesta matéria, você vai entender como funciona e quais são todos os principais gastos para a prática da modalidade, em terras brasileiras, após pesquisa realizada pelo Torcedores.com, em junho de 2021, com 35 dos principais times de futebol americano, que atuam no Brasil.

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Um – bom – salário a cada jogo 

Não, os dirigentes dos times não recebem um bom salário a cada partida. Em cada jogo disputado, a média gasta por equipe no Brasil é de 8.405 reais, de acordo com pesquisa pelo Torcedores. Isso é 8 vezes mais do que o salário mínimo no Brasil, em 2021. E que muitas vezes é bancado pelos próprios integrantes das equipes. Dentro desses gastos, estão a locação de campo (média de R$3.800 entre os times do Brasil), ambulâncias (R$900), arbitragem (R$1.500), profissionais estatísticos (R$100), seguranças (R$400), sistema de som ( R$500), água e gelo para os atletas (sim, existe esse gasto e custa em média R$400 por jogo), narradores para a partida in loco (R$180), fotógrafos (R$200), gravação (R$275) e confecção de ingressos (R$150), em valores médios.

 

Ainda, quando existe uma viagem a ser realizada pelas equipes, o gasto pode subir consideravelmente. Isso porque o valor médio investido para se locomover a uma partida de campeonato nacional em outro estado, traz um acréscimo de R$11.135 no orçamento dos dirigentes.

 

Para amenizar os gastos das equipes, alguns campeonatos estaduais, como a SPFL (São Paulo Football League), fornecem como retorno do pagamento da inscrição dos times, o custeio dos quesitos presentes na lista (ambulância, pintura de campo, staff, arbitragem, águas, gelos e mão de obra). Ainda, a liga rateia todos os custos com suas equipes integrantes, onde os dirigentes não recebem dinheiro para realizá-la. Assim, as equipes não têm o trabalho de organizar a partida, diferente de outros campeonatos no Brasil. Soma-se todos os gastos divide-se pelo número de jogos, tirando o trabalho operacional dos times.

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Um mundo diferente da NFL

A National Football League é onde os principais times de futebol americano no mundo estão. E o faturamento da NFL é algo que foge dos padrões de qualquer outro esporte norte-americano. Uma análise conduzida pela Kantar revelou que o Super Bowl de 2020 gerou um valor recorde em suas 4 horas de transmissão. O faturamento publicitário subiu 33%, com 448,7 milhões de dólares, em comparação com a edição de 2019, superando o recorde anterior de 430 milhões de dólares, em 2017, quando a prorrogação da partida gerou exibições extras dos comerciais.

Nos últimos cinco anos, o valor de 30 segundos de propaganda durante a partida subiu 9%, e pode atingir 5,6 milhões de dólares na edição deste ano. Dados do Ibope Repucom apontam crescimento de 35% dos fãs de NFL brasileiros, nos últimos anos. Em 2016, 15,2 milhões de pessoas no Brasil se declararam fãs de futebol americano. Já em 2020, o número subiu para 27 milhões de pessoas. Só para você ter uma noção, isso equivale a 343 Maracanãs lotados, ou um pouco mais que duas vezes a população da cidade de São Paulo, além de ser um número maior que a população dos estados da Bahia e Santa Catarina, juntos. Ou seja: é muita gente.

Ainda em 2020, de acordo com pesquisa realizada pela Kantar Ibope Media, o Super Bowl, que também foi transmitido ao vivo no Brasil, teve a presença publicitária de nada menos que 37 marcas de 29 categorias, ao decorrer da partida. Das 162 aparições ao longo do jogo, 60% correspondiam ao formato de 30 segundos. Já o formato mais curto, de 5 segundos, correspondeu a quase 1/3 das aparições. Foram elas a Mapfre (1ª), Samsung (2ª ), CCAA (3ª), Budweiser (4ª), Claro (5ª), Ágora (6ª) e Mitsubishi (7ª).

“A relação de Budweiser com a NFL é de longa data. Somos a cerveja oficial da liga e do Super Bowl e estendemos essa parceria a diversos países, inclusive o Brasil. Temos uma grande relação com os esportes internacionais que vai além das questões relacionadas à venda de produtos, mas passa, principalmente, pelo fato de criarmos experiências para o consumidor, que extrapolam o que acontece dentro do campo de jogo”, afirma Alice Alcantara, head da Budweiser no Brasil, em entrevista exclusiva ao Torcedores.com. “Cada vez mais, o brasileiro tem demonstrado interesse pela NFL e quer consumir essa liga de todas as maneiras possíveis. Por isso, queremos aproximar ainda mais as pessoas da liga, trazendo o clima do que acontece nos Estados Unidos para os fãs brasileiros com ações inesquecíveis que fiquem marcadas em sua memória.” – concluiu.

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Ainda, Alice afirma que a intenção da marca é continuar fomentando o esporte.

“A cada ano, o interesse do público brasileiro pela NFL só cresce, e como parceiros oficiais, queremos ficar marcados na cabeça desses fãs como a cerveja que entende a paixão pelo esporte e é capaz de proporcionar experiências únicas na Liga. Nosso investimento e aposta na Liga se mantém e, nas próximas temporadas, vamos continuar ao lado do fã do esporte nos momentos de torcida e celebração.” – revela Alice Alcantara.

Em contrapartida, no Brasil, a maior parte da entrada de renda dos times, é realizada por venda de ingressos para as partidas, comércio dos produtos oficiais da equipe, programas de sócio torcedor e patrocínios de empresas que acreditam na modalidade. Em poucos casos, pode-se encontrar equipes que conseguiram captar recursos por meio de leis de incentivo ao esporte, o que disponibiliza quantias um pouco mais elevadas, entre 80 e 100 mil reais.

Empresas que apostaram na modalidade, no Brasil

No cenário do futebol americano brasileiro, existem empresas líderes do mercado que investiram na modalidade. Como no caso da TIM, marca de telefonia, que adquiriu a cota de patrocínio master do Coritiba Crocodiles, durante a pandemia, em 2021.

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“A TIM é uma empresa de serviço que tem no cliente sua principal motivação. Desta forma, ao nos associarmos a times regionais, nos aproximamos dos nossos usuários. Queremos estar não somente em pontos de venda, lojas e locais tradicionais, mas também onde o cliente tem paixão, associando a marca ao sentimento que ele tem pela equipe. A TIM entende que manter patrocínios como esses, especialmente de modalidades ainda com pouca visibilidade, contribui nesse momento que passamos em que vários setores, inclusive o esporte, que precisam de apoio para continuar suas ações, manter seus atletas e, principalmente, divertir seus torcedores”, conta Carlos Abilhoa, Gerente de Marketing da TIM para a Região Sul. “Nos aproximar do Coritiba Crocodiles – que é o time de futebol americano do Coritiba Foot Ball Club – nos enche de orgulho por várias razões. O Crocodiles é um time referência no país. Atualmente, é bicampeão brasileiro e oito vezes vencedor do campeonato paranaense de futebol americano. Além disso, o clube nasceu em Curitiba, cidade onde a TIM também é referência. E o Paraná é um dos maiores mercados da TIM Brasil.” –  revela Abilhoa.

Ainda, outras organizações de fora deste nicho voltaram os olhos para esta modalidade, no país. A Hinova Pay já fechou parceria com o Corinthians Steamrollers, a faculdade UniCesumar, com o Mooca Destroyers e a SICREDI, com o Cuiabá Arsenal. No Galo Futebol Americano, é possível encontrar patrocínios do Grupo Sada, Supermercados BH, MRV e também da Hinova Pay. Mas por que essas organizações de grande porte têm buscado investir no futebol americano?

“Temos nos empenhado muito em aumentar a capilaridade da TIM, especialmente em cidades do interior, seja com a abertura de pontos de atendimento, como também com a ampliação da cobertura do 4G ou com a ativação de frequências de maior capacidade […] Parcerias como a feita com o Crocodiles nos permite imaginar inúmeras possibilidades. Além da própria presença da marca e proximidade com os clientes, nos permite ainda ampliar o leque de benefícios oferecidos aos consumidores, com ofertas e promoções que fazem parte da contrapartida do apoio”, destaca Carlos Abilhoa.

Qual é o real ROI que a empresa pode ter, investindo no futebol americano?

Conseguir captar patrocínio para uma modalidade não é uma tarefa fácil. No futebol americano a situação se mantém, por mais que algumas empresas já estejam familiarizadas com o investimento no esporte. Isso porque, grande parte, não identifica o retorno sobre o investimento (ROI), que pode aumentar a receita mensal daquela marca, a partir do incentivo ao futebol americano.

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Para a marca que está investindo, não basta apenas ser inserida em publicações nas redes sociais, com o logo aparecendo. Mas sim, é importante impactar a base existente e os clientes da equipe, com criatividade e custo baixo. Além disso, é essencial criar a oportunidade do patrocinador gerar novos negócios para que o retorno seja satisfatório, como:

  • Palestras;
  • Permitir e incentivar a interação entre a base e a marca;
  • Realizar negociação de Naming Rights;
  • Disponibilizar experiências exclusivas como, por exemplo, benefícios que sejam voltados aos clientes do patrocinador;
  • Acesso aos dados captados da base de forma que seja adequada à LGPD;
  • Presença de marca em uniformes e banners on e offline;
  • Criação de conteúdo vinculada à marca;
  • Ações de product placement;
  • Pesquisa de hábitos do público junto à marca;
  • Sorteios exclusivos;

“As empresas podem ter um retorno de investimento no futebol americano aqui no Brasil a partir do momento que elas passarem a olhar com uma visão de empreender e fomentar o crescimento do esporte. É necessário que entendam que esta é uma das modalidades que mais cresce no mundo, com visibilidade de exposição na mídia e com potencial de negócios alto, a partir do momento que elas começam a interagir com a paixão e captar a atenção dos fãs. Como o futebol americano, aqui no Brasil, ainda é carente da presença de marcas, existe um oceano de possibilidades para as empresas que investirem, podendo se apropriar desse assunto de forma que ofereçam produtos e serviços aos fãs da modalidade”, ressalta Dayyán Morandi, Diretor de Marketing a Confederação Brasileira de Futebol Americano e CEO do Grupo LX.

O futuro da modalidade com as marcas

Atualmente, o Brasil conta com 18 mil atletas praticantes, 442 equipes federadas, e 11 entidades filiadas, como Paraná, Pará, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amazonas, Pernambuco, Cerrado (ativos) e Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo apenas constituídas, de acordo com a CBFA. Ainda, recentemente, foi anunciado a construção do primeiro complexo voltado inteiramente para o futebol americano, no Brasil. A final do Campeonato Brasileiro de 2019 foi transmitida ao vivo nos canais ESPN. E, só no Youtube, vídeos com a partida completa ultrapassam 40 mil visualizações. Pontos que são um avanço para o esporte, que vem ganhando mais audiência, a cada ano.

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“Os direitos de transmissão de um campeonato de futebol americano são uma das maiores receitas que existem no mundo do esporte. A negociação de transmissão da NFL chamou a atenção de todo o mundo esportivo, por ser bilionária. E isso, com certeza, vai mudar o cenário publicitário e de venda de cotas nos Estados Unidos. Acredito que, aqui no Brasil, empresas que já investem na publicidade durante a programação da NFL têm, sim, interesse em investir no futebol americano brasileiro. Mas acho que, a principio, esse investimento será realizado em produção de conteúdo. Porque essa produção é o que vai despertar o interesse do fã e aumentar a visibilidade da modalidade brasileira”, destaca Dayyán Morandi. “A partir do momento que a produção de conteúdo for realizada com maior eficácia e volume, em menos tempo, as marcas passarão a ter uma oferta maior para investir. E nosso objetivo é esse, fazer com que a oferta cresça para que as empresas possam entrar e aproveitar as possibilidades desse esporte”, conclui.

O crescimento do futebol americano tem sido um fator exponencial nos últimos anos e que tem feito o capital girar. De acordo com a NFL, o Brasil é o 2º país do mundo com mais fãs do esporte, fora dos Estados Unidos, atrás apenas do México. Ainda, com a possibilidade do Flag Football entrar nos Jogos Olímpicos de 2028, a projeção para o crescimento da modalidade da bola oval é enorme, e pode trazer ainda mais retornos para as empresas que apostarem no momento atual do FABR.

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