Home Opinião Allan Simon: Red Bull não precisa que a Globo diga seu nome no Bragantino

Allan Simon: Red Bull não precisa que a Globo diga seu nome no Bragantino

Marca austríaca de energéticos tem projeto mundial com “times Red Bull” e público que não se informa só pela TV

Allan Simon
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo. Trabalha com esportes desde 2011 e já passou por veículos como R7 (Rede Record), Abril.com, UOL Esporte e Torcedores nas funções de redator, repórter, editor e apresentador de vídeos. Experiências de coberturas em duas Copas, duas Olimpíadas, dois Pans. Atualmente, produz o Blog do Allan Simon, é colunista de Mídia Esportiva do Torcedores e colaborador do UOL.

O mais correto seria que todos nós da mídia esportiva chamássemos as coisas pelos seus nomes. Assim sendo, não apenas o Bragantino agora se chama Red Bull Bragantino, o estádio do Palmeiras é Allianz Parque, os dois maiores rivais do vôlei feminino brasileiro até hoje neste século eram “Rexona” (ou “Unilever”) e “Finasa” (ou “Sollys”, “Molico”, Vôlei Nestlé”, etc). Seria.

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Isso posto, o começo da temporada do futebol abre uma nova polêmica com o fato de que os veículos do Grupo Globo não vão chamar o Bragantino pelo nome completo. Estão chamando apenas pelo nome original do clube. Agora que a FPF (Federação Paulista de Futebol) já oficializou a mudança na semana passada em seu site oficial, o mínimo do mínimo seria pelo menos falar “RB Bragantino”. Mas essa é uma discussão infértil. Não vai nos levar a lugar algum.

A verdade é uma só: a Globo tem como política antiga não falar nomes de marcas que, na opinião dela, se aproveitam dos naming rights para aparecer “de graça” em sua programação. O histórico Esporte Clube Banespa, fundado em 1930, já chegou a virar um reles “Santo Amaro” quando disputava a Superliga de Vôlei. Tudo para não expor uma marca que sequer existia no fim da primeira década do século 21, tendo sido completamente absorvida pelo banco Santander. Portanto, não seria a Red Bull a conseguir tal feito sem pagar.

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Até 2003, quando o departamento de Esportes da TV Globo passou a ser responsável pelo conteúdo do SporTV, o canal pago da Globosat tinha uma política diferente da emissora aberta. Vídeos antigos e fáceis de serem encontrados no YouTube mostram que na Superliga de Vôlei, por exemplo, marcas como BCN/Osasco, Leites Nestlé, Colgate/São Caetano, etc, eram faladas normalmente.

No futebol, a Red Bull sequer é pioneira ao colar sua marca em um clube já existente. Nos anos 1990, por exemplo, a Lousano entrou no Paulista de Jundiaí, que adotou o nome de “Lousano Paulista”. Foi inclusive campeão da Copinha em 1997 com essa nomenclatura. Na TV Globo, na época, era “Paulista”. Anos mais tarde, o clube migrou para as mãos da Parmalat, famosa parceira do Palmeiras e do Juventude. Virou “Etti Jundiaí”, nome que era dito no SporTV durante a Liga Rio-São Paulo de 2002, mas não na TV Globo.

Mas há uma diferença fundamental que faz a Red Bull sequer precisar da benevolência da Globo: o projeto é internacional, tem diversos clubes espalhados por aí, e não depende dessa exposição de nome na emissora. A marca de energéticos tem um público-alvo mais jovem que sequer se informa apenas pela televisão. Um público que não vai deixar de saber que a empresa é dona do Bragantino. E que já não deixa de saber que a equipe que fez Sebastian Vettel tetracampeão mundial de Fórmula 1 se chama Red Bull, e não “RBR”.

No Google Trends, serviço que mostra as tendências de pesquisas dos internautas no site de buscas mais importante do mundo, já é possível notar um crescimento dos termos “Red Bull Bragantino” e “RB Bragantino” recentemente, em especial da última semana de dezembro para cá.

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As pesquisas no Google por “Bragantino” são muito mais volumosas, é verdade, mas estamos em um processo de mudança. O novo nome do clube foi anunciado na virada do ano, nem um mês completou. Só apareceu no site da Federação Paulista após o início da primeira rodada do estadual.

Uma análise mais detalhada mostra que “Red Bull Bragantino” e “RB Bragantino” estão crescendo em buscas em diversas regiões do Brasil, com destaque para São Paulo, que é justamente o seu estado. Entre pesquisas relacionadas, aparecem “red bull bragantino camisa”, “red bull bragantino 2020”, “red bull compra bragantino”, termos que já denotam um interesse direcionado na marca nova.

Já o gráfico do termo “Bragantino” revela outra coisa importante: o volume de buscas nos últimos tempos é concentrado no Pará. O futebol paraense tem um clube chamado Bragantino, que inclusive vai disputar a Copa do Brasil em 2020. Além disso, o segundo termo relacionado na lista é “camisa bragantino red bull”.

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Ou seja, entre o público jovem e adulto que acessa a internet, certamente o principal consumidor dos produtos da Red Bull, não há mais dúvidas de que o Bragantino está cada vez mais ligado à marca austríaca. Assim como ninguém na rua, no bar, no ônibus, no táxi, no carro do aplicativo, etc, fala “Arena Palmeiras”, e “Allianz Parque” pegou com louvor na sociedade, o Red Bull Bragantino conseguirá o mesmo.

No primeiro caso, foi fundamental a postura principalmente da torcida do Palmeiras, mas também dos internautas em geral, para construir uma cultura de fala. Agora a situação se repete. É você, torcedor de futebol, não importa de qual clube, que fará prevalecer o nome do time de Bragança Paulista.

Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.

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