Home DESTAQUE Allan Simon: Mídia precisa dar exemplo de bom senso ao lidar com esporte e coronavírus

Allan Simon: Mídia precisa dar exemplo de bom senso ao lidar com esporte e coronavírus

Pandemia do novo coronavírus está cancelando e adiando eventos esportivos em todo o mundo

Allan Simon
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo. Trabalha com esportes desde 2011 e já passou por veículos como R7 (Rede Record), Abril.com, UOL Esporte e Torcedores nas funções de redator, repórter, editor e apresentador de vídeos. Experiências de coberturas em duas Copas, duas Olimpíadas, dois Pans. Atualmente, produz o Blog do Allan Simon, é colunista de Mídia Esportiva do Torcedores e colaborador do UOL.

É chato começar uma nova semana e saber que não haverá jogos da Libertadores, da Champions League, da Copa do Brasil, e provavelmente mais nenhum outro evento esportivo que nos acostumamos a ter em novos aparelhos de televisão, celular, computador, tablets, etc. Sim, é chato. Mas é fundamental colocar em primeiro lugar a saúde pública.

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A mídia esportiva tem a missão de dar exemplo de bom senso ao priorizar as ações de contenção ao novo coronavírus, que tem se espalhado com velocidade pelo planeta e provocado milhares de mortes em vários países. A rapidez do contágio transforma eventos esportivos em verdadeiros riscos desnecessários para a população e estão sendo corretamente cancelados ou adiados nos últimos dias.

Vai ser um período muito difícil em termos de números para quem trabalha com esporte. Teremos algumas semanas sem eventos em uma época que não tem saídas fáceis, como o tradicional mercado da bola das férias, ou a simples substituição de um período de intervalo de temporada pelo outro. Em dezembro e janeiro, você não fica sem futebol por causa da Europa. Quando os europeus entram em férias, em junho, é o nosso calendário que está a todo vapor. Agora, ambos vão ficar parados.

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Isso implica em prejuízos claros e financeiros. Mas esse ponto deve ficar em segundo, terceiro, quarto plano. Diversos setores da economia mundial também serão afetados, muita gente vai perder dinheiro, trabalhadores autônomos terão dificuldades para fechar suas contas no Brasil, e o mundo do esporte não pode achar que vai passar ileso sozinho. É irresponsabilidade defender a continuidade de competições esportivas.

A Fórmula 1 deu um exemplo patético ao segurar até o último instante, na semana passada, para cancelar o GP da Austrália e depois confirmar o adiamento das demais corridas marcadas para março e abril. A Premier League também hesitou demais. No Brasil, federações como as de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul deixaram para os clubes a decisão de suspender ou não os estaduais.

No vôlei, a CBV fez a TV deixar tudo pronto para o primeiro jogo do mata-mata da Superliga Feminina antes de anunciar o que deveria ter sido uma decisão óbvia, a suspensão do torneio. CBF e Federação Mineira de Futebol deram exemplos melhores e já suspenderam seus torneios na base da canetada.

No fundo, as entidades que levaram as decisões para seus filiados não estão sendo democráticas. Elas estão é lavando as mãos (não do jeito bom para a contenção do coronavírus, lavemos as nossas no sentido literal o tempo todo) e transferindo responsabilidades. A rodada do último fim de semana teve jogos lamentáveis com portões fechados que nem sequer deveriam ter sido realizados. Passaram a impressão de que foram mantidos porque estava “muito em cima” para mudar as grades das emissoras.

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Até para fugir dessa impressão, cabe à mídia agora dar o exemplo de bom senso e deixar bem clara a posição: em primeiro lugar, a saúde da população. Depois, o lazer, a diversão. Todos devemos arcar com os prejuízos em nome do nosso futuro como sociedade. Não deve haver pressão pela retomada das competições antes que haja um controle efetivo por parte das autoridades sobre o avanço da covid-19.

Aos fãs do futebol que, assim como eu, sentirão muita falta dos jogos na TV a partir desta semana, peço que entendamos o momento que estamos vivendo. Nos preservemos, contestemos aqueles que insistem em minimizar o que é grave, e rejeitemos com vigor ideias estúpidas, como manter os campeonatos em andamento com portões fechados ou com presença limitada de público. Da mídia esportiva, da qual faço parte, espero a paciência necessária para que isso possa passar sem maiores danos.

Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.

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