Home Torcedoras Torcer em paz: um luxo que as mulheres não tem

Torcer em paz: um luxo que as mulheres não tem

Em tempos de isolamento social muitas coisas me vêm à cabeça. Umas delas é: como é triste ser mulher e gostar de futebol. Nós amamos tudo, ficamos ansiosas e quando chegamos perto do estádio o coração já começa a palpitar, as mãos começam a suar e lógico queremos a vitória. Por qual motivo essa lembrança seria triste? Pelo preconceito que as mulheres sofrem dentro dos estádios.

Laila Aguiar
Eu sempre sonhei em fazer jornalismo, desde criança ser jornalista era um sonho. Hoje estou no 5 semestre da faculdade, curso na Universidade Católica de Santos. Também gosto muito de esporte e essa é a área que eu quero seguir profissionalmente. Além dos textos publicados aqui na plataforma eu tenho uma página no Instagram onde falo sobre a situação da população em situação de rua, são textos mais de conscientização e reflexão sobre o tema. Atualmente eu trabalho em uma TV e lá eu faço de tudo da pauta até a montagem.

Infelizmente o futebol é um esporte machista, na verdade ele nasceu assim. No começo o esporte só era de homens, somente eles poderiam jogar e até torcer. Para se ter uma ideia chegou a existir uma lei para proibir as mulheres de jogarem bola. A lei 3.199 de 14 de abril de 1941 dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.

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Além da lei, os veículos de comunicação apoiavam esse tipo de ação, os jornais chegavam a colocar em suas manchetes frases como: “Pé de mulher não foi feito para se meter em chuteiras”. O machismo chegou ao ponto de existir argumentos médicos que proibissem as mulheres de praticar o esporte. Nesses argumentos sem sentido, se falava que durante as disputas de bola, poderiam acontecer cotoveladas nos seios e no útero, assim, elas ficariam inférteis e não poderiam amamentar.

Frases com esse tom machista são escutadas até hoje pelas mulheres. Pode perguntar para qualquer mulher que goste de futebol que com certeza ela já escutou frases como: “Gosta de futebol pra ficar perto de homem”, “Se você gosta mesmo de futebol me explica o que é um impedimento”, “Mulher que gosta de futebol é piranha”, entre outras diversas frases. Ir ao estádio também é um problema, em um ambiente machista e repleto de homens (não todos machistas) as mulheres relatam que não se sentem à vontade e algumas sofrem abusos.

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Assédio em quem torce

No dia 10 de março aconteceu mais um assédio durante o jogo entre Botafogo e Paraná, disputa pela Copa do Brasil. O caso aconteceu da seguinte forma: tinha uma moça na torcida. O rapaz que estava na cadeira atrás dela, se sentou e começou a filmar e tirar fotos a bunda da moça. Um homem que estava vendo a cena decidiu filmar o ato machista e o assédio que o outro estava cometendo.

Com as fotos nas redes sociais alguns outros homens comentam frases como: “Qual é o problema de fotografar uma bunda gostosa” outro chega a dar uma justificativa: “Sinal que o jogo estava um tédio e que ela era bonita e estava em local público”. Por essas e por outras que as mulheres evitam estar nesse ambiente.

Assédio em quem trabalha

No dia Internacional da Mulher deste ano a jornalista Larissa Baliero viveu mais um episodio de machismo nos estádios. Durante o jogo entre São Raimundo e Manaus FC, disputado pela primeira rodada do returno do Campeonato Amazonense. Os torcedores soltaram frases como: “mulher vagabunda” eles também fizeram gestos obscenos para a moça.

A Larissa filmou e colocou o vídeo em suas redes. Ela também procurou o Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas e contou o acorrido. Ela conseguiu identificar um dos homens e disse em sua rede social: “Fiz vídeo e identifiquei o autor dos insultos. Me espanta que é um pai de duas meninas. Adulto. Ele deveria ser esclarecido e respeitoso”.

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 O que me intriga mesmo é: como isso ainda existe?

Estamos no século 21. Esse tipo de ação é crime, além disso é completamente desnecessário e sem sentido. Temos leis e clubes que colocam frases apoiando mulher em estádios, mas cadê a justiça? Quando vamos poder ir tranquilas aos estádios? Quando esse tipo de violência vai acabar?

O assédio acaba quando as leis são cumpridas e quando a população ao redor não deixa uma mulher passar por humilhações, agressões, xingamentos e desrespeito. É preciso que os criminosos sejam punidos e que não pisem mais nos estádios brasileiros.

As mulheres também gostam de futebol, na verdade, não estamos lá por querer homens por perto, queremos torcer em paz e comemorar como todo mundo. Nós temos direitos. Direito de estar onde a gente quiser, vestidas como a gente quiser e fazendo o que a gente quiser. Respeito é bom, e todo mundo gosta.