Home Futebol PAPO TÁTICO: River Plate de Marcelo Gallardo deve servir de inspiração para times brasileiros; entenda

PAPO TÁTICO: River Plate de Marcelo Gallardo deve servir de inspiração para times brasileiros; entenda

A edição de 2018 da Copa Libertadores da América entrou para a história por todo o esforço que a Conmebol fez para estragar a competição. Os erros administrativos, a utilização de dois pesos e duas medidas para problemas semelhantes e a total incapacidade de se fazer a final do torneio mais importante da América do Sul dentro do continente. Mas essa edição também entra para a história do futebol por conta do belíssimo futebol praticado pelo River Plate de Marcelo Gallardo. Os “Millonarios” foram superiores a todos os seus adversários na competição sul-americana e ainda nos proporcionaram grandes momentos nessa Libertadores. Mesmo com toda as (lamentáveis) atitudes do treinador no jogo das semifinais. Não é por acaso que este que escreve acredita que nossos clubes devem se inspirar nos conceitos de Gallardo. 

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Reprodução / Facebook / Club Atlético River Plate

Antes de chegar na final da Libertadores, o River Plate passou por Flamengo, Emelec, Santa Fe, Racing, Independiente e Grêmio. E já era possível perceber o estilo de jogo dos comandados de Marcelo Gallardo desde a primeira rodada. Com muito trabalho tático e de compreensão dos seus jogadores, o treinador fez sua equipe jogar no tradicional e argentino 4-3-1-2, no 4-1-4-1, no 4-4-2 e até mesmo com uma linha de cinco na frente do excelente goleiro Armani. Tudo de acordo com o adversário. Na decisão em Madrid diante do eterno rival Boca Juniors, Gallardo optou pela entrada de Ponzio no lugar de Borré (suspenso) e arrumou sua equipe no 4-2-3-1 com a variação para o 4-1-4-1 com a subida de um dos volantes. Apesar do jogo nervoso e da desvantagem na primeira etapa, o River Plate manteve sua estrutura e não se desmanchou após o gol de Benedetto.

PUBLICIDADE

River Plate jogando num 4-2-3-1 com a entrada de Ponzio no lugar de Borré. Mas as variações táticas do time de Marcelo Gallardo foram aparecendo durante todo o jogo na Espanha. Foto: Reprodução / FOX Sports Brasil.

A proposta de jogo de Marcelo Gallardo é mais simples do que parece e vai de encontro ao futebol jogado aqui no Brasil. Ao invés do chutão e das bolas levantadas na área, jogo apoiado com os atletas próximos e bem posicionados de modo a abrir o campo e aproveitar os espaços na defesa adversária. Ao invés dos já tradicionais “chuveirinhos”, as jogadas de linha de fundo buscando Lucas Pratto e Pity Martínez deram o tom do River Plate nessa Copa Libertadores da América. E isso sem falar com a saída rápida e intensa, porém paciente para encontrar o momento certo de atacar com a bola no chão e a participação de todos, inclusive dos zagueiros Maidana e Pinola nesse processo. Assim que o espaço é encontrado (geralmente pelos lados do campo), o time parte em bloco em busca do gol. Intensidade e organização.

O time de Marcelo Gallardo ataca em bloco e com os jogadores próximos uns dos outros. Há opção de passe e amplitude nas jogadas de linha de fundo, principalmente pelo lado direito de ataque. Foto: Reprodução / FOX Sports Brasil.

Marcelo Gallardo ainda tem a possibilidade de mudar o esquema tático do River Plate durante os jogos. Já com o colombiano Juan Quintero em campo, o time se reorganizou numa espécie de 4-2-3-1 com uma particularidade. A imagem abaixo mostra o uruguaio Mayada ocupando a lateral-direita e jogando mais por dentro quando a bola está do outro lado. Vale lembrar que o Boca Juniors estava com um jogador a menos, já que Wilmar Barrios havia sido expulso no primeiro tempo da prorrogação. Mas a dinâmica é essa. Bola do lado esquerdo, o lateral-direito vem mais para dentro para gerar opção de passe e superioridade numérica no meio-campo. Enquanto isso, o mesmo Quintero abria o jogo e prendia o lateral-esquerdo adversário. E o River Plate seguia jogando e tocando a bola para encontrar o melhor momento de chegar ao gol de Andrada.

PUBLICIDADE

Dentro de cada variação tática existem os conceitos bem trabalhados de Marcelo Gallardo. Quando a bola está de um lado, o lateral oposto joga mais por dentro para gerar superioridade numérica. Foto: Reprodução / FOX Sports Brasil.

A inspiração para os times brasileiros pode ser notada no lance que gerou o gol de Quintero. O Boca Juniors se fechava numa espécie de 4-4-1 na frente da sua área enquanto os jogadores do River tentavam ocupar o espaço entre as linhas xeneizes. Bastou que o camisa 7 Pavón não fechasse seu setor para que Quintero receber a bola, ajeitar o corpo e acertar o ângulo do goleiro Andrada. Um golaço com a marca de Marcelo Gallardo que roda a sua equipe, muda de esquema tático durante as partidas e deixa bem clara a importância de cada um dentro do seu sistema de jogo. E a cereja do bolo seria o gol de Pity Martínez já nos acréscimos da prorrogação com um Santiago Bernabéu em festa. Apesar dos esforços da Conmebol para estragar a Libertadores, o melhor time acabou se sagrando campeão do torneio. Mesmo fora do continente sul-americano.

Pavón não fecha seu setor e Quintero tem tempo de receber e acertar o ângulo de Andrada. O River Plate de Marcelo Gallardo joga procurando os espaços vazios e tem paciência para encontrá-los. Foto: Reprodução / FOX Sports Brasil.

Difícil puxar pela cabeça outra equipe da América do Sul que jogue como o River Plate de Marcelo Gallardo. O time é intenso, veloz, ágil nas suas transições e quase letal nos contra-ataques. É óbvio que nem tudo é perfeito. A própria final da Libertadores da América mostrou alguns dos problemas do time como as falhas na cobertura dos laterais e uma certa indecisão da defesa. Mas tudo era compensado com uma força mental imensa. Buscar uma virada numa final continental diante do maior rival sem se desmanchar taticamente é tarefa que poucos podem cumprir. Ainda mais num momento em que se questiona o futebol jogado por essas bandas após mais uma Copa do Mundo em que nenhuma seleção do continente passou das quartas de final. Não é por acaso que o treinador é apontado como forte favorito para assumir a Seleção Argentina.

Em tempo: se inspirar nos “Millonarios” é dever de todos os times brasileiros. Ainda mais quando o campeonato nacional ficou marcado pelas bolas longas, pelas ligações diretas e pelos “chuveirinhos”. O River Plate de Marcelo Gallardo surge justamente como uma alternativa e um resgate do bom futebol jogado por aqui.

LEIA MAIS:

PUBLICIDADE

Boca x River: assista aos melhores momentos da decisão da Libertadores

Matías Biscay enaltece profissionalismo do grupo do River Plate campeão

Veja como a imprensa mundial noticiou a final da Libertadores 2018